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Arte sacra

NOSSA SENHORA DO Ó - GOA - RARA ESCULTURA EM MARFIM REPRESENTANDO A VIRGEM GESTANDO. Esculpida para proteção de gestante. Goa, colonia portuguesa na india, sec. XVII. 6 cm de altura NOTA: Diz-se que no Brasil colonial e imperial as mulheres toleravam os filhos adulterinos de seus maridos pelo medo do parto. De fato, a mortalidade era muito elevada e o pavor da morte nessas circunstancias assombrava a mulher desde a constatação da gravidez até a fim do período de resguardo. Não é a toa que a própria Imperatriz Leopoldina foi vítima de um aborto cujas complicações lhe foram fatais. Segundo a historiadora MAry Del Priori: Vigiada por uma imagem de Nossa Senhora do Ó ou do Bom Parto, agachada ou sentada a mulher esperava os sinais do parto. Entre goles de cachaça e de caldos de galinha com canela, a parturiente era confortada devendo mostrar-se rija e varonil para enfrentar as dores que se seguiriam. O ventre dilatado pela gravidez, cobria-se de relíquias e cordões coloridos, capazes, na mentalidade da época, de assegurar um parto tranquilo. No joelho esquerdo da parturiente, era amarrada uma pedra chamada de Mombaza, encontrada em Minas Gerais, cuja função mágico-religiosa era a de atrair a criança para fora da barriga da mãe. Preces endereçadas a são Mamede, são Francisco e santa Margarida eram murmuradas, baixinho, a fim de afugentar qualquer perigo que pusesse em risco, a vida do nascituro. A criança vinha ao mundo entre preces, gritos de dor e alegria. Os primeiros cuidados com o recém-nascido eram antigos. Seu corpinho molengo era banhado em vinho ou cachaça, limpo com manteiga e outras substâncias oleaginosas, e, firmemente enfaixado. A cabeça era modelada e o umbigo, recebia óleo de rícino com pimenta com fins de cicatrização. Coroando os primeiros cuidados, era fundamental o uso da estopada: cataplasma confeccionado com a mistura de um ovo com vinho, aplicado a uma estopa que por sua vez era presa por um lencinho à cabecinha do pequeno para fortificá-la. As mães indígenas preferiam banhar-se no rio com seus rebentos. As africanas costumavam esmagar o narizinho de seus pequenos, dando-lhes uma forma que lhes parecia mais estética. Pouco a pouco, os manuais de medicina ensinavam às mães a envolver seus filhinhos em mantilhas suaves e folgadas, em vez de apertá-lo em faixas capazes de estropiar os tenros membros. Sugeriam, ainda, que se substituíssem as massagens com óleos por água e sabão e que a estopada fosse substituída por barretinho ou touca de pano branco, como aconselhava Francisco de Mello Franco, médico mineiro do Setecentos. Os médicos já davam grande ênfase ao asseio corporal, mas as mães, por sua vez, cuidavam para preservar a função simbólica da sujeira do corpo infantil como uma forma de proteção contra o mau olhado. Partes como o umbigo ou as unhas, que poderiam ser utilizados para bruxarias contra os filhinhos eram cuidadosamente enterradas no quintal.Os médicos vigiavam cuidadosamente o cardápio servido à pequena infância. A ênfase no leite era total, não só por ser mais saudável, mas porque para qualquer doença é extremado remédio a mama da mãe, como já explicava Alexandre de Gusmão em 1685. As mães, para garantir o leite, portavam, por sua vez, contas de leite: contas de louça em branco leitoso que por aproximação garantiam a fartura do leite de peito. Tudo indica que o hábito indígena do aleitamento até tarde tenha incentivado a amamentação na Colônia. Além do leite, era comum darem-se as crianças alimentos engrossados com farinha, o que segundo Melo Franco causava azedumes, lombrigas, obstruções do mesentério, opilação do estômago, inchações do ventre inferior, ventosidades, numa palavra, todos os sintomas convulsivos. A lista devia bastar para que se desencorajasse essa dieta considerada inadequada para as crianças. Mas as crianças eram cevadas desde cedo com toda a sorte de papinhas, por uma única razão: as mães queriam fortificar logo seus pequeninos, evitando o risco de perdê-los nos primeiros meses. A passagem da alimentação mista para a semissólida operava-se com infinita precaução. A técnica de pré-digestão de alimentos embebidos na saliva dos adultos significava muito mais um cuidado, do que falta de higiene. Na tradição africana, até os três anos, as crianças comiam pirão de leite, de manhã, farinha seca com açúcar bruto; leite com jerimum ou escaldado de carne ao almoço. O prato de resistência era o feijão cozido, servido com farinha e machucado à mão. Leite de cabra era considerado poderoso fortificante infantil. Faltando leite à mãe, alugava-se uma ama de leite negra (isso no caso das famílias de posses, e já no início do século XIX) ou entravam em cena as papinhas mais variadas. De acordo com a economia caseira, o bebê recebia papa de farinha de mandioca, leite de gado e açúcar, papa de goma, araruta, banana machucada, creme de arroz e fubá de milho. Dava-se mesmo leite de coco, destemperado na água com açúcar. A preocupação materna era a de arredondar a criança; o critério não era alimentá-la, mas dar-lhe de comer! Contudo, os jovens intestinos ainda preguiçosos e os diminutos estômagos despreparados para receber tantos alimentos grosseiros incentivavam a gastroenterite a cobrar alta porcentagem de pequenas vidas no primeiro ano. É bom não esquecer que estas pequenas vidas estavam ligadas estreitamente à evolução do sistema econômico. A criança era a vítima privilegiada das crises alimentares, das tensões sociais, das epidemias. As diferenças sociais acentuavam, por sua vez, as chances entre ricos e pobres; os últimos, sem dúvida, mais vulneráveis e adoentados.

