Peças para o próximo leilão

215 Itens encontrados

Página:

  • RARO RELÓGIO DE BOLSO DITO " FICO" EM METAL ESPESSURADO A PRATA, COMEMORATIVO DO CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL EM 1922. MOSTRADOR DECORADO COM BRASÃO DA REPÚBLICA BRASILEIRA. TAMPA POSSUI REPRESENTAÇÃO DO GRITO DO IPIRANGA EM RELEVO COM A FRASE INDEPENDÊNCIA OU MORTE. NA TAMPA INTERMEDIÁRIA BUSTO DE JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA COM AS INSCRIÇÕES GLÓRIA AOS FUNDADORES DA INDEPENDÊNCIA. LATERALMENTE POSSUI INSCRIÇÕES COM AS DATAS 24 DE FEVEREIRO DE 1821 (DIA DO FICO), 25 DE MARÇO DE 1825 (PROMULGAÇÃO DA PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL, 13 DE MAIO DE 1888 (LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS) E 15 DE NOVEMBRO DE 1889 (PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA). CIRCUNDANDO O MOSTRADOR GUIRLANDA DE LOUROS COM A INSCRIÇÃO SETE DE SETEMBRO 1822-1922 (ALUSIVA AO CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA). MANUFATURA CHRONOMETRE PRIMA (SUIÇA). 5 CM DE DIÂMETRO.MECANISMO FUNCIONANDO. NOTA: A expressão Dia do Fico, deve-se a uma frase célebre de dom Pedro, então príncipe-regente do Brasil, que era na época um Reino Unido a Portugal e Algarves:Em 9 de janeiro de 1822, D. Pedro I recebeu uma carta da corte de Lisboa, exigindo seu retorno para Portugal. Há tempos os portugueses insistiam nesta ideia, pois pretendiam recolonizar o Brasil e a presença de D. Pedro impedia este ideal. Porém, D. Pedro respondeu negativamente aos chamados de Portugal e proclamou : "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".
  • PRINCESA ISABEL E CONDE DEU - GRANDES BOTÕES DA FARDA DE GALAR DA GUARDA DE ARCHEIROS EM SERVIÇO NO CASAMENTO DA PRINCESA ISABEL E CONDE DEU. OS ARCHEIROS FORMARAM ALAS QUE ACOMPANHARAM AS CARRUAGENS QUE CONDUZIAM A FAMÍLIA IMPERIAL E OS NOIVOS. OS BOTÕES TEM MARCAS DO PRESTIGIADO FABRICANTE INGLÊS FIRMIN & SONS, FORNECEDOR DE BOTÕES, EMBLEMAS, ACESSÓRIOS E UNIFORMES PARA CERIMONIAS MILITARES FUNDADA EM 1655, É A MAIS ANTIGA EMPRESA DO REINO ÚNIDO (365 ANOS) E UMA DAS 500 MAIS ANTIGAS DO MUNDO SERVINDO A DEZESSEIS MONARCAS BRITÂNICOS. SÃO FEITOS EM METAL ESPESSURADO A PRATA. DECORADOS COM A COROA IMPERIAL BRASILEIRA SOB OS BRASÕES DA CASA IMPERIAL DO BRASIL E BRASÃO DA CASA DE ORLEANS (DA QUAL PROVÉM O CONDE DEU). VIDE IMAGEM DA CERIMÔNIA DE CASAMENTO DA PRINCESA ISABEL E CONDE DEU  E DO CORTEJO QUE SE FORMOU NO PAÇO IMPERIAL NOS CRÉDITOS EXTRAS DESSE LOTE. BOTÕES IDÊNTICOS A ESSES FAZEM PARTE DO ACERVO DO MUSEU IMPERIAL DE PETROPOLIS. 2,5 CM DE DIAMETRO.NOTA: O CASAMENTO DA PRINCESA ISABEL E DO CONDE DEU - Nos dias que antecederam a cerimônia, os jantares se sucederam em São Cristóvão. Ministros e cortesãos eram apresentados aos dois príncipes. Houve visitas ao Arsenal e quartéis, com exibições de artilharia e fuzilaria. A partir do dia 12 de outubro de 1864, os jornais começaram a publicar o programa do dia 15: desfile de carruagens saindo de São Cristóvão, seguida do regimento de cavalaria. A partir da Cidade Nova, a guarda de arqueiros faria alas, às carruagens da família imperial. No Paço, um mestre-sala encaminharia os convidados aos seus respectivos lugares na Capela Imperial. Sobre uma almofada bordada, um fidalgo levaria as condecorações que o Imperador daria ao genro. Outro, os anéis nupciais e dois cartões com as palavras que os jovens teriam que repetir diante do arcebispo. E um terceiro, os autos do casamento. Ao fundo, a harmonia de uma das composições de Haendel. Isabel vestiria filó branco, véu de rendas de Bruxelas, grinalda de flores de laranjeiras e ramos das mesmas apanhando o vestido do lado esquerdo. Gastão, o uniforme de marechal, com a comenda da Ordem do Mérito Militar de Espanha, a comenda da Ordem da Casa de Saxe e a medalha da campanha do Marrocos. Depois da troca de alianças, ao som de harpas, os guarda-tapeçarias estenderiam no estrado do altar mor uma rica colcha bordada a ouro e os noivos ajoelhariam sobre almofadas para receber as bênçãos. A seguir, Gastão seria condecorado e receberia um ósculo paternal do Imperador, numa demonstração pública de que entrara na imperial família. Seguir-se-ia um Te Deum Laudamus. Na saída, uma salva de artilharia postada no largo do Paço e correspondida pelas fortalezas e embarcações colocadas em semicírculo na baia, anunciaria aos moradores da cidade que a cerimônia estava concluída. Desfile militar e recepção no Paço, encerrariam uma parte da festa. Ela graciosa e sorridente e ele, digno, segundo os jornais. Nos jornais, também, começaram a chover os pedidos vindos da penitenciária desta corte. Assinados pela voz de um infeliz ou pelas vítimas do infortúnio, que gemem no cárcere, muitos chefes de numerosa família pediam perdão por seus crimes: Graça! Graça!. Nas freguesias, moradores se organizavam para festejar o feliz consórcio. Sociedades ou clubes pediam aos associados que ornassem e iluminassem a frente de suas casas nos dias 15,16 e 17. Aos negociantes e droguistas, a Classe Caixeral pedia que fechassem as portas. Assim, o povo iria para as ruas aclamar os nubentes. Comissões as mais diversas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Imperial Sociedade de Beneficência, da Real Sociedade Portuguesa Amante da Monarquia, do Núcleo Literário Fluminense, Veteranos da Independência da Bahia, etc., se organizavam para ir cumprimentar os noivos. Publicavam-se as listas de convidados: quem ia e quem não ia. E não faltava quem usasse o Jornal do Comércio para cobrar: Deixarão de ser convidados para o casamento imperial os Senhores Primeiros Cadetes?!!. A tradição nas festas brasileiras eram as luminárias. De onde vinha? Do tempo em que o Brasil era colônia. Estavam assinaladas nas Cartas Régias, desde o século XVI. De início, eram panelinhas de barro com azeite de mamona. No século XIX, já se beneficiavam da iluminação à gás. No casamento dos jovens príncipes não podiam faltar e foram previstas em toda a parte: no Largo do Paço, na Rua Direita, na Praça da Constituição, no Campo da Aclamação. Na Rua dos Ourives, esquina da Rua da Assembléia, enfeitando a renomada Farmácia do Carmo, a iluminação seria elétrica. Magnífico! Junto com as luminárias, inúmeros coretos com músicos, arcos festivos e representações gratuitas no Teatro do Ginásio. Retratos dos noivos eram vendidos nas livrarias. Na fábrica de gás, fundada pelo barão de Mauá, um coreto para quinhentas pessoas foi montado. Candelabros de vidros prismáticos encantavam o ambiente. O ponto alto da festa popular seria a ascensão do aeronauta Wells, num balão com 80 pés de altura que levava pintadas as armas brasileiras e em grandes dísticos os nomes da Princesa Isabel e do Conde d´Eu. No momento em que o préstito passasse e ao som do hino nacional, o balão se elevaria aos céus. Girândolas de foguetes encheriam os ares. Mas os jornais do dia seguinte mostraram que alguns itens planejados não foram bem sucedidos. O aeronauta não conseguiu encher o balão, que fez um voo curto. Parece que a decoração dos arcos também não agradou a todos. Mas o que de errado aconteceu parece não ter sido culpa dos artistas brasileiros na verdade, os culpados foram o engenheiro francês Auguste Andreosy e o pintor Giacomo Micheli.
  • DOM PEDRO II IMPERADOR DO BRASIL  PLACA MEMORIAL  EM METAL PATINADO EM OURO E NEGRO COM EFIGIE DO IMPERADOR DOM PEDRO II E A LEGENDA: DOM PEDRO SEGUNDO IMPERADOR DO BRASIL (1840-1889). BRASIL, FINAL DO SEC. XIX OU INICIO DO XX. 39 CM DE DIAMETRO
  • IMPÉRIO DO BRASIL - D. PEDRO II MEDALHA EM BRONZE DO LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DO NOVO HOSPITAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA, EM 1840. TRAZ NO VERSO O BUSTO DO IMPERADOR NA ÉPOCA DA PROCLAMAÇÃO DE SUA MAIORIDADE E NA ORLA A INSCRIÇÃO D. PEDRO II IMP. CONST. E DEF. PERP. DO BRAS. (DOM PEDRO II IMPERADOR CONSTITUCIONAL E DEFENSOR PERPÉTUO DO BRASIL). NO ANVERSO A FACHADA DO HOSPITAL E A INSCRIÇÃO ALUSIVA. PEÇA ASSINADA PELO GRAVADOR AZEVEDO G. RARA MEDALHA, CATALOGADA POR JULIUS MEILLI E VISCONDESSA DE CAVALCANTI (CATALOGO DAS MEDALHAS BRASILEIRAS N. 128, PAG 70). EM BRONZE, COM 5 CM DE DIÂMETRO.NOTA: A 23 de julho de 1840, por meio de uma medida constitucional, dom Pedro de Alcântara, com 14 anos e sete meses de idade, teve sua maioridade antecipada. Foi coroado como dom Pedro 2º e assumiu o trono e o governo imperial. Segundo alguns historiadores, a antecipação da maioridade foi um golpe de Estado. O objetivo principal era o de pacificar o país violentamente sacudido pro revoltas como a Guerra dos Farrapos e a Balaiada na Bahia. Como antecipação a esse importante passo foi preciso que o futuro Imperador menino se fizesse presente em meio a sociedade. Esta inauguração no mês em que seria votada a maioridade antecipada não foi portanto por acaso.
  • CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA DO BRASIL - MEDALHA ESPESSURADA A PRATA ACONDICIONADA EM SEU ESTOJO ORIGINAL COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA DO BRASIL EM 1922. MEDALHA CUNHADA PARA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA REALIZADA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO DE 1922 A 1923. ACONDICIONADA EM SEU ESTOJO ORIGINAL CONTENDO INSCRIÇÕES BRINDE DO ARTISTA ADR.HUYBERS BRUXELAS. A MEDALHA TEM NO ANVERSO CENA DO GRITO DO IPIRANGA COM INSCRIÇÃO INDEPENDÊNCIA OU MORTE. NO VERSO HERMA DE JOSÉ BONIFÁCIO E INSCRIÇÕES GLORIA AOS FUNDADORES DA INDEPENDENCIA, JOSÉ BONIFÁCIO E 1822 7 DE SETEMBRO 1922. TAMBEM AS INSCRIÇOES HOMENAGEM DO ARTISTA A SEBASTIÃO VIEIRA DE ALMEIDA. 53 MM DE DIAMETRONOTA: A Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência do Brasil (1822-1922) foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1922 e se prolongou até o dia 24 de julho do ano seguinte. Realizada no mesmo ano de outros eventos relevantes para a história brasileira, como a Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Revolta do Forte de Copacabana, a Exposição do Centenário vem despertando crescente interesse da historiografia preocupada com o tema da identidade nacional na década de 1920. A celebração do Centenário da Independência foi reclamada com bastante antecedência. Um exemplo relevante dessa vigilância comemorativa foi dado pela Revista do Brasil, fundada em janeiro de 1916. Logo em seu primeiro número, a revista, com razoável antecedência de seis anos, pregava a necessidade de se comemorar festivamente esse primeiro marco glorioso da existência nacional. A realização de uma Exposição Universal no Rio de Janeiro, então capital federal, destacou-se como a mais ambiciosa das atividades comemorativas então programadas. Desde a primeira exposição internacional em Londres (1851), cujo símbolo foi o Palácio de Cristal, as chamadas vitrines do progresso sempre apresentaram alguns aspectos em comum, entre os quais se destacavam, entre outros, as motivações comerciais, o afluxo de divisas e turistas, o impacto sobre a infraestrutura urbana, e a difusão de valores e de padrões de conduta. O mais importante, e ainda hoje é assim, era a afirmação do prestígio nacional, representado pelos pavilhões de cada país que constituíam a ossatura das exposições.A participação brasileira nessas vitrines do progresso se iniciou de maneira muito discreta na Exposição Internacional de Londres de 1862. Antes disso, em 1861, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) havia organizado uma Exposição Nacional no prédio da Escola Politécnica, no largo de São Francisco, no Rio de Janeiro. De maior porte foi a Exposição Nacional de 1908, em comemoração do Centenário da Abertura dos Portos brasileiros ao comércio internacional. Tendo como objetivo a preparação da participação brasileira na Exposição Internacional de Bruxelas (1910), o evento de 1908 visava igualmente a apresentar a nova capital saneada e urbanizada a partir das grandes reformas realizadas durante a gestão do prefeito Pereira Passos. Em junho de 1920, Ralph de Cobham, representante de um grupo de capitalistas estrangeiros no Brasil, sugeriu ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio a realização de uma exposição internacional de comércio e indústria para a comemoração do Centenário da Independência. Coube ao senador Paulo de Frontin, um mês depois, propor ao Congresso Nacional a emissão de cem mil contos para financiar o evento, provocando intenso debate sobre a disponibilidade de tão vultosos recursos em conjuntura de grave crise financeira. Pelo Decreto nº 4.175, de 11 de novembro de 1920, foi enfim determinada a realização da exposição dentro do programa de comemorações do Centenário. A regulamentação oficial das atividades comemorativas só ocorreu quase um ano depois, com o Decreto nº 15.066, de 24 de outubro de 1921, que previa, além da exposição, a realização de numerosas conferências e a publicação de dicionários, mapas e livros comemorativos.Coube ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, então chefiado pelo engenheiro João Pires do Rio, a organização da exposição, que deveria compreender as principais modalidades do trabalho no Brasil, relacionadas à lavoura, à pecuária, à pesca, à indústria extrativa e fabril, ao transporte marítimo, fluvial, terrestre e aéreo, aos serviços de comunicação telegráficos e postais, ao comércio, às ciências e às belas artes. Era prevista ainda a concessão de uma área contígua aos pavilhões nacionais para que governos ou industriais estrangeiros pudessem construir, por conta própria, pavilhões destinados à exibição de seus produtos.Para cumprir o objetivo de ser a expressão da vida econômica e social do Brasil em 1922, a parte nacional da exposição se comporia de 25 seções representativas das principais atividades do país: educação e ensino; instrumentos e processos gerais das letras, das ciências e das artes; material e processos gerais da mecânica; eletricidade; engenharia civil e meios de transporte; agricultura; horticultura e arboricultura; florestas e colheitas; indústria alimentar; indústrias extrativas de origem mineral e metalurgia; decoração e mobiliário dos edifícios públicos e das habitações; fios, tecidos e vestuários; indústria química; indústrias diversas; economia social; higiene e assistência; ensino prático, instituições econômicas e trabalho manual da mulher; comércio; economia geral; estatística; forças de terra e esportes. A seleção dos expositores seria feita por comissões julgadoras encarregadas de dar parecer sobre a escolha conveniente dos produtos expostos, bem como de avaliar a qualidade e a quantidade daqueles que deveriam ser admitidos na exposição. Estavam ainda previstas atividades paralelas, como a exibição de filmes sobre assuntos que se relacionassem com a produção nacional e as riquezas naturais do país, bem como a realização de conferências sobre temas econômicos.As obras de preparação da área da exposição mobilizaram a população carioca. A demolição do morro do Castelo, berço da cidade, para dar lugar à construção dos pavilhões e palácios nacionais e estrangeiros, provocou aceso debate entre os que consideravam o arrasamento um imperativo da modernidade, e aqueles que viam o desaparecimento da colina sagrada como um verdadeiro sacrilégio. Os gastos excessivos com um empreendimento tão custoso, especialmente em uma época de dificuldades financeiras, bem como a demora na construção dos prédios, muitos só concluídos após a inauguração da exposição, provocaram, de parte a parte, ataques contundentes e defesas inflamadas. De qualquer modo, é importante lembrar que a edificação de um espaço especialmente criado para a exposição tinha o intuito de revelar a capacidade do anfitrião de realizar empreendimentos excepcionais. De modo semelhante, para a Exposição de Saint Louis (EUA), em 1904, lagos foram aterrados e rios desviados.A Exposição do Centenário foi festivamente inaugurada na data magna, 7 de setembro de 1922. A seção nacional localizou-se na Misericórdia, entre o antigo Arsenal de Guerra e o novo mercado, estendendo-se em parte da área conquistada ao mar com o desmonte do morro do Castelo. Nesse local, concentraram-se oito pavilhões: do Comércio, Higiene e Festas; das Pequenas Indústrias; da Viação e Agricultura; da Caça e Pesca; da Administração; de Estatística, aos quais se somavam os palácios das Indústrias e dos Estados.Na avenida das Nações, que se estendia do antigo Arsenal até o palácio Monroe  onde funcionava o bureau de informações , alinharam-se os palácios de honra das representações estrangeiras. Treze países aí se fizeram representar: da América, Estados Unidos, Argentina e México; da Europa, Inglaterra, França, Itália, Portugal, Dinamarca, Suécia, Tchecoslováquia, Bélgica e Noruega; da Ásia, o Japão. Apenas quatro desses prédios resistiram ao tempo e à especulação imobiliária: o pavilhão da Administração (Museu da Imagem e do Som); o palácio da França (Academia Brasileira de Letras); o palácio das Indústrias (Museu Histórico Nacional); e o pavilhão de Estatística (órgão do Ministério da Saúde).Passadas as festas de inauguração, a exposição ficou aberta aos visitantes que, oriundos da capital e dos outros estados, acorreram em massa aos palácios e pavilhões, bem como ao alegre e movimentado parque de diversões. Os registros apontam para o mês de fevereiro de 1923, considerado fraco pelo calor que assolava a cidade, uma frequência de 175 mil visitantes, com piques de até 14 mil pessoas em um só dia.Primeira exposição a se realizar após a Grande Guerra, o grande desafio da Exposição do Centenário foi o de traduzir a vontade de renovação que então mobilizava o mundo. Se a ênfase nos mostruários dos palácios nacionais ainda recaiu sobre as riquezas naturais do país, o que deveria ser ressaltado, e efetivamente o foi, era a possibilidade de exploração desses recursos naturais. No século XX, quem dava as cartas era a ciência, expressa na confiabilidade dos dados estatísticos, nas maravilhas da química, nas luzes da eletricidade, na magia do rádio. A primeira transmissão de rádio no Brasil ocorreu justamente durante a inauguração da Exposição do Centenário, com o discurso do presidente Epitácio Pessoa.
  • O GOLPE REPUBLICANO NO BRASIL -  PARTIDA PARA O EXÍLIO DA FAMÍLIA IMPERIAL NO DIA 17 DE NOVEMBRO DE 1889, NO VAPOR ALAGOAS. GRAVURA PUBLICADA POR LAEMMERT EM 1890 EM GALERIA HISTÓRICA DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA. 43 X 21 CM., SEC XIX. NOTA: Todos permaneceram o dia 16 detidos no Paço, com soldados com baionetas e cavalarianos cercando o prédio. Ficou acertado que no dia seguinte, domingo, 17/11, por volta das 15 h, D. Pedro II e os demais embarcariam, tendo sido permitido a ele assistir de manhã à missa na Capela do Carmo, vizinha ao palácio. Mas, de madrugada, o Conde d´Eu foi inesperadamente despertado com a chegada do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet, acompanhado do brigadeiro José Simeão de Oliveira, que lhe comunicou que o governo provisório temia o derramamento de sangue na partida da família imperial, pois soubera que havia um grupo disposto a provocar atritos quando da saída do monarca.Acordado, o Imperador foi informado que deveria se vestir para embarcar. Surpreso e revoltado, disse "que não sairia como um negro fugido...". Mas, por volta das três da manhã, foi escoltado juntamente com a Imperatriz e toda a família, além de alguns amigos, para o Cais Pharoux, bem atrás do Paço Imperial, hoje Praça XV. Somente um coche negro puxado por dois cavalos estava à disposição, onde foram os imperadores e a princesa Isabel; os demais seguiram a pé. Uma lancha do Arsenal de Guerra, tripulada por quatro alunos da Escola Militar, aguardava-os, sendo transportados para o pequeno cruzador Parnaíba, apelidado de "gazela do mar", fundeado na Baía da Guanabara, próximo à Ilha Fiscal.Às 10 horas da manhã chegaram os três jovens príncipes, Pedro de 14 anos, Luiz de 11 anos, e Antônio de 8 anos, que se encontravam em Petrópolis, acompanhados pelo seu preceptor, o Barão de Ramiz Galvão, e do engenheiro André Rebouças, amigo da família imperial, que havia subido a serra especialmente para trazer os filhos da Redentora e do Conde D´eu. A bordo, profundamente abalada, estava a Imperatriz D. Thereza Christina, que muito chorava; não menos comovida estava a Princesa Isabel, mas aliviada com a chegada dos seus filhos.O segundo decreto assinado por Deodoro concedia ao Imperador deposto uma soma de dinheiro para sua viagem à Europa. O tenente Jerônimo Teixeira França foi incumbido de levar esse documento do governo provisório a D. Pedro; primeiramente deveria ser entregue no Paço, mas o major Mallet, receando que o imperador pudesse criar algum mal estar no momento, não deixou entregá-lo, o que foi feito somente a bordo do Parnaíba. Mas ele recusaria por mais de uma vez a oferta monetária. Entre os poucos amigos que foram se despedir de D. Pedro II, estava o velho almirante Joaquim Marques Lisboa, o marquês de Tamandaré.Ao meio-dia de 17 de novembro de 1889, a embarcação sob o comando do capitão-de-fragata José Carlos Palmeira, levantou ferros e partiu em direção a Ilha Grande para encontrar o paquete Alagoas, da Companhia Brasileira de Navegação a Vapor, o mais novo e moderno navio de passageiros da marinha mercante do Brasil, que fora requisitado pelo governo republicano, para levar a realeza destronada para o exílio na Europa, e o seu pequeno séquito. Além dos membros da família imperial, de André Rebouças, viajaram o barão e baronesa de Loreto, Franklin Américo de Meneses Dória, e a sua esposa Maria Amanda Lustosa Paranaguá; o marquês e a marquesa de Muritiba, Manuel José Vieira Tosta e sua esposa Maria José Velho de Avelar, amiga e dama da princesa Isabel; a octogenária viscondessa de Fonseca Costa, Josefina de Fonseca Costa, dama da Imperatriz por mais de 40 anos; o professor de línguas orientais dr. Cristian F. Seybold; o médico do imperador Claudio Velho de Motta Maia, conde Motta Maia, e seu filho Manoel Augusto, de 14 anos; as criadas da imperatriz Joana de Alcântara, Leonídia L. Esposel, Ludomilla de Santa Mora, Maria da Gloria e Julieta Alves; o criado do príncipe D. Pedro Augusto François N. Boucher; os criados dos filhos da princesa Isabel, Eduardo Damer, e Guilherme Wagner Camerloker; o professor dos príncipes mais novos Fritz Stoll, além de Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho, o conde de Aljezur, substituindo o mordomo imperial. O transbordo dos passageiros para o navio Alagoas foi realizado com dificuldades e perigos de um mar agitado, sendo a Imperatriz ajudada por dois marinheiros. O novo governo determinou que o encouraçado Riachuelo da Marinha de Guerra, sob o comando do então Capitão-tenente Alexandrino Faria de Alencar (seria ministro da Marinha em três governos da República), fizesse a escolta até a linha do Equador do Alagoas, já fora de águas territoriais brasileiras. Durante a viagem Dom Pedro notou a que a velocidade da embarcação estava muito lenta e indagou ao comandante do navio - português, mas brasileiro por adoção -, João Maria Pessoa, a velocidade do Riachuelo. Foi informado que era de apenas sete ou oito milhas náutica. Apesar de não ser antigo - tinha apenas pouco mais de cinco anos de uso - e D. Pedro II de muita boa memória, sabia que quando foi construído sua velocidade máxima era de 16 milhas. Concluiu-se que a embarcação de guerra estava com problemas mecânicos. Um dia o imperador reclamou ao capitão Pessoa, e apontando ao 1º Tenente João Augusto do Amorim Rangel, oficial da Marinha que estava a bordo para cumprir as determinações das autoridades republicanas, juntamente com seu colega, o 2º Tenente Antônio Barbosa de Magalhães Castro: - Diga a esse moço que vem a bordo, que se o Riachuelo é honraria, eu dispenso; se quer dizer receio, eu não quero voltar. O Brasil não me quer, vou-me embora!  