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Tipo: Arte sacra

NOSSA SENHORA DO Ó - GOA - RARA ESCULTURA EM MARFIM REPRESENTANDO A VIRGEM GESTANDO. Esculpida para proteção de gestante. Goa, colonia portuguesa na india, sec. XVII. 6 cm de altura NOTA: Diz-se que no Brasil colonial e imperial as mulheres toleravam os filhos adulterinos de seus maridos pelo medo do parto. De fato, a mortalidade era muito elevada e o pavor da morte nessas circunstancias assombrava a mulher desde a constatação da gravidez até a fim do período de resguardo. Não é a toa que a própria Imperatriz Leopoldina foi vítima de um aborto cujas complicações lhe foram fatais. Segundo a historiadora MAry Del Priori: Vigiada por uma imagem de Nossa Senhora do Ó ou do Bom Parto, agachada ou sentada a mulher esperava os sinais do parto. Entre goles de cachaça e de caldos de galinha com canela, a parturiente era confortada devendo mostrar-se rija e varonil para enfrentar as dores que se seguiriam. O ventre dilatado pela gravidez, cobria-se de relíquias e cordões coloridos, capazes, na mentalidade da época, de assegurar um parto tranquilo. No joelho esquerdo da parturiente, era amarrada uma pedra chamada de Mombaza, encontrada em Minas Gerais, cuja função mágico-religiosa era a de atrair a criança para fora da barriga da mãe. Preces endereçadas a são Mamede, são Francisco e santa Margarida eram murmuradas, baixinho, a fim de afugentar qualquer perigo que pusesse em risco, a vida do nascituro. A criança vinha ao mundo entre preces, gritos de dor e alegria. Os primeiros cuidados com o recém-nascido eram antigos. Seu corpinho molengo era banhado em vinho ou cachaça, limpo com manteiga e outras substâncias oleaginosas, e, firmemente enfaixado. A cabeça era modelada e o umbigo, recebia óleo de rícino com pimenta com fins de cicatrização. Coroando os primeiros cuidados, era fundamental o uso da estopada: cataplasma confeccionado com a mistura de um ovo com vinho, aplicado a uma estopa que por sua vez era presa por um lencinho à cabecinha do pequeno para fortificá-la. As mães indígenas preferiam banhar-se no rio com seus rebentos. As africanas costumavam esmagar o narizinho de seus pequenos, dando-lhes uma forma que lhes parecia mais estética. Pouco a pouco, os manuais de medicina ensinavam às mães a envolver seus filhinhos em mantilhas suaves e folgadas, em vez de apertá-lo em faixas capazes de estropiar os tenros membros. Sugeriam, ainda, que se substituíssem as massagens com óleos por água e sabão e que a estopada fosse substituída por barretinho ou touca de pano branco, como aconselhava Francisco de Mello Franco, médico mineiro do Setecentos. Os médicos já davam grande ênfase ao asseio corporal, mas as mães, por sua vez, cuidavam para preservar a função simbólica da sujeira do corpo infantil como uma forma de proteção contra o mau olhado. Partes como o umbigo ou as unhas, que poderiam ser utilizados para bruxarias contra os filhinhos eram cuidadosamente enterradas no quintal.Os médicos vigiavam cuidadosamente o cardápio servido à pequena infância. A ênfase no leite era total, não só por ser mais saudável, mas porque para qualquer doença é extremado remédio a mama da mãe, como já explicava Alexandre de Gusmão em 1685. As mães, para garantir o leite, portavam, por