Na altura da Bahia, no dia 22 de novembro, para alívio de todos, e em especial de D. Pedro, o Riachuelo encerrou sua missão, e deu meia volta para dirigir-se a Salvador, e o Alagoas pode então seguir sua longa viagem, em uma velocidade compatível com suas caldeiras. Durante a viagem, o jovem príncipe D. Pedro Augusto, neto de D. Pedro II, e por ele criado e pela imperatriz, desde a morte de sua mãe a princesa Leopoldina de Bragança, quando contava com quase cinco anos de idade, começou a dar sinais de debilidade mental. Com mania de perseguição, no seu primeiro surto psicótico, tentou esganar o comandante do navio, a quem acusava de ter recebido dinheiro para eliminar a todos. Contido e confinado em seu camarote, foi acometido de delírios persecutórios, chegando a envolver seu corpo numa boia salva-vidas, temendo que o navio fosse bombardeado. Alternando momentos de excitação e de letargia, Pedro Augusto jogava garrafas ao mar com pedidos de socorro. Pelo menos uma dessas mensagens, foi encontrada na praia de Maragogi, próximo a Maceió, em Alagoas. Posteriormente seu pai, o príncipe austríaco Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o internou primeiro em Graz, e depois em um sanatório em Tülln an der Donau, onde permaneceu por quarenta anos, até sua morte em 1934. No dia 1º dezembro, houve uma parada para reabastecimento em São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, uma possessão portuguesa, no oceano Atlântico, próxima da costa africana. Os passageiros foram autorizados a descer, e foram visitar alguns pontos da cidade, incluindo uma igreja, onde rezaram. Dessa escala, foi içada na popa do Alagoas uma bandeira imitando o "M" do Código Internacional de Sinais, com o fundo completamente vermelho e sobre filetes brancos as 21 estrelas em filete azul, sendo a estrela do centro maior. Essa bandeira foi entregue em alto mar pelo comandante do Riachuelo ao capitão Pessoa, como símbolo do novo regime brasileiro. A nova bandeira iria causar uma quase crise com Portugal, que determinou a sua retirada por não ser reconhecida de acordo com as normas internacionais. Para evitar maiores problemas, o governo provisório brasileiro determinou que durante a permanência do navio em águas portuguesas não fosse arvorado nenhum pavilhão. Quando da partida do Alagoas, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canhão. Nesse momento, foi içada a bandeira do Império, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados até as lágrimas. Da embarcação lusitana e de alguns navios alemães que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram lenços brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64º aniversário do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de saudação do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. D. Pedro respondeu com palavras trêmulas: - Bebo a prosperidade do Brasil! Em 7 de dezembro, com a bandeira do Império tremulando no mastro, o Alagoas finalmente chegou a Lisboa. D. Pedro foi recebido com honras por seu sobrinho D. Carlos, e toda a corte portuguesa. Permaneceu na capital lusitana por 15 dias. Nesse curto período, visitou o túmulo de seu pai D. Pedro I (D. Pedro IV para os portugueses), na Igreja de São Vicente de Fora, onde rezou, e depositou, no mesmo local, uma coroa de flores no túmulo do Rei Luís, recentemente falecido, tendo participado de uma missa em intenção da alma desse seu sobrinho. Foi a escolas superiores, associações científicas, como o Museu do Carmo, a Escola Politécnica, o Curso Superior de Letras, onde assistiu aulas, o bairro lisboeta da Alfama, o Jardim Zoológico, a Escola Médica, o Hospital São José, a Academia de Ciências, o Mosteiro dos Jerônimos, onde colocou uma coroa no túmulo do poeta e escritor português Alexandre Herculano, e no hotel onde ficou, recebeu algumas visitas. Esteve também nos palácios das Necessidades, residência dos reis de Portugal, e de Queluz, em Sintra. Nesse permaneceu em silêncio por muito tempo, meditando, diante da cama aonde havia falecido seu pai. Esteve ainda na Ajuda, palácio real de verão, e em Belém, residência oficial dos príncipes reais, para retribuir as visitas do Rei e da família real portuguesa fizeram no hotel Bragança, onde estava hospedado com sua família e comitiva.Seu sobrinho D. Carlos seria coroado rei de Portugal em 28 de Dezembro, e D. Pedro resolveu então realizar uma visita à região do Minho, no norte do país. No dia 22, chegou a Coimbra, sendo recepcionado pelos estudantes e professores da velha universidade, e depois seguiu para a cidade do Porto. Seu único intuito era não perturbar os festejos reais. No Porto, enquanto visitava a Academia de Belas-Artes, no mesmo dia 28, a imperatriz D. Thereza Christina, com a saúde debilitada, sofrendo de bronquite, amargurada e abalada com a situação causada com a proclamação da República, e o consequente exílio, faleceu repentinamente, aos 67 anos de idade. Avisado do grave estado, retornou rapidamente ao hotel, mas quando chegou sua companheira por longos 46 anos, estava morta. Sua tristeza foi profunda; em silêncio, chorou a partida de sua amada Thereza Christina. Sua filha Isabel, com seu marido Conde D´Eu, e seus filhos tinham ido à Espanha visitar os tios, os condes de Montpensier que lá residiam, e retornaram a Portugal assim que receberam a notícia do passamento da imperatriz. O corpo de D. Thereza Christina, depois de embalsamado, e velado na igreja da Lapa - local onde permanece guardado o coração do imperador do Brasil, D. Pedro I - foi transportado de trem do Porto para Lisboa e depositado no Panteão dos Braganças na Igreja de São Vicente de Fora, ao lado da segunda imperatriz do Brasil, D. Amélia, com a presença da família real portuguesa, e autoridades. Após os funerais de sua esposa, permaneceu poucos dias em Lisboa, seguindo para a França, hospedando-se em Cannes, para fugir do forte inverno europeu. Menos de dois anos depois, o Imperador se encontrava em Paris, para participar das sessões do Instituto de França, na Academia de Ciências, da qual era sócio. Em 24 de novembro, foi fazer um passeio em carruagem aberta até Saint-Cloud, nas margens do rio Sena, onde apesar do frio do inverno resolveu fazer uma caminhada. No dia seguinte, amanheceu febril, contraindo um forte resfriado e seu estado de saúde foi se agravando. O último imperador do Brasil veio a falecer aos vinte minutos do dia 5 de dezembro de 1891, vitimado por uma pneumonia aguda no pulmão esquerdo, em um modesto quarto do Hotel Bedford, três dias após completar 66 anos de idade.D. Pedro II, em seu leito de morte, estava vestido com o uniforme de marechal do Exército imperial brasileiro, com as condecorações do Brasil, França, Portugal, e um crucifixo em suas mãos, que havia recebido do Papa Leão XIII. Um livro, significando que descansava sobre o conhecimento, foi colocado embaixo do seu travesseiro com terra de todas as províncias (hoje estados) brasileiras. Um pedido que havia deixado por escrito.O governo francês resolveu prestar as últimas homenagens de Estado ao Imperador brasileiro, e comunicou à princesa Isabel que aceitou as honras oficiais, mas o governo brasileiro protestou por essa atitude. No Brasil, ao saberem da morte do antigo monarca, o comércio fechou as portas, e várias missas foram realizadas por sua alma por todo o país.O corpo embalsamado do imperador foi levado para a Igreja da Madalena, situada perto da Praça da Concórdia, a poucos passos do hotel onde morreu. Ao meio dia de 9 de dezembro, com o caixão coberto com a bandeira do Império brasileiro, colocado em um catafalco elevado na nave da igreja, foi celebrada as exéquias solenes, pelo arcebispo de Paris, com a igreja totalmente lotada, e a presença da Casa Militar do presidente da França, Sadi Carnot, que o representou. Além dos presidentes da Câmara e do Senado da República francesa, esteve presente o cônsul-geral de Portugal em Paris, o escritor Eça de Queiroz, todo o corpo diplomático, dentre inúmeras autoridades.Pelas ruas de Paris, 80 mil homens das tropas francesas participaram das honras. O coche fúnebre, puxado por oito cavalos cobertos de negro, foi escoltado pela guarda republicana, acompanhado por uma banda de música militar tocando a marcha fúnebre de Chopin, e nada menos que 300 mil pessoas, apesar do frio, foram prestar as homenagens a D. Pedro II. Quando o cortejo passou pela Praça da Concórdia, foram prestadas as honras militares, e uma bateria de artilharia deu as salvas de estilo. O corpo foi transportado em um trem especial para Lisboa, com uma parada em Madrid, onde a Casa Real espanhola prestou também suas homenagens. Em Lisboa, o rei D. Carlos, toda sua família, o ministério, altas autoridades, e milhares de pessoas participaram também das honras e despedidas ao velho imperador brasileiro. Na igreja de São Vicente de Fora, o cardeal Dom José Sebastião de Almeida Neto, Patriarca de Lisboa, recebeu o esquife. Depois de rezada uma missa, o corpo do Imperador foi colocado ao lado da imperatriz Thereza Christina, no panteão da família Bragança.No governo Epitácio Pessoa, em 1920, foi revogado o decreto de banimento da família imperial, e no ano seguinte a bordo do encouraçado São Paulo, da Marinha de Guerra, os restos mortais de D. Pedro II e de D. Thereza Christina foram trazidos para o Brasil. No ano de 1939, foram finalmente depositados em um túmulo especialmente construído na catedral de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, em solenidade presidida pelo então presidente Getúlio Vargas.
  • A MORTE DE DOM PEDRO II -  CONDE DE MOTTA MAIA CARTA REDIGIDA EM PARIS EM 7 DEZEMBRO DE 1891, EM PAPEL COM TARJA NEGRA DE LUTO. DOIS DIAS APÓS O FALECIMENTO DE DOM PEDRO II, DO CONDE DA MOTTA MAIA (CLÁUDIO VELHO DA MOTTA MAIA (1843-1897), MÉDIDO PARTICULAR DE DOM PEDRO II PARA VICTOR MEIRELLES (1832-1903)  AGRADECENDO PELAS CONDOLÊNCIAS OFERECIDAS PELO ARTISTA PELA MORTE DO IMPERADOR DOM PEDRO II. EXCERTOS DO TEXTO: MEIRELLES OBRIGADO, MUITO OBRIGADO POR TUAS CONDOLÊNCIAS PELO DESAPARECIMENTO DE NOSSO MAGNÂNIMO IMPERADOR. OBRIGADO A DOR NÃO ME PERMITE  DIZER-TE MAIS TEU VELHO AMIGO MOTTA MAIA.NOTA: Apeado do trono pelo movimento republicano que alcança a sua meta maior em 15 de novembro de 1889, o imperador Dom Pedro II, a imperatriz Teresa Cristina, o conde d´Eu, a princesa Isabel, os meninos Pedro, Luís e Antônio, filhos do casal d´Eu, e o príncipe Pedro Augusto, filho da princesa Leopoldina e do duque de Saxe, além do conde Mota Maia, desembarcam em Portugal. É o exílio.Ainda em dezembro, morre a imperatriz, vítima de problemas cardíacos. No ano seguinte, Dom Pedro, acompanhado pelo conde Mota Maia, encontra-se em Paris, cidade em que pretende viver. Mas há problemas financeiros. E o imperador troca ideias com seu médico e amigo sobre a difícil situação em que a família imperial se encontra no exílio, pois havia perdido todos os bens após o seu banimento pelo governo do marechal Deodoro da Fonseca.O conde Cláudio Velho da Mota Maia, então com 48 anos, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1875, cinco anos depois, fora nomeado médico da Casa Imperial. Amigo pessoal do imperador e seu médico particular, Mota Maia acompanha-o na viagem ao exílio e com ele permanece, sempre solícito e seu conselheiro, até a morte de Dom Pedro II, em 1891. Na ocasião, o médico entra em conflito com Dom Pedro ao afirmar que ele parece estar querendo dificultar o problema ao recusar uma quantia em dinheiro enviada do Brasil: "Vossa Majestade não se recorda de que estamos quase sem recursos, devendo ao hotel, constrangidos a efetuar longas economias". Irritado, doente e cansado, Dom Pedro responde: "Já sei, já sei". Mas tenta ignorar a advertência ao dizer que "precisa atender aos pobres que lhe estendem a mão". Calmo, Mota Maia fala: "Não pode, meu senhor, não pode, me perdoe a franqueza, mas Vossa Majestade não tem condições de dar esmolas". O imperador levanta-se. Reflete por um tempo e diz: "Sabe, Mota Maia, nutro de a muito tempo um belo projeto que julgo próprio a realizá-lo agora. Ouça, estou resolvido a imitar o exemplo de um imperador como eu, Carlos V. Entrarei em um convento e aí passarei os poucos dias que me restam de vida, um convento que possua uma boa biblioteca, o que mais é-me dado a admirar". Mota Maia mostra-se perplexo com a ideia e tenta convencer o imperador a desistir da ideia: "Só uma circunstância me tolhe", continua Dom Pedro. "Estou velho, doente, habituado aos cuidados de um médico, nos conventos não há médicos..." Já emocionado, responde Mota Maia: "Acompanharei Vossa Majestade seja onde for". O imperador respira profundamente e diz: "Vá, vá, Mota Maia, receba o dinheiro, salde as nossas contas... Mas o que é isso? Seja Homem! Não me entristeça!". O conde Mota Maia chora amargamente diante de toda a situação.Após a morte do velho imperador, Cláudio Velho da Mota Maia retorna ao Brasil. Professor de Medicina Operatória na instituição universitária em que se diplomara, morre em 1897, em Juiz de Fora, seis anos após a morte de seu senhor e amigo. Ele é patrono da cadeira 22 da Academia Nacional de Medicina.
  • PRÍNCIPE MAXIMILIAN ALEXANDER PHILIPP ZU WIED-NEUWIED (NEUWIED, 23 DE SETEMBRO DE 1782  NEUWIED, 3 DE FEVEREIRO DE 1867)  - RARA GRAVURA ENTITULADA:  DIE PATACHES AM RIO DO PRADO. GRAVURA DE 1822 PUBLICADA NA UNIVERS PITTORESQUE REISE NACH BRAZILIAN PER LE PRINCE MAXIMILIEN DE WIED-NEUWIED.  APRESENTA DOIS PATAXÓ JUNTOS, UM AGACHADO PORTANDO MACHADINHA E OUTRO DE PÉ COM ARCOS-E-FLECHAS, ADORNADOS COM UMA PEQUENA BOLA E COM UM CORTE DE CABELO SINGULAR. EM SUA PASSAGEM PELA VILA DO PRADO, WIED-NEUWIED RELATA QUE PRESENCIOU UM MOMENTO EM QUE UM GRUPO PATAXÓ CHEGOU NESTA MESMA VILA PARA TROCAR PRODUTOS COM OS MORADORES. FOI A PRIMEIRA E ÚNICA VEZ QUE O VIAJANTE PÔDE TER CONTATO FACE-A-FACE COM OS PATAXÓ. NO LIVRO ELE DESCREVEU QUE OS PATAXÓ TRAZIAM PARA VENDER GRANDES BOLAS DE CERA, TENDO ELE MESMO CONSEGUIDO UMA PORÇÃO DE ARCOS E FLECHAS, EM TROCA DE FACAS E LENÇOS VERMELHOS. EM ALGUMAS PÁGINAS ANTERIORES, AO PASSAR POR ALCOBAÇA, WIED PERCEBEU QUE TANTO OS PATAXÓ QUANTO OS MAXACALI VISITAVAM PACIFICAMENTE AS MORADAS DOS BRANCOS, OFERECENDO, EM CERTAS OCASIÕES, CERA OU CAÇA, EM TROCA DE OUTROS PRODUTOS (P.212). QUANDO PASSOU POR CRAMIMOÃ, HOJE CARAÍVA, SOUBE QUE OS MORADORES, TAMBÉM ÍNDIOS, TROCAVAM PRODUTOS POR ARCOS DE PATAXÓ QUE VINHAM DAS MATAS. SEC. XIX. 20 X 23 CMNOTA: Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied (Neuwied, 23 de setembro de 1782  Neuwied, 3 de fevereiro de 1867) foi um príncipe renano que esteve no Brasil no início do século XIX, onde estudou a flora, a fauna e as tribos indígenas. Foi um naturalista, etnólogo e explorador alemão. Foi o autor de Viagem ao Brasil, publicado por volta de 1820 com detalhadas descrições sobre tudo o que pôde observar. Contou com o apoio de dois auxiliares alemães, Georg Wilhelm Freyreiss e Friedrich Sellow, com experiência em coleta e preparação de animais.Chegou ao Brasil em 1815 com o pseudônimo de Max von Braunsberg. Por dois anos pesquisou o litoral e regiões do interior do Rio de Janeiro, Espírito Santo e do sul da Bahia, chegando a Salvador em suas viagens de pesquisa. Reuniu, entre outros objetos etnológicos, vocabulários e utensílios de tribos indígenas (como a dos Botocudos), plantas e animais.Em 1817 passou no Arraial da Conquista, atualmente a cidade de Vitória da Conquista, Bahia, fazendo então no seu livro "Viagem ao Brasil" o relato mais importante desta cidade e região, que nos tempos atuais são conhecidos daquela época.Em 1821, no segundo volume de seu livro, Neuwied descreveu um tipo de anfíbio pertencente à família Bufonidae e o classificou como Bufo crucifer, nome dado devido ao efeito ótico do arranjo de manchas ao longo da vértebra, o que dava a impressão de uma sequência de cruzes.Em sua época a natureza tropical foi assumida pelos integrantes do movimento romântico como motivo maior de orgulho nacional, e o príncipe foi dos que registraram esse novo tipo de sensibilidade. Em seu relato de viagem, comentou:"Até agora, a natureza realizou mais para o Brasil do que o homem: contudo, após a vinda do rei, muito se tem feito em benefício do país."Por outro lado, como comenta a Brasiliana abaixo citada, o século XIX, conservador, valoriza o Estado e a família, como se seus próprios códigos de organização e conduta fossem princípios universais indicadores de perfeição. Assim, o ´primitivo´ perde a conotação de liberdade e virtude que possuiu no Século das Luzes e passa a indicar incompletude, inferioridade. O primitivo estaria na fronteira entre o animal e o humano. O príncipe de Wied-Neuwied descreveu da seguinte maneira os botocudos:Domina as suas faculdades intelectuais a sensualidade mais grosseira, o que não impede que sejam às vezes capazes de julgamento sensato e até de uma certa agudeza de espírito. () Mas, como não são guiados por nenhum princípio moral, nem tampouco sujeitos a quaisquer freios sociais, deixam-se levar inteiramente pelos seus sentidos e pelos seus instintos, tais como a onça nas matas.
  • PRÍNCIPE MAXIMILIAN ZU WIED-NEUWIED -  EIN ANFÜHRER DER BOTOKUDEN MIT SEINER FAMILIE CHEFE BOTOCUDO COM SUA FAMÍLIA. A. SHUTE. 1820. ALEMANHA, 1820. 16 X 9 CMNOTA: Maximiliano Alexandre Felipe (1782-1867), também conhecido por Príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied, foi um dos primeiros naturalistas estrangeiros a aproveitar a abertura das fronteiras determinada por D. João VI (1767-1826), após a chegada da corte ao Brasil, em 1808. Filho de uma família nobre da região do Reno, atual Alemanha, o príncipe Maximilian serviu o exército, lutou guerras e estudou história natural antes de se aventurar em sua viagem. Neuwied veio ao Brasil, em 1815, a bordo do navio inglês Janus, influenciado por dois cientistas: seu amigo e mentor, o geógrafo e naturalista alemão Alexander von Humboldt (1768-1859), que havia tentado sem sucesso entrar no país entre 1799 e 1804, quando viajava pela América espanhola, e o professor de medicina e craniometrista Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840), considerado um dos pais da antropologia física, que havia conhecido quando frequentou a Universidade de Gottingen, em 1811 e 1812. O príncipe Maximilian estava determinado a realizar um estudo completo da fauna, da flora e dos habitantes originais da América e também levar espécimes para os acervos de história natural de seus incentivadores. Sua condição de nobre príncipe o ajudou muito para abrir as portas e ter facilidades na acolhida no Brasil. Ainda nos arredores do Rio de Janeiro, antes de partir para sua expedição, Neuwied esteve com o diplomata russo e naturalista Georg von Langsdorff (1774-1852), proprietário da Fazenda Mandioca, que também havia estudado na Universidade de Gottingen e pertencia ao círculo dos discípulos de Blumenbach. Na propriedade de Langsdorff, o príncipe incorporou à sua comitiva o ornitólogo Georg Freyreiss (1789-1825) e o botânico e desenhista Friedrich Sellow (1789-1831), dois alemães que já viviam no Brasil há dois anos e o ajudaram na comunicação com os locais, além do caçador David Dreidoppel (1793-1866) e do jardineiro Cristin Simonis, que vieram com o príncipe do castelo de Wied. Através de finanças próprias, Neuwied adquiriu 16 mulas e contratou carregadores e soldados índios, negros e mestiços. Com essa grande comitiva, iniciou sua jornada pela costa brasileira, em roteiro traçado por ele mesmo com a intenção de percorrer um trecho ainda desconhecido e que não tivesse sido descrito por outros viajantes. Levou cinco meses subindo pela costa as capitanias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, onde conheceu Cabo Frio, Macaé, Campos dos Goitacazes, Nova Benavente, Guarapari, Vila Velha, Vitória e Nova Almeida e teve contato com os indígenas Puris e Coroados, em São Fidelis, e os Botocudos, em Linhares. Veja abaixo os mapas com as rotas percorridas pelo príncipe e sua comitiva, com as áreas assinaladas dos diferentes povos indígenas que encontrou. No final de 1815 atravessou o rio Doce e chegou à antiga capitania de Porto Seguro, já então incorporada à da Bahia, onde passou mais de um ano e fez entradas pelo interior nas florestas dos rios Mucuri e Jequitinhonha. Ficou quatro meses entre os Botocudos de Belmonte, convivência que inspirou a parte mais longa da obra que viria a publicar na Alemanha e pela qual se tornou mais conhecido. Ainda na capitania baiana, seguiu para Ilhéus, Canavieiras, Olivença, Almada, e novamente se dirigiu para o sertão, chegando até a atual cidade de Vitória da Conquista, onde pode observar uma vegetação diferente, a caatinga, e os indígenas Camacãs. Depois voltou ao litoral pelo recôncavo baiano, onde foi preso confundido com um espião estrangeiro e levado a Salvador. Depois de desfazer o mal entendido, decidiu voltar para a Europa, em 10 de maio de 1817. De volta à Alemanha, Wied-Neuwied publicou em Frankfurt, em dois volumes em 1820 e 1821, Viagem ao Brasil nos anos de1815 a 1817, fruto das anotações e desenhos que fez in loco. A obra teve grande repercussão e em menos de cinco anos foi traduzida para o inglês, francês, italiano e holandês.
  • PRINCESA ISABEL PARA EDUARDO NIOAC  - FOTOGRAFIA DOS NETOS MAIS VELHOS DA PRINCESA ISABEL SENDO DA DIREITA PARA ESQUERDA DONA ISABEL CONDESSA DE PARIS, DOM PEDRO GASTÃO E DOM LUIZ GASTÃO FILHOS DE DOM LUIZ MARIA DE ORLEANS E BRAGANÇA E DONA MARIA PIA DE BORBONE DUE-SICILIE. O RETRATO FOI TIRADO EM 1913. NO VERSO DEDICATORIA DA PRINCESA ISABEL COM MELHORES VOTOS DE FELIZ ANO NOVO, ASSINADO PELA PRINCESA, DATADO DE PRIMEIRO DE JANEIRO DE 1913.  E ENDEREÇADO A EDUARDO DE NIOAC FILHO DO BARÃO DE NIOAC. NOTA: Exilado na FRANÇA o Imperador Dom Pedro II dividia seus dias entre a casa da Princesa Isabel e do Conde D'eu em Versalhes e a Casa do CONDE NIOAC em Paris. Os Nioac solidários a Família Imperial impuseram-se um exílio voluntário acompanhando o Imperador e os Condes D'Eu. Estiveram presentes durante toda a vida da Princesa Isabel e também dos seus filhos. Durante os 37 anos em que foram celebrados os réquiens em homenagem aoImperador em Paris, dos quais tem-se o registro completo de 25 anos, 66 famílias nobilitadas(sem considerar a própria família imperial, que esteve presente em quase todas ascelebrações sendo representada por pelo menos um de seus membros) diferentesestiveram presentes às missas. Umas muito mais assíduas do que outras, como no casodos Nioac, dos Muritiba, dos Araguaia, dos São Joaquim, dos Rio Negro, dos Itajubá edos Albuquerque
  • LOTE RETIRADO ATENDENDO INTERESSE DO ARQUIVO NACIONAL.NDEPENDÊNCIA DO BRASIL  MANUSCRITO DO PRÍNCIPE DOM PEDRO (DOM PEDRO I) COM RASCUNHO  DE PORTARIA PARA DISPENSENSAR A TROPA AUXILIADORA PORTUGUESA DESTACADA NO BRASIL. ESSA HISTÓRICA PORTARIA ATENDIA UMA ESTRATÉGIA DE DOM PEDRO PARA ENVIAR DE VOLTA A PORTUGAL OS INSURRETOS QUE SE REBELARAM CONTRA SUA DECISÃO DE CONTRARIAR AS CORTES PORTUGUESAS E PERMANECER NO BRASIL COMO REGENTE. EM OUTRA PONTA COM O DESLIGAMENTO DA TROPA OS SOLDADOS QUE QUISESSEM ADERIR AO EXERCITO DO BRASIL ESTARIAM LIVRES PARA TAL. EXCERTOS DO TEXTO: PORTARIA MANDA VOSSA ALTESA REAL QUE O TENENTE GENERAL HONRADO GOVERNADOR DE ARMAS DESTA CORTE E PROVÍNCIA DE ENCERRAR AO SERVIÇO MILITAR DOS SOLDADOS MENCIONADOS NA RELAÇÃO INCLUSA DECLARANDO-LHE QUE FICARÃO IZENTOS PARA SEMPRE DO SERVIÇO DO ESTADO. DECRETO DE NOMEAÇÃO PARA O CURADO (JOAQUIM JOSÉ CURADO) COM DATA DE HONTEM E ABOLIÇÃO DA COMISSÃO MILITAR COM A MESMA DATA. JOAQUIM JOSÉ CURADO FOI O PRIMEIRO MILITAR BRASILEIRO A GALGAR POSTOS DE COMANDO ELEVADOS NA HIERARQUIA DO EXÉRCITO NO BRASIL.  CURADO PERMANECE NA ZONA FRONTEIRIÇA ATÉ 1820, QUANDO VOLTA AO RIO DE JANEIRO E É NOMEADO CONSELHEIRO DE GUERRA. EM 1822, COMANDOU AS TROPAS FIÉIS A DOM PEDRO I NA BATALHA COM AS FORÇAS DO GENERAL JORGE DE AVILEZ ORGANIZANDO UMA TROPA DE SEIS MIL SOLDADOS, DEU SUSTENTAÇÃO AO DIA DO FICO, SENDO POR ISSO AGRACIADO, DAS MÃOS DE D. PEDRO I, COM OS TÍTULOS DE BARÃO COM GRANDEZA E CONDE DE SÃO JOÃO DAS DUAS BARRAS, EM 20 DE OUTUBRO DE 1825 E 7 DE SETEMBRO DE 1826. EM 1822 FOI NOMEADO POR D.PEDRO L COMO GOVERNADOR DAS ARMAS, FICOU NO CARGO ATÉ 1827. FOI O REPRESENTANTE DE SANTA CATARINA NO CONSELHO DOS PROCURADORES DAS PROVÍNCIAS, DE 3 DE JULHO DE 1822 A 20 DE OUTUBRO DE 1823NOTA: Divisão Auxiliadora, formada por tropas de linha portuguesa, promoveu um motim nos dias 11 e 12 de janeiro de 1822, no Rio de Janeiro, contra a decisão do Fico do príncipe regente D. Pedro. As tropas lusitanas se amotinaram em dois grupos, um no Morro do Castelo e o outro no Largo do Moura (área que ficava na região do porto entre a atual praça XV e o Museu Histórico Nacional), sob o comando do General Jorge Avilez. Motivados a defender o Brasil da anarquia que julgavam ter se instalado com a recusa às ordens portuguesas do regresso de Pedro, os soldados tinham a intenção de prender o príncipe regente e levá-lo à força para Lisboa. Em resposta à insubordinação da Divisão Auxiliadora, milícias locais foram formadas compostas por populares, padres e frades. No dia 12 de janeiro, D. Pedro deu ordens a dois companheiros para negociar o término do motim. Após o acordo, as tropas da Divisão Auxiliadora retiraram-se para a Vila Real da Praia Grande, atual cidade de Niterói. Os embates entre os soldados e D. Pedro continuaram até o dia 10 de fevereiro, quando o príncipe determinou a expulsão da Divisão Auxiliadora do país.A Revolução Liberal do Porto, em 1820, teve repercussões políticas tanto em Portugal quanto no Brasil. Os revoltosos, fortemente influenciados pelo movimento liberal, criaram as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, também chamadas de Cortes lisboetas ou Cortes Vintistas. As Cortes Gerais, entre outras determinações, exigiram  e conseguiram  a volta de D. João VI para Lisboa, que havia se instalado no Rio de Janeiro em 1808, e a elaboração de uma Assembleia Constituinte, que colocaria fim ao absolutismo português. Não satisfeitos com a manobra de D. João VI, depois de deixar seu filho como regente no Brasil, as Cortes lisboetas, em dezembro de 1821, julgaram desnecessária sua permanência no país e pressionaram pelo retorno de D. Pedro para Portugal.Liderados pelo vice-presidente da província de São Paulo, José Bonifácio, foi elaborado um manifesto com mais de oito mil assinaturas contra as ordens vindas de Portugal e os manifestantes foram para o Paço Real (Rio de Janeiro) no dia 9 de Janeiro de 1822. O manifesto teve adesão de parte da elite de São Paulo e Minas Gerais, argumentando que a volta de D. Pedro acarretaria uma situação de anarquia e uma possível emancipação