sua vez, contas de leite: contas de louça em branco leitoso que por aproximação garantiam a fartura do leite de peito. Tudo indica que o hábito indígena do aleitamento até tarde tenha incentivado a amamentação na Colônia. Além do leite, era comum darem-se as crianças alimentos engrossados com farinha, o que segundo Melo Franco causava azedumes, lombrigas, obstruções do mesentério, opilação do estômago, inchações do ventre inferior, ventosidades, numa palavra, todos os sintomas convulsivos. A lista devia bastar para que se desencorajasse essa dieta considerada inadequada para as crianças. Mas as crianças eram cevadas desde cedo com toda a sorte de papinhas, por uma única razão: as mães queriam fortificar logo seus pequeninos, evitando o risco de perdê-los nos primeiros meses. A passagem da alimentação mista para a semissólida operava-se com infinita precaução. A técnica de pré-digestão de alimentos embebidos na saliva dos adultos significava muito mais um cuidado, do que falta de higiene. Na tradição africana, até os três anos, as crianças comiam pirão de leite, de manhã, farinha seca com açúcar bruto; leite com jerimum ou escaldado de carne ao almoço. O prato de resistência era o feijão cozido, servido com farinha e machucado à mão. Leite de cabra era considerado poderoso fortificante infantil. Faltando leite à mãe, alugava-se uma ama de leite negra (isso no caso das famílias de posses, e já no início do século XIX) ou entravam em cena as papinhas mais variadas. De acordo com a economia caseira, o bebê recebia papa de farinha de mandioca, leite de gado e açúcar, papa de goma, araruta, banana machucada, creme de arroz e fubá de milho. Dava-se mesmo leite de coco, destemperado na água com açúcar. A preocupação materna era a de arredondar a criança; o critério não era alimentá-la, mas dar-lhe de comer! Contudo, os jovens intestinos ainda preguiçosos e os diminutos estômagos despreparados para receber tantos alimentos grosseiros incentivavam a gastroenterite a cobrar alta porcentagem de pequenas vidas no primeiro ano. É bom não esquecer que estas pequenas vidas estavam ligadas estreitamente à evolução do sistema econômico. A criança era a vítima privilegiada das crises alimentares, das tensões sociais, das epidemias. As diferenças sociais acentuavam, por sua vez, as chances entre ricos e pobres; os últimos, sem dúvida, mais vulneráveis e adoentados.

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Lance

    • Lote Vendido
Termos e Condições
Condições de Pagamento
Frete e Envio
  • TERMOS E CONDIÇÕES

    1ª. As peças que compõem o presente LEILÃO, foram cuidadosamente examinadas pelos organizadores que, solidários com os proprietários das mesmas, se responsabilizam por suas descrições.

    2ª. Em caso eventual de engano na autenticidade de peças, comprovado por peritos idôneos, e mediante laudo assinado, ficará desfeita a venda, desde que a reclamação seja feita em até 5 dias após o término do leilão. Findo o prazo, não será mais admitidas quaisquer reclamação, considerando-se definitiva a venda.

    3ª. As peças estrangeiras serão sempre vendidas como Atribuídas.

    4ª. O Leiloeiro não é proprietário dos lotes, mas o faz em nome de terceiros, que são responsáveis pela licitude e desembaraço dos mesmos.