brasileira. O príncipe regente, após uma reunião com a Câmara dos Senadores e com o apoio popular, declarou naquele mesmo dia (o célebre Dia do Fico) que permaneceria no Rio de Janeiro.O posicionamento de D. Pedro em continuar no Brasil não foi recebido pacificamente no Rio de Janeiro. As tropas da Divisão Auxiliadora entenderam a permanência como anarquia, ao recusar as ordens lusitanas. A fim de defender os interesses das Cortes lisboetas, os soldados iniciaram um motim com a intenção de prender D. Pedro e forçar seu retorno para Portugal.Na tarde do dia 11 de janeiro, o General Jorge Avilez, comandante de Armas da Corte, foi até os quartéis do 11 e 15 Batalhão e alegou aos soldados portugueses ter sido demitido de seu cargo por D. Pedro. No entanto, Avilez, como forma de contrariar as decisões do príncipe regente, tinha pedido demissão um dia antes. Revoltados pela suposta demissão de seu comandante e pela decisão do príncipe em permanecer no Brasil, os oficiais e soldados portugueses deram início às agitações nas ruas do Rio de Janeiro.Sob liderança do General Avilez, os militares se reuniram em diferentes praças. O 11 Batalhão se agrupou no Largo do Moura, o 15 Batalhão em São Bento e a 4 Artilharia na Rua Dom Manuel. Ao se deslocarem, as tropas quebraram vidraças, apagaram as luminárias da cidade e ofenderam os brasileiros, chamando-os de cabras, termo que significava filho de mulato com preto.Enquanto isso, no Teatro de São João, o tenente-coronel José Maria da Costa confirmou a Dom Pedro, presente no local, os boatos sobre o levante das tropas . A reação de D. Pedro veio com a mobilização de tropas brasileiras somadas às milícias locais e civis de diversas camadas sociais. Entre os civis, juntaram-se paisanos, padres e frades com armas em punho.A reação foi concentrada no Campo de Santana e totalizou cerca de quatro mil e seiscentas pessoas, números bem superiores aos das tropas portuguesas amotinadas que, segundo os dados do historiador Marcello Basile, reuniam por volta de mil e seiscentos soldados. O motim não teve adesão de toda a ala militar portuguesa: as tropas portuguesas do 3 Batalhão de Caçadores não aderiram, seguindo os comandos do príncipe regente e permanecendo na defesa do Palácio da Boa Vista.A tensão entre as tropas portuguesas e as tropas mobilizadas por D. Pedro no Morro do Castelo e no Campo de Santana estava acirrada e faltava pouco para que o embate acontecesse. No dia 12 de janeiro, a fim de evitar derramamento de sangue, o príncipe regente enviou dois comissários, um para o Morro do Castelo e o outro para o Largo do Moura, a fim de negociar com os amotinados portugueses. Na condição de que as tropas brasileiras também se retirassem, o General Avilez concordou com o deslocamento das tropas para a Vila Real da Praia Grande, do outro lado da baía de Guanabara.Avilez, durante o restante do mês, continuou com embates políticos por achar injusta a forma como as tropas portuguesas estavam sendo tratadas. Houve protestos contra as portarias dos dias 13 e 17 de janeiro do mesmo ano assinadas pelo príncipe-regente com a intenção de diminuir o tamanho da força pública de soldados. A primeira portaria ordenava dar baixas nas praças da Divisão Auxiliadora, já a segunda exigia obediência dos Comandantes dos Corpos, modificando a hierarquia acostumada. O General Avilez denunciou os subornos feitos por D. Pedro para que os soldados deixassem voluntariamente as tropas. O príncipe regente, com medo de possíveis ataques armados, incluindo os seguidos enfrentamentos de Avilez, expulsou as tropas Auxiliadoras do Brasil. No dia 15 de fevereiro do mesmo ano as tropas foram escoltadas até a altura de Pernambuco.
  • JEAN BAPTISTE DEBRET (1768-1848)  - VUE EXTERIEUR DE LA GALERIE DE L'ACLAMATION DE LE ROI DE PORTUGAL, BRESIL ET ALGARVES, DOM JOÃO VI.(VISTA EXTERIOR DA GALERIA DE ACLAMAÇÃO DO REI DE PORTUGAL, BRASIL E ALGARVES, D. JOÃO VI). LITOGRAVURA A PARTIR DE DESENHO DE JEAN BAPTISTE DEBRET GRAVADA POR THIERRY FRERES EM PARIS E PUBLICADA EM 1839. PARIS, PRIMEIRA METADE DO SEC. XIX. 36 X 26 CM (SOMENTE A GRAVURA SEM CONSIDERAR O TAMANHO DA MOLDURANOTA : As monarquias do Antigo Regime europeu sempre conviveram com a constante necessidade de manter e reforçar o poder de seus reinantes, que eram as peças-chave da engrenagem que mantinha em funcionamento um governo absolutista. O reforço desse poder passava, muitas vezes, pelo engrandecimento da imagem do soberano e, nessa operação, as festas e cerimoniais cumpriam papel fundamental . O ciclo de vida dos reis, de seus governos e de suas famílias dava espaço para que esses eventos se realizassem: os nascimentos, batismos, casamentos, a subida ao trono e a morte eram comemorações ritualizadas, por ser o discurso da celebração extremamente eficaz para a manutenção do poder real, porque era construído não só pela palavra, mas pelos gestos, símbolos e representações (pelo visual, portanto). Todo o panorama acima traçado envolvia também a monarquia portuguesa, que igualmente fez amplo uso dos cerimoniais para marcar o ritmo da vida, governo e poder dos reis. No que tange ao caso lusitano, havia um cerimonial específico, de enorme tradição: o da aclamação dos soberanos. Ocorrida a morte de um reinante (e após as devidas pompas fúnebres) era o momento do sucessor assumir o trono: para tanto era feita a cerimônia de aclamação, na qual o novo rei era levantado, reconhecido. No caso português, não ocorria coroação: a coroa era objeto simbólico presente no cerimonial, porém ela não era colocada na cabeça do soberano desde que o Rei Dom João IV em  1646 dedicou a coroa Real a Nossa Senhora da Conceição como regente do Reino de Portugal. O local escolhido para aclamação do monarca foi o Terreiro do Paço (ou Largo do Paço), área central e de grande importância para a cidade do Rio de Janeiro de então: ali estava o Paço da cidade (primeira morada de D. João em solo fluminense quando de sua chegada, e que em 1818 era um dos palácios da Família Real), além de importantes partes do governo monárquico. Era um amplo espaço de circulação de pessoas e de sociabilidade: assim, foi o cenário escolhido desde a chegada da Corte para sediar comemorações relacionadas à realeza, e com a aclamação de D. João não foi diferente. Para tal celebração foi erigido junto à parte do Paço que dava no fundo do Terreiro um grande anexo, chamado de varanda, totalmente aberta em arcos para permitir a visão daqueles que estavam de fora. Ela tomava toda a extensão do Paço ao fundo do Largo, chegando até a porta da Capela Real, prédio que também fazia parte do complexo palaciano. Dentro e fora, ela era marcada pela magnitude, pela profusão dos símbolos monárquicos (escudos, armas reais, brasões) e por uma simbologia clássica que se referia às virtudes e qualidades do novo soberano (os gênios, os  deuses gregos, etc). Ali dentro, cercado dessas marcas espaciais e das pessoas que deveriam estar presentes de forma mais próxima ao ritual, D. João foi coroado rei sexto de seu nome, assistido por imensa massa de súditos. O desenho da varanda, segundo esta gravura apregoada no lote, ficou a cargo do arquiteto do rei João da Silva Muniz, e a direção das obras foi depositada nas mãos de Joaquim Jose de Azevedo, Barão do Rio Seco e, à época, Almoxarife da Casa das Obras e Paços Reais, uma repartição da Casa Real que tinha a seu encargo cuidar das obras e de alguns aspectos da materialidade que envolvia os Paços10 . Apesar do plano de ordens não especificar o horário da cerimônia, sabe-se pelos relatos que ela se iniciou às quatro horas da tarde do dia 06 de fevereiro. Segundo ele, D. João sairia de seus aposentos dentro do Paço para se dirigir à varanda, acompanhado dos Grandes Títulos de sua Corte e de oficiais da Real Casa, bem como dos Bispos . Tal acompanhamento seria aberto pelos Porteiros, oficiais da Casa Real responsáveis pelo abrir e fechar das portas do palácio (e aqui com uma função muito simbólica de abrir o cerimonial. Esses Porteiros trariam consigo duas insígnias importantes, e que os distinguiam: primeiramente vinham os Porteiros da Cana, que possivelmente eram assim chamados por portar instrumentos de sopro rústico, chamados Cana. Após vinham os Porteiros da Maça, que traziam nos ombros um bastão pesado usado para assinalar a chegada das pessoas, a Maça . Em seguida viriam os oficiais da Casa Real responsáveis pela Armaria, ou seja, pela distribuição, uso e regulamentação das armas e brasões da nobreza. Estavam distribuídos conforme sua hierarquia: primeiro vinham os três Reis de Armas (representando os domínios mais importantes do império português: Portugal, Algarves e Índia), seguidos dos três Arautos (representando as mais importantes cidades do Reino: Lisboa, Silves e Goa) e, por fim, os três Passavantes (representando as mais importantes vilas: Santarém, Lagos e Cochim). Todos vestiriam cotas de armas, uma espécie de capa por sobre as vestes, e que os diferenciava pela posição onde o escudo real estava bordado: os Reis de Armas o traziam no peito com a coroa, os Arautos o traziam ao peito no lado direito sem a coroa, e os Passavantes o traziam no peito ao lado esquerdo sem a coroa. O plano prossegue indicando que compusesse imediatamente o cortejo real os Moços da Câmara e os Moços Fidalgos. Os Moços da Câmara, como o nome já assinala, eram jovens de boa família atuantes na Casa Real no desempenho de funções na Câmara Real (nos aposentos do rei), geralmente ligadas ao vestir e despir do monarca . Ser Moço Fidalgo significava receber do rei, ainda na juventude, o foro da Casa Real denominado Moço Fidalgo: um título de fidalguia ligado a este espaço de serviço direto ao monarca. Dentre todos os foros da Casa Real que poderiam ser dados, este era o único que tinha exercício efetivo no Paço quando convocado: exercício este que poderia estar ligado a celebrações. Em seguida, deveria vir o Corregedor do Crime da Corte e Casa, um magistrado da Casa de Suplicação do Brasil, ligado aos assuntos cíveis e até econômicos das comarcas onde atuava . Em seguida ficou indicado pelo plano que deveria vir a nobreza, os Grandes Titulares da Corte (Marqueses, Condes, Viscondes e Barões), e eclesiásticos (os Bispos). Todos viriam descobertos e formando duas alas, a dos seculares e dos religiosos16. No meio delas deveriam vir oficiais da Casa Real, portando suas insígnias (Luis Gonçalves dos Santos relatou que eram apenas os oficiais mores que vieram entre as alas). Imediato a essa formação seguiria o Ministro Secretário de Estado: conforme detalhou a edição extraordinária do dia 10 de fevereiro de 1818 da Gazeta do Rio de Janeiro, se tratava do Ministro Secretário de Estado Thomaz Antonio de Villanova Portugal18. Após ele, seguia-se o Merinho Mor, que deveria trazer em mãos uma vara (sua insígnia): este era um oficial de justiça, responsável pela aplicação de lei e prisão de fidalgos e membros da nobreza (estas eram pessoas que, por sua grandeza e condição, não poderiam ser presos pela justiça comum). Segundo a edição da Gazeta Extraordinário do Rio de Janeiro, o ofício era ocupado pelo Conde de Viana, que trazia junto a si uma vara branca. Junto ao Meirinho Mor viria o Bispo do Rio de Janeiro, D. José Caetano da Silva Coutinho, ocupando o ofício de Capelão Mor da Casa Real: a questão religiosa estava presente na domesticidade régia, que contava com a assistência de um corpo religioso (liderado pelo Capelão Mor) e de uma capela para seus serviços - a Capela Real, interna ou anexa ao Paço (como era o caso do Paço da cidade, no Rio de Janeiro). O plano de ordens para o cerimonial da aclamação de D. João VI mandava que após o Meirinho Mor e o Bispo Capelão Mor viesse o Alferes Mor, portando a Bandeira Real enrolada: servia esse ofício o Conde de Barbacena. Este era um antigo cargo com função no exército: acompanhar o rei em campanhas e batalhas, portanto a bandeira que só poderia ser desenrolada por ordem do soberano. Há muito tinha assumido a função honorífica de levar o estandarte real em cerimônias, saimentos e eventos da realeza no geral . Depois dele vinha o Capitão da Guarda Real, que no âmbito da Casa Real era o responsável pela guarda pessoal do rei. Servia então este ofício o Marques de Belas e, conforme constam os relatos, a guarda do Paço e os Arqueiros (que estavam sob sua alçada) estavam prostrados no Terreiro do Paço próximo à varanda . O plano mandava que viesse então, por assim dizer, núcleo da realeza: o infante D. Miguel abriria a chegada das figuras reais, servindo na cerimônia de aclamação como Condestável, um ofício que, assim como o Alferes Mor, era há muito honorífico. Ele traria junto a si o estoque desembainhado (uma espécie de espada com a qual o Condestável devia assistir nos eventos), e deveria portá-lo levantado em punho, como era de costume21. Em seguida, vinha a figura central e mais importante do cerimonial: o rei a ser aclamado. D. João VI, como apontam as descrições, vinha ricamente vestido com o manto real, seguro na cauda pelo Conde de Parati, Gentil-Homem da Câmara Real (o plano de ordens mandava que o Gentil-Homem da Câmara que estivesse servindo naquela semana desempenhasse esse papel,  e Luis Gonçalves dos Santos esclarece ao leitor que se tratava do dito Conde, também designado para servir como Camareiro Mor nesse evento). Junto ao monarca se colocaria o príncipe D. Pedro. O príncipe e o infante estariam acompanhados, ainda, de seus oficiais privados - os camaristas - como assinala o plano de ordens do cerimonial . Muito próximo ao rei, do seu lado esquerdo, deveria estar o Mordomo Mor da Casa Real (possivelmente D. Pedro estaria ocupando o lado direito). Este era o cargo mais importante dentro da Casa Real, responsável pelo governo da mesma e de todas as suas áreas. Recebia as ordens do rei sobre o âmbito privado e a repassava a todos os seus subordinados. Também era responsável pelo despacho de todos os filhamentos da Casa Real. Tinha, ainda, importante função em cerimoniais: assistia sempre próximo ao rei portando sua insígnia (um bastão chamado por muitos de negrinha), e nos acompanhamentos não ia mais ninguém, para além do Condestável com o seu estoque, entre o Mordomo Mor e o rei e no ato das Cortes situava-se à esquerda do rei24. Servia na função de Mordomo Mor para esta ocasião o Marques de Angeja, mas na realidade quem desempenhava o cargo era Thomaz Antonio de Villanova Portugal, que nele ficou de 1818 e 1821. Porém, Villanova Portugal, como visto, já estava presente pelo seu ofício de Secretário de Estado, que exercia cumulativamente ao de Mordomo Mor. Na entrada da varanda se encontrariam os menestréis (os músicos), que deveriam tanger seus instrumentos assim que D. João adentrasse à mesma com seu acompanhamento: as charamelas (instrumentos de sopro), as trombetas e os atabales. No Terreiro do Paço, a população já estava presente para assistir ao evento e, dentro da varanda, a chegada do monarca e sua comitiva vinha completar as presenças necessárias ao evento, pois muitos dos convidados já estavam organizados hierarquicamente na construção, que para este propósito era composta de três estrados colocados em níveis diferentes, além de balcões: a acomodação dos convocados foi dirigida pelo Visconde de Asseca, que atuava como Mestre Sala. Ao adentrar na varanda, o cortejo régio se dispersaria para os locais que deveriam ser ocupados por cada um. D. João VI se dirigiria para o outro extremo da armação, onde estava o estrado mais elevado, chamado de estrado pequeno. Nele estava, embaixo de um grande dossel, o trono régio coberto por um rico pano, e do lado uma mesa que continha os itens que seriam utilizados no ritual: o cetro, a coroa, o missal e o crucifixo (SANTOS, 1825: 220-221). Para que o rei se sentasse era a função do Reposteiro Mor da Casa Real descobrir a régia cadeira: tarefa assumida pelo que então desempenhava o cargo, o Marques de Castelo Melhor, que prontamente o fez. Antes de se acomodar no trono, D. João VI precisava saudar a Rainha D. Carlota Joaquina, as Princesas e Infantas: todas já estavam previamente acomodadas no balcão que estava mais próximo ao dossel do trono. A varanda contava ainda com outros quatro balcões que seguiam no correr da construção: num deles estavam Damas portuguesas e austríacas, e em outro as Açafatas. No quarto balcão estavam os titulares, e no quinto e último estavam os membros do corpo diplomático, acompanhados de suas senhoras . O plano de ordens mandava que, antes do rei ocupar o trono, lhe fosse entregue o cetro: para tanto o Tesoureiro da Casa Real Barão do Rio Seco colocaria o objeto numa salva dourada (uma espécie de bandeja), e repassaria ao Conde de Parati (o mesmo Gentil-Homem que trouxe a cauda do manto no cortejo). Depois que D. João ocupasse seu trono deveriam ser acomodados seus filhos ao seu lado direito, no mesmo estrado pequeno: um pouco atrás ficaria D. Miguel com o estoque em punho, e mais à frente e próximo ao trono se colocaria D. Pedro (os camaristas de Suas Altezas deveriam ficar detrás deles). O plano pedia ainda que atrás do trono assistisse à cerimônia um Gentil-Homem da Câmara, mas não especifica qual: pelos relatos de Luis Gonçalves dos Santos sabe-se que havia três Gentis Homens da Câmara de D. João assistindo ao rei no evento, o Marques de Torres Novas, D. Nuno José de Souza Manoel e o já referido Conde de Parati (que se deduz ter sido o designado para assumir o lugar porque atuava como Camareiro Mor). Abaixo desse estrado menor havia outro, e posicionados nele, à direita do trono, estaria o corpo religioso: o Bispo Capelão Mor vinha logo depois do degrau entre os estrados, muito próximo ao rei. Ao seu lado estavam outros prelados: os bispos de Angola, Pernambuco, Prelado de Goias, de Moçambique, de S. Thomé. No lado esquerdo desse segundo estrado se posicionariam próximos ao degrau que dava acesso ao trono o Mordomo Mor e o Ministro Secretário de Estado. No mesmo lado esquerdo, mais afastado, estaria o Meirinho Mor, e depois os Marqueses em ala. Em seguida, estavam os Grandes da Corte (Condes, Viscondes, Barões) e outros oficiais da Casa Real. Entre este estrado do meio e o terceiro havia degraus, e cada um deles foi ocupado conforme a hierarquia estabelecida no plano de ordens. No mais alto deles, se colocou o Alferes Mor com a bandeira enrolada. No degrau seguinte deveriam se colocar os membros do Senado da Câmara do Rio de Janeiro. Do segundo degrau para baixo se colocaram membros dos seguintes tribunais e repartições do governo régio: Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens, Conselho da Fazenda, Casa da Suplicação, Conselho Supremo Militar, Real Junta do Comércio, Real Junta dos Arsenais do Exército, Real Erário e os Deputados da Universidade de Coimbra. Também nestes degraus estavam outros religiosos, os prelados maiores das ordens regulares. Beirando o terceiro estrado estavam os Reis dArmas, Arautos, Passavantes, Porteiros da Cana e da Maça. Por fim, no terceiro estrado estariam em pé Fidalgos e mais todas as outras pessoas convidadas que não ocuparam outro espaço específico Estando todos dessa forma acomodados conforme solicitava o plano de ordens, se iniciaria o ritual de aclamação do novo rei. O Secretário de Estado Villanova Portugal deveria fazer sinal para o Rei de Armas Portugal, para este avisar ao Desembargador do Paço (Luis Gonçalves dos Santos indicou que se tratava de Luis Joze de Carvalho e Mello) que subisse para pronunciar a prática à Sua Majestade. O Desembargador deveria subir ao estrado abaixo do trono, e nesse momento o mesmo Rei de Armas pronunciaria em alto som as seguintes palavras: Ouvide, ouvide, ouvide, estai atentos. Dito isso, Carvalho e Mello fez uma profunda reverência ao monarca e iniciou a prática, recitando uma oração. Finda esta, voltou a reverenciar o rei, e retornou ao seu lugar. Vem então o Reposteiro Mor Marques de Castelo Melhor, para colocar diante do rei, como era de seu ofício, o material que havia recebido do Guarda Tapeçarias da Casa Real: uma cadeira rasa (espécie de mesinha) com uma almofada, e outra para colocar aos pés do monarca para que ele se ajoelhasse. Na cadeira rasa, o Bispo Capelão Mor depositaria o missal aberto, e sobre ele o crucifixo de prata. O alto prelado da Casa Real deveria se ajoelhar junto a essa preparação próxima ao trono, o mesmo fazendo dois bispos que seriam as testemunhas do juramento que D. João faria: segundo Gonçalves dos Santos, eram os bispos de Azoto Prelado de Goiás, e de Leontopoli Prelado de Moçambique. De acordo com o plano de ordens, o Secretário de Estado avisaria então ao rei que era chegada a hora de seu juramento, e o mesmo deveria se ajoelhar na almofada que estava a seus pés. Passando o cetro para a mão esquerda, ele colocaria a direita na cruz e no missal, e repetiria as palavras que lhe eram ditas pelo mesmo Secretário, que também estaria de joelhos. Segundo outro códice presente no Arquivo Nacional, tal juramento tinha o seguinte teor: Juro e prometo com a graça de Deus vos reger, e governar bem, e direitamente, e vos administrar direitamente Justiça, quanto a humana fraqueza permite; e de vos guardar vossos bons costumes, privilégios, graças, mercês, liberdade, e franquezas, que pelos Reis Meus Predecessores vos foram dados, outorgados, e confirmados. Terminado o juramento, todos se levantam e retornam aos respectivos lugares. O Secretário de Estado se dirigiria então ao segundo estrado, imediatamente após o trono, e no meio dele leria em voz alta a fórmula do Juramento, Preito e Homenagem que os presentes haviam de ir fazer a D. João: Juro aos Santos Evangelhos tocados corporalmente com a minha mão, que eu recebo por nosso Rei, e Senhor verdadeiro, e Natural, o Muito Alto, e Muito Poderoso, o Fidelíssimo Rei D. João Sexto Nosso Senhor, e lhe faço preito, e homenagem segundo o foro destes reinos28. Passada a instrução do juramento a todos, o Bispo Capelão Mor e o Reposteiro Mor mudariam de lugar a cadeira rasa com a cruz e o missal, colocando-os de frente para o trono na parte esquerda. Feito o novo arranjo, D. Pedro faria seu juramento, se ajoelhando e colocando a mão direita sobre a cruz e o missal, indo beijar a mão do rei ao final, e retornando ao seu lugar. O mesmo faria D. Miguel, trocando o estoque para a mão esquerda. Depois disso, o Alferes Mor desenrolaria a Bandeira Real, e o Rei de Armas Portugal diria em voz alta que fossem beijar a mão do monarca os Grandes Títulos, Seculares e Eclesiásticos, e todas as mais pessoas da nobreza como se achavam, sem precedências nem prejuízos de nenhum direito que os nobres viessem a ter uns sobre os outros (ficava assim esclarecido que, para este ato, não haveria hierarquias). Tendo todos os presentes assim o feito, Thomaz Antonio de Villanova Portugal se dirigiria ao rei, que lhe indicaria que aceitava o juramento, preito e homenagem que haviam feito a ele. O Secretário de Estado então faz esse anúncio aos presentes, descendo em meio ao estrado e bradando: ElRei Nosso Senhor aceita os juramentos, preitos e homenagens, que os Grandes, Títulos Seculares, Eclesiásticos, e mais pessoas da nobreza que estaes presentes, agora lhe fizestes29. Declarada a aceitação o Alferes Mor, portando a bandeira desenrolada, pronunciaria em alto som a fórmula da aclamação do novo rei: Real, Real, Real, pelo Muito Alto e Muito Poderoso Senhor Rei D. João VI Nosso Senhor, no que deveria ser seguido pelos Reis de Armas, e depois por todos os que estavam na varanda, acompanhados do tanger dos menestréis. Feito isso (e após reverenciar o novo rei), o Alferes Mor seguiria com a bandeira desenrolada (e acompanhado dos Porteiros da Cana e Maça, dos Reis de Armas, Arautos e Passavantes) para o meio da varanda, onde se tinha acesso a um pequeno estrado de três degraus bem no meio da armação, e que se projetava para o Terreiro do Paço (na planta e prospecto geométrico, apresentado acima, ele está assinalado com a letra E). Nele deveriam subir o Alferes Mor e o Rei de Armas Portugal, que se dirigiriam ao povo que se aglomerava no Largo. O mesmo Rei de Armas bradaria: Ouvide, ouvide, ouvide, e estai atentos, e o Alferes Mor, em seguida: Real, Real, Real, pelo Muito Alto e Muito Poderoso Rei Dom João VI do nome Nosso Senhor. Os outros Reis de Armas, Arautos e Passavantes, assim como todos os que estivessem na varanda, deveriam pronunciar a fórmula da aclamação. O povo, como relatou Santos, estava no mais completo júbilo e felicidade. Acabado este anúncio, era o momento de ir à Capela Real. O mesmo Rei de Armas Portugal anunciaria aos presentes que, por ordem do rei, só deveriam acompanhá-lo em procissão até lá aqueles que o vieram acompanhando em sua chegada à varanda. Sob o som dos Menestréis, D. João se levantaria de seu trono e, portando o cetro à mão, percorreria toda a extensão da varanda até a sua entrada, fazendo este percurso próximo às grades da armação para que o povo pudesse vê-lo. O plano de ordens designava que o rei deveria fazer três paradas para que fosse visto pela aglomeração no Terreiro do Paço. Descendo pela escada da varanda que dava para o Terreiro do Paço, D. João e sua comitiva chegariam à porta da Capela Real, onde o Bispo Capelão Mor e todo o grupo religioso já os estaria esperando. D. José Caetano da Silva Coutinho estava embaixo de um pálio, segurando a relíquia do Santo Lenho (um fragmento da cruz de Cristo): quando o rei se aproximasse do Bispo, ajoelharia perante ele e beijaria a relíquia. Depois todos seguiriam em procissão junto ao Santo Lenho para dentro da igreja, onde segundo o plano de ordens estava preparado um sitial para que o rei se acomodasse e fizesse a oração31. Um pouco mais adiante do espaço preparado a D. João ficou D. Pedro, e imediato a ele D. Miguel com o estoque na mão em punho. Por fim, o Alferes Mor também se encontraria perto deste grupo. Aos oficiais da Casa Real e aos títulos da Corte o plano mandava que ficassem em alas dentro da igreja, da melhor forma que pudessem se acomodar. Sobre os acontecimentos dentro da Capela Real, o plano de ordens é bastante sucinto, pouco falando a respeito. Quem muito relatou o que se passou ali dentro foi Luis Gonçalves dos Santos, e aqui se utiliza de seu relato para complementar a análise. Segundo o mesmo, tendo D. João se acomodado, e já estando na Real Capela todos os que nela deveriam se acomodar (a Rainha, Princesas e Infantas já estavam previamente acomodadas nos camarotes da igreja), ele fez sua oração. O Bispo Capelão Mor colocou a relíquia no troneto do altar e todos em pé cantaram o hino religioso Te Deum Laudamus, tocado pelos músicos da Capela e da Câmara do rei . Terminado o canto, o Capelão Mor declamou as orações de costume. Por fim, tirou a relíquia do altar e, com ela, benzeu ao rei e aos presentes: nesse momento, D. Miguel abateu o estoque, e o Alferes Mor enrolou a Bandeira Real. Devolvido o Santo Lenho ao altar, o Bispo congratulou e se despediu de D. João, se retirando com toda sua comitiva para a sacristia da Igreja. Já era noite quando o novo rei, com seu cetro na mão e acompanhado daqueles que desde o início foram junto a ele, saiu da Capela Real, subiu as escadas da varanda, passou por dentro dela e, por uma porta colocada atrás do trono régio, adentrou ao Paço33. Findou-se, assim, o ritual de aclamação de D. João VI