    5ª. Elaborou-se com esmero o catálogo, cujos lotes se acham descritos de modo objetivo. As peças serão vendidas NO ESTADO em que foram recebidas e expostas. Descrição de estado ou vícios decorrentes do uso será descrito dentro do possível, mas sem obrigação. Pelo que se solicita aos interessados ou seus peritos, prévio e detalhado exame até o dia do pregão. Depois da venda realizada não serão aceitas reclamações quanto ao estado das mesmas nem servirá de alegação para descumprir compromisso firmado.

    6ª. Os leilões obedecem rigorosamente à ordem do catalogo.

    7ª. Ofertas por escrito podem ser feitas antes dos leilões, ou autorizar a lançar em seu nome; o que será feito por funcionário autorizado.

    8ª. Os Organizadores colocarão a título de CORTESIA, de forma gratuita e confidencial, serviço de arrematação pelo telefone e Internet, sem que isto o obrigue legalmente perante falhas de terceiros.

    8.1. LANCES PELA INTERNET: O arrematante poderá efetuar lances automáticos, de tal maneira que, se outro arrematante cobrir sua oferta, o sistema automaticamente gerará um novo lance para aquele arrematante, acrescido do incremento mínimo, até o limite máximo estabelecido pelo arrematante. Os lances automáticos ficarão registrados no sistema com a data em que forem feitos. Os lances ofertados são IRREVOGÁVEIS e IRRETRATÁVEIS. O arrematante é responsável por todos os lances feitos em seu nome, pelo que os lances não podem ser anulados e/ou cancelados em nenhuma hipótese.

    8.2. Em caso de empate entre arrematantes que efetivaram lances no mesmo lote e de mesmo valor, prevalecerá vencedor aquele que lançou primeiro (data e hora do registro do lance no site), devendo ser considerado inclusive que o lance automático fica registrado na data em que foi feito. Para desempate, o lance automático prevalecerá sobre o lance manual.

    9ª. O Organizador se reserva o direito de não aceitar lances de licitante com obrigações pendentes.

    10ª. Adquiridas as peças e assinado pelo arrematante o compromisso de compra, NÃO MAIS SERÃO ADMITIDAS DESISTÊNCIAS sob qualquer alegação.

    11ª. O arremate será sempre em moeda nacional. A progressão dos lances, nunca inferior a 5% do anterior, e sempre em múltiplo de dez. Outro procedimento será sempre por licença do Leiloeiro; o que não cria novação.

    12ª. Em caso de litígio prevalece a palavra do Leiloeiro.

    13ª. As peças adquiridas deverão ser pagas e retiradas IMPRETERIVELMENTE em até 48 horas após o término do leilão, e serão acrescidas da comissão do Leiloeiro, (5%). Não sendo obedecido o prazo previsto, o Leiloeiro poderá dar por desfeita a venda e, por via de EXECUÇÃO JUDICIAL, cobrar sua comissão e a dos organizadores.

    14ª. As despesas com as remessas dos lotes adquiridos, caso estes não possam ser retirados, serão de inteira responsabilidade dos arrematantes. O cálculo de frete, serviços de embalagem e despacho das mercadorias deverão ser considerados como Cortesia e serão efetuados pelas Galerias e/ou Organizadores mediante prévia indicação da empresa responsável pelo transporte e respectivo pagamento dos custos de envio.

    15ª. Qualquer litígio referente ao presente leilão está subordinado à legislação brasileira e a jurisdição dos tribunais da cidade de Campinas - SP. Os casos omissos regem-se pela legislação pertinente, e em especial pelo Decreto 21.981, de 19 de outubro de 1932, Capítulo III, Arts. 19 a 43, com as alterações introduzidas pelo Decreto 22.427., de 1º. de fevereiro de 1933.

  • CONDIÇÕES DE PAGAMENTO

    A vista com acréscimo da taxa do leiloeiro de 5%.
    Através de depósito ou transferência bancária em conta a ser enviada por e-mail após o último dia do leilão.
    Não aceitamos cartões de crédito ou débito.
    O pagamento deverá ser efetuado até 72 horas após o término do leilão sob risco da venda ser desfeita.

  • FRETE E ENVIO

    As despesas com retirada e remessa dos lotes, são de responsabilidade dos arrematantes. Veja nas Condições de Venda do Leilão.
    Despachamos para todos os estados. A titulo de cortesia a casa poderá embrulhar as peças arrematadas e providenciar transportadora adequada