  • DEBARQUEMENT DE LA PRINCESE LEOPOLDINE, Á RIO DE JANEIRO - DESEMBARQUE DA PRINCESA REAL LEOPOLDINA NO PIER DO ARSENAL DA MARINHA, NA ENSEADA DA BAÍA DE GUANABARA. DESENHO DE JEAN BAPTISTE DEBRET E GRAVURA DE THIERRY FRÉRES  PUBLICADA EM 1839. A GRAVURA  SEGUNDO PINTURA DE DEBRET, REPRESENTA O DESEMBARQUE DA PRINCESA REAL DO REINO UNIDO DE PORTUGAL, BRASIL E ALGARVES, LEOPOLDINA CAROLINA NO RIO DE JANEIRO, A 6 DE NOVEMBRO DE 1817, COM A ENTRADA DA  GALEOTA REAL CONDUZIDA POR CEM REMADORES., FILHA DO IMPERADOR FRANCISCO I E DE MARIA TERESA DE ÁUSTRIA, CASARA POR PROCURAÇÃO A 13 DE MAIO DE 1817, EM VIENA, COM D. PEDRO, HERDEIRO DO TRONO DE PORTUGAL, FILHO DO REI D. JOÃO VI E DE D. CARLOTA JOAQUINA. ESTE CASAMENTO, UNINDO A CASA DE BRAGANÇA E A CASA DE ÁUSTRIA, PROCURAVA CONTRABALANÇAR A GRANDE PRESSÃO EXERCIDA PELA GRÃ-BRETANHA SOBRE PORTUGAL, AFASTANDO AINDA DO PRÍNCIPE HERDEIRO A INFLUÊNCIA DOS BOURBON E DA FRANÇA. POR OUTRO LADO, OS HABSBURGO VIAM COM BONS OLHOS UMA OPORTUNIDADE DE PENETRAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL. D. LEOPOLDINA CAROLINA, JÁ ENTÃO IMPERATRIZ DO BRASIL, VIRIA A FALECER NO RIO DE JANEIRO EM 11 DE DEZEMBRO DE 1826, COM A IDADE DE VINTE E NOVE ANOS. DURANTE OS NOVE ANOS DO SEU CASAMENTO, TEVE VÁRIOS FILHOS, DOS QUAIS SOBREVIVERAM D. MARIA DA GLÓRIA, FUTURA RAINHA DE PORTUGAL, D. JANUÁRIA, D. FRANCISCA E D. PEDRO, FUTURO 2º IMPERADOR DO BRASIL. FRANÇA, SEC. XIX. 37 X 31 CM (DIMENSÃO DA GRAVURA). ACOMPANHA CERTIFICADO DE AUTENTICIDADE DA GALERIA O PAPEL DA ARTE.
  • JEAN BAPTISTE DEBRET (1768 -1848) - "VOYAGE PITTORESQUE ET HISTORIQUE AU BRESIL" - VOLUME III - Lâmina 75 - 'HABIT DE COUR' - LITOGRAVURA AQUARELADA  ASSINADA NO C.I.D.  COMPÕES A COLETÂNEA DE GRAVURAS REALIZADAS EM PARIS EM 1831, A PARTIR DAS AQUARELAS FEITAS POR DEBRET DURANTE SUA VIAGEM PELO BRASIL PARA REGISTRO DE ELEMENTOS DA FAUNA, FLORA, HÁBITOS E COSTUMES. A OBRA VOYAGE PITTORESQUE ET HISTORIQUE AU BRÉSIL, DE JEAN BAPTISTE DEBRET, É UMA OBRA SINGULAR PRODUZIDA EM TRÊS VOLUMES QUE CONTEMPLAM PARTE DO PERÍODO JOANINO ATÉ O FIM DO PRIMEIRO REINADO. FRANÇA, SEC. XIX.  43 X 24 CM DIMENSÃO DA GRAVURA
  • JOHANN MORITZ RUGENDAS. NÈGRESSES DE RIO-JANEIRO (NEGRAS DO RIO DE JANEIRO). FROM "VOYAGE PITTORESQUE DANS LE BRÉSIL". LITOGRAVURA AQUARELADA EDIÇÃO FRANCESA GRAVADA POR ENGELMAN. A IMAGEM REPRESENTA, EM PRIMEIRO PLANO, DUAS MULHERES NEGRAS, SENDO QUE UMA DELAS ENCONTRA-SE DE PÉ COM UM BEBÊ PRESO SOBRE AS COSTAS E COM UM CESTO DE FRUTAS SOBRE A CABEÇA. A OUTRA ESTÁ SENTADA AO LADO DE UM BAÚ E DE OUTROS OBJETOS (PENTES, SAPATOS...) SOBRE UMA PARTE MAIS ALTA DO SOLO. AMBAS VESTEM LONGAS SAIAS LARGAS E TRAZEM LENÇOS ENVOLVENDO A CABEÇA. À DIREITA, APARECEM TRÊS BANANEIRAS E, AO FUNDO, PODE-SE VER O MAR E MONTANHAS BAIXAS COM ALGUMAS PALMEIRAS DISTRIBUÍDAS. CIRCA DE 1839. 54 X 26 CMNOTA: Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, 29 de março de 1802  Weilheim an der Teck, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão. Era descendente de uma antiga família de artistas, cujos antecessores eram catalães e flamengos, que abandonaram a Catalunha, por suas crenças protestantes, em 1608.  Foi o primeiro filho de Johann Lorenz Rugendas, o diretor da escola de artes local, pintor e desenhista e de Regina Lachler. Em 1822, aos 19 anos de idade, acompanhou a expedição do Barão Georg Heinrich von Langsdorff ao Brasil, que se iniciaria propriamente em 1824. Publicando em 1835, em Paris, seu célebre trabalho Malerische Reise in Brasilien (Viagem Pitoresca Através do Brasil) retrata, em belíssimas gravuras baseadas em seus desenhos, cenas do país que se torna independente no ano de sua chegada.. Nikolaus I Rugendas (1575-1658), primeiro representante da família Rugendas, estabeleceu uma relojoaria em Augsburgo, em 1608, e mostrou que era um relojoeiro de rara habilidade artística. Seu filho Nikolaus II (1619-1695), casado com Anne Marie (Kreuther), seguiu a tradição, porém, de seus treze filhos, apenas Nikolaus III (1665?-1745) continuou com a tradição, fazendo relógios de sol e instrumentos de medição. Seu filho mais novo, Georg Philipp (1666-1742), considerado o fundador da importante família Rugendas de artistas do século XVIII e XIX, não seguiu o negócio e foi estudar com o pintor de história de Augsburgo Isaak Fischesd. Viajou para Roma em 1692, seguindo depois para Viena, em 1690, e depois para Veneza, em 1692, onde frequentou academias e recebeu seus primeiros pedidos. Em 1693, de volta a Roma, frequentou a Accademia di San Luca, onde desenhou ruínas e esculturas e praticou a pintura de paisagens com modelos que moldou o seu trabalho. Tornou-se um artista. Com a morte de seu pai, em 1695, retorna a Augsburgo. Dois anos depois casa-se pela primeira vez com Anna Barbara Haid ( 1732) que lhe dá 9 filhos. Suas primeiras experiências com a calcografia se dão com as séries Capricci (1698) e Diversi Pensieri (1699), publicadas por Jeremias Wolff. Em 1700 já trabalhava com a meia-tinta publicando o trabalho Chargen der Reiterei (Cargas da Cavalaria). Seu período criativo de maior sucesso foi de 1702 a 1716, período semelhante ao da Guerra da Sucessão Espanhola (17011714), quando metade da Europa entrou no teatro de guerra. Ganhou reputação internacional como pintor e desenhista, principalmente de cavalos e batalhas, e entre seus clientes estavam príncipes e poderosos, como o príncipe Johann Adam Andreas von Liechtenstein e o príncipe-bispo Lothar Franz von Schönborn, arcebispo de Mainz e bispo de Bamberg. A base de sua reputação como pintor de batalhas reais pode ser vista no trabalho Die Befreiung Wiens (Libertação de Viena), de 1690. Em 1710, foi nomeado diretor vitalício da Academia de Artes de Augsburgo, tendo entre seus alunos Johann Elias Ridinger (1698-1767). De 1715 a 1735, dedicou-se mais a produção de gráficos impressos, muito mais lucrativos, criando extensas sequências de meia-tinta e folhas de tese, já envolvendo seus filhos Georg e Christian em sua manufatura. Georg Phillip, "o velho", casou-se mais duas vezes, em 1732 e 1734. Entre seus 13 filhos, Georg Philipp Rugendas (1701-1774), Christian Rugendas (1708-1781) e Jeremias Gottlob Rugendas (1710-1772) trabalharam como gravuristas, especialmente em água-tinta. Moritz cresceu sob a aura desta família de gravuristas e pintores. O bisavô, presente no autorretrato pendurado na sala, era o modelo venerado e vinculador, para o menino que, desde cedo, seduzido pelo colorido dos uniformes dos soldados franceses que andavam pelas ruas, tentava imitar a seu pai, Johann Lorenz Rugendas, um famoso pintor das batalhas napoleônicas. Moritz continuou praticando, inspirado pelos desenhos de seu admirável antepassado. Seu pai, percebendo, em certos aspectos, que as disposições para o talento do seu filho na escola dificilmente mereceriam ser consideradas, enquanto outras deveriam ser levadas a sério, preocupou-se em ele mesmo formá-lo. De visita aos Rugendas, após a desastrosa marcha a Moscou, o pintor Albrecht Adam (1786-1862), amigo íntimo da família foi quem impulsionou a carreira de Johann Moritz. Adam, que havia levado sua pasta de desenhos, viu o jovem Johann Moritz estudar com entusiasmo os leves contornos dos acontecimentos mundiais em suas pranchas. Seus pais concluíram que o melhor era enviá-lo a Munique e entregá-lo aos ensinamentos do amigo. Do estúdio de Adam, onde morou, Moritz, aos 15 anos de idade, em 1817, foi para a Academia de Belas Artes de Munique, frequentando aulas de gênero e pintura de paisagem com Lorenzo II Quaglio (1793-1869), mas aquele ambiente acadêmico não lhe satisfazia, preferindo passear pelos campos, pelos alpes, conversando com camponeses, apreciando o brilho da luz sobre um lago, e sempre desenhando, mas nunca satisfeito com seus traços. Seu pai queria enviá-lo a Roma para finalizar seus estudos acadêmicos, no entanto seus modestos rendimentos lhe impediam. Enquanto isso, nos círculos culturais de Munique, comentava-se sobre o acordo entre as coroas da Áustria e de Portugal, unindo em matrimônio a Princesa Leopoldina, da Áustria, com o príncipe D. Pedro I, rei do Brasil, e sobre a expedição científica financiada pelo príncipe von Metternich (1773-1859) para acompanhá-la em sua viagem ao Brasil. Entre os cientistas enviados, encontravam-se dois bávaros de Munique, o naturalista Johann Baptist Ritter von Spix (1781-1826) e o médico e botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868). Além deles, participaram, entre outros, os pintores Thomas Ender e Johann Buchberger. Em 1820, o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, barão Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852), médico, botânico, zoólogo, antropólogo, filólogo e navegante, que estava organizando sua própria expedição científica ao Brasil, financiado pelo czar Alexandre I, foi a Munique para encontrar-se com Martius e Spix, recém-chegados de sua expedição ao Brasil, que comentaram a falta que lhes fazia um rico material de pinturas para ilustrar seus trabalhos, visto que os pintores da expedição adoeceram durante a missão. Langsdorf preocupou-se então em encontrar, como precaução, um pintor para acompanhá-lo em sua viagem. Rugendas, teve conhecimento da futura expedição através do botânico russo Wilhelm Friedrich von Karwinsky (1780-1855), amigo de sua família e de Langsdorf, que tratou de marcar um encontro entre os dois. As condições do contrato de trabalho foram tratadas, por carta, entre o pai de Moritz, Johann Lorenz, e o irmão do barão Georg Langsdorff, Wilhelm von Langsdorff. Rugendas e Langsdorff assinaram o contrato em 1821. Expedição LangsdorffLangsdorff tinha como objetivo fornecer à Academia Real de Ciências de São Petersburgo uma descrição completa da flora, fauna e populações nativas brasileiras. Johann Moritz Rugendas, já como integrante da expedição, desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, acompanhado do zoólogo francês Edouard P. Ménétriès (1802-1861). Rugendas ficou estarrecido com a exuberância da natureza do Brasil e seu colorido. Enquanto não se iniciava a expedição, Langsdorff hospedou Rugendas na Fazenda Mandioca (Magé-RJ), de sua propriedade. 1822 foi o ano em que o Brasil foi abalado por distúrbios que levaram a proclamação de independência de Dom Pedro I e esses distúrbios políticos atrasaram a partida da expedição até 1824. Mais tarde, se uniriam a expedição o astrônomo russo Nester Rubtsov (1799-1874), o botânico berlinense Ludwig Riedel (1790-1861) e o pintor parisiense Adrien-Aimé Taunay (1803-1828). Rugendas realizou algumas viagens por conta próprianota 2 à cidade do Rio de Janeiro, se hospedando, frequentemente, na casa do barão Wenzel Philipp Leopold, embaixador austríaco, e foi testemunha ocular da coroação de D. Pedro I, como imperador do Brasil, em 1º de dezembro de 1822. Na capital, fez amizade com os membros da Missão Frances especialmente com Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e com os filhos do pintor Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), Félix e Adrien. Esses contatos, com artistas europeus, como ele, com uma visão revista e atualizada do neo-classicismo, contribuíram para que Rugendas criasse novas perspectivas no seu olhar sobre o território e populações brasileiras. A essa fase da viagem correspondem a maioria de seus desenhos de plantas e animais, que permitiram-lhe aprimorar a sistemática do desenho científico. Em 8 de maio de 1824, saindo do Rio de Janeiro, a Expedição Langsdorff viajou para Minas Gerais, passando por Barbacena e São João del Rei, seguindo para Ouro Preto, Sabará e Diamantina. Em Barra de Jequitibá (MG), ao 1º de novembro de 1824, Rugendas teve uma grave discussão com Langsdorff e abandonou a expedição, e a partir daí, viajou sozinho, retornando ao Rio de Janeiro em 29 de março. Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769-1859) em Paris, Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação.No México, começou a pintar a óleo, utilizando as técnicas assimiladas na Itália. A partir de 1834, percorreu a América do Sul, tendo visitado Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Uruguai e Brasil.Em 1845, voltou ao Rio de Janeiro, onde retratou membros da família imperial e foi convidado a participar da Exposição Geral de Belas Artes. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa. Em troca de uma pensão anual e vitalícia, cedeu sua coleção de desenhos e aquarelas ao rei Maximiliano II, da Baviera. Missão chefiada pelo Barão Georg Heinrich von Langsdorff com a participação de Rugendas, com o objetivo de retratar a natureza e os nativos do Brasil. A equipe permanece no Brasil no período entre 1822 e 1825 e percorre um trajeto entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo neste intervalo o período em que se inspiram as pinturas produzidas posteriormente, já na Europa por Rugendas. O trabalho retrata a paisagem e os indígenas e foi muito elogiada inicialmente na Europa, com destaque para os elogios de Alexander von Humboldt, o qual vai inspirar e motivar o autor em seus novos trabalhos. Dentro do Brasil a publicação vai ganhar destaque primeiramente na comemoração dos 100 anos do IHGB e posteriormente na busca por imagens representativas sobre o século XIX durante o período inicial do governo de Getúlio Vargas, se tornando uma clássica representação imagética do Brasil no Século XIX.
  • ICONOGRAFIA DE SÃO PAULO NO PERÍODO COLONIAL - JOHN MAWE (1764-1829) RARA GRAVURA EM METAL  A PARTIR DE ESBOÇO DE JOHN MAWE E DESENHO DE M. LOWRY GRAVADA POR BARRRENGER EM LONDRES EM 1812. A VIEW OF THE GOLD WASHING AT JARAGUA NEAR SAINT PAULS (VISTA DA LAVAGEM DE OURO NO JARAGUÁ PERTO DE SÃO PAULO. AS MINAS DA FAZENDA JARAGUÁ PERTENCIAM AO BRIGADEIRO JORDÃO E POR MUITOS ANOS ESTEVE DE POSSE DA FAMÍLIA. INGLATERRA, 1812. 28 X 22 CMNOTA: Em outubro de 1807 - três meses antes da família real portuguesa chegar ao Brasil em uma cinematográfica escapada do exército de Napoleão Bonaparte (1769-1821) - o naturalista, mineralogista e comerciante de minerais britânico, John Mawe (1764-1829), pisou em solo jaraguense com a finalidade de observar o funcionamento das minas de ouro locais. Vale mencionar, quando em 1804 Mawe partira de Londres para uma viagem de seis anos pela América do Sul, ele já possuía no currículo múltiplas viagens náuticas para Marrocos, Jamaica e Bombaim, além de turnês pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Paris. Assim, ele próprio enquanto viajante era uma joia em constante processo de lapidação. Com efeito, uma vez no Brasil, Mawe visitou Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, lugares onde coletou minerais e conchas. Além disso, ele observou, aprendeu e produziu vasto conteúdo, dentre os quais o livro Viagens ao interior do Brasil (1812), obra da qual o relato sobre o Jaraguá que você lerá em seguida foi extraído. Em seu relato, Mawe aborda a escavação em degraus dos pontos de lavagem de ouro (vide gravura) no Jaraguá, ele explica como era o trabalho dos escravos negros nas minas, menciona o uso da bateia, tece comentários sobre os vigias que ficavam de olho na operação, informa sobre a separação de um quinto do ouro obtido para o Príncipe e a troca do ouro na Casa da Moeda, entre outras coisas.O mineralogista britânico revela, ainda, que a Fazenda Jaraguá possuía na época 75 trabalhadores, sendo 50 escravos negros e 25 índios livres. Estes últimos recebiam para trabalhar.AGORA O RELATO DE JOHEN MAWE DA VIAGEM REALIZADA EM 1807: O governador na época Antônio José Correia da Franca e Horta me convidou para visitar as antigas minas de ouro do Jaraguá, as primeiras descobertas no Brasil, que agora eram propriedade dele, junto com uma fazenda na vizinhança, distante cerca de 44 quilômetros talvez a metade disso da cidade. Viajamos por uma estrada regular e, em alguns lugares, por uma boa estrada, em direção ao sul, por 20 quilômetros e cruzamos o Tietê. Este rio é aqui consideravelmente maior e mais profundo do que no centro de São Paulo. Possui uma excelente ponte de madeira, sem pedágio. Nas suas margens existem algumas situações verdadeiramente invejáveis; finas terras virgens ricas, cobertas de madeira e capazes de produzir, não apenas os necessários, mas os luxos da vida, em cem vezes, se adequadamente cultivados.Era melancólico contemplar um território que, por seu solo fervilhante e clima genial, merece ser chamado de paraíso, negligenciado e solitário como o do Éden após o fracasso; enquanto seus possuidores apaixonados, como os descendentes de Caim, famintos por ouro, mantinham-se afastados do rico banquete que a natureza aqui espalhou diante deles. Depois de viajar quatro léguas, chegamos às antigas minas do Jaraguá, famosas pelos imensos tesouros que produziram há quase dois séculos, quando nos portos de Santos e São Vicente, de onde o ouro era enviado para a Europa, este distrito era considerado como o Peru do Brasil.A face do país é desigual e bastante montanhosa. A rocha, onde é exposta, parece ser granito primitivo, inclinado a gnaisse, com uma porção de hornblenda e frequentemente mica. O solo é vermelho e notavelmente ferruginoso, em muitos lugares aparentemente de grande profundidade. O ouro repousa, em grande parte, em um estrato de seixos e cascalho arredondados, chamado cascalho, imediatamente imputado à rocha sólida.Nos vales, onde há água, ocorrem escavações frequentes, feitas pelos garimpeiros, em considerável extensão, algumas delas com 15 ou cem pés de largura e 18 ou 20 de profundidade. Em muitas das colinas, onde a água pode ser coletada para lavagem, partículas de ouro são encontradas no solo, um pouco mais profundas do que as raízes da grama.O sistema de trabalho nestas minas, mais apropriadamente chamado de lavagem, é simples e pode ser facilmente descrito: suponha-se um stratum de cascalho solto e seixos redondos, de quartzo e substâncias adventícias, sobrepostos ao granito, e coberto por substância terrosa de espessura variável.Nos pontos em que a água se encontra num nível suficientemente elevado para ser dirigida, o terreno é escavado em degraus, cada um dos quais com 20 a 30 pés de comprimento, dois ou três de largura e mais ou menos um de altura.Próximo ao fundo abre-se uma trincheira com cerca de dois a três pés de profundidade. Em cada degrau ficam seis ou sete escravos negros que, a medida que a água corre, colina abaixo, conservam a terra continuamente em movimento, com auxílio de pás, até que fique reduzida a uma água lamacenta, levada mais abaixo.As partículas de ouro existentes nesta terra descem à trincheira, onde, devido à sua gravidade específica, precipitam-se rapidamente. Os trabalhadores estão sempre ocupados, na trincheira, em remover o cascalho e limpar a superfície, operação esta grandemente auxiliada pela corrente d'água que cai sobre ela.Depois de cinco dias de lavagem, a precipitação da trincheira é carregada para uma corrente apropriada, a fim de ser submetida a uma segunda purificação. Para esse fim empregam-se recipientes de madeira, afunilados, com a abertura de dois pés e cinco ou seis polegadas de profundidade, chamados bateias.Cada trabalhador, de pé, na corrente, apanha com sua bateia cinco ou seis libras de cascalho, geralmente constituído de substâncias pesadas, de cor escura carbonada, tais como óxido de ferro, pirita, quartzo etc.; deixando penetrar certa quantidade de água nas bateias imprimem-lhes um movimento circular, com tal destreza, que o precioso metal, separando-se das substâncias inferiores e mais leves, deposita-se no fundo e nos lados da vasilha.A seguir enxaguam os recipientes num recipiente maior, com água limpa, aí ficando o ouro e recomeçam a mesma operação. Na lavagem de cada vaso leva-se de cinco a oito ou nove minutos.O ouro obtido é muito variável, tanto em qualidade quanto no tamanho das partículas, algumas das quais tão pequenas que flutuam, enquanto outras atingem dimensões de peras e não raro até maiores.Esta operação é superintendida por vigias por ser o resultado de importância considerável. Tudo terminado, leva-se o ouro para casa, a fim de secá-lo e, na ocasião propícia, conduzi-lo ao escritório de troca, onde é pesado, reservando-se um quinto para o Príncipe.Reúne-se o restante pela fusão com muriato de mercúrio, reduzindo-o a barras, dando-se o toque e selando-se, de acordo com seu valor intrínseco; com ele fornece-se um certificado; após a prova da entrada desse documento na Casa da Moeda, as barras passam a circular como moeda corrente.Esta fazenda possui a melhor madeira dos arredores. Quando os melhoramentos, começados pelo governador, completarem, será abastecida de água, trazida de uma distância de seis milhas, em quantidade suficiente para banhar as colinas e pôr em movimento a maquinária de uma moenda de cana.Nela estão empregados cerca de cinquenta escravos negros e a metade deste número de índios livres; os últimos alimentam-se às custas do patrão e ganham de seis pence moeda do Reino Unido por dia; mas parecem mais bem laboriosos e capazes do que os negros. Eles estavam limpando o terreno e abrindo, nas matas, caminhos que quando terminados, transformariam o lugar num agradabilíssimo retiro de verão.
  • ICONOGRAFIA DE MINAS GERAIS NO PERÍODO COLONIAL - JOHN MAWE (1764-1829) A VIEW OF THE MANNER IN WHICH THE BED OF THE RIVER JEQUITINHONHA IS LAID DRY BY AN AQUEDUCT IN ORDER TO SEARCH FOR DIAMONDSRARA. RARA GRAVURA EM METAL  A PARTIR DE ESBOÇO DE JOHN MAWE E DESENHO DE M. LOWRY GRAVADA POR WOOLNOTH  EM LONDRES EM 1812.. ICONOGRAFIA INTITULADA: A VIEW IN THE MANNER IN WHICH THE BED OF THE RIVER JIGITINHONHA IS LAID DRY BY AN AQUEDUCT IN ORDER TO SEARCH FOR DIAMONDS DE JOHN MAWE (ESBOÇO), APRESENTANDO DESVIO DO RIO JEQUITINHONHA PARA OBTENÇÃO DE CASCALHO RICO EM DIAMANTES, NO DISTRITO DIAMANTINO DE 1809. LONDRES, 1812. 28 X 22 CMNOTA: Jonh Mawe, comerciante e mineralogista inglês, esteve no Brasil entre 1807 e 1811. Esteve em Minas Gerais em meados de 1809, sob licença do P´rincipe Regente Dom João. (futuro Dom João VI) com narrativa voltada para recursos minerais, dada sua formação em Ciências da Terra. Além disso, descreveu detalhadamente a paisagem e formas/manejo de uso e ocupação da terra. Neste território percorreu o Caminho Novo e Caminho dos Diamantes. Seu trajeto é apresentado na Figura 2a. Na porção Quadrilátero Ferrífero, sua narrativa apresenta uma visão sensorial de Vila Rica (sede municipal de Ouro Preto): (...) conserva apenas uma sombra do seu antigo esplendor (MAWE, 1978, p. 129) referindo-se ao declínio do Ciclo do Ouro. O viajante possui um olhar aguçado sobre as riquezas minerais, afirmando a potencialidade da exploração do ferro na região. Sua observação é confirmada com a explotação, especialmente no século XX de abundantes jazidas de ferro em itabirito na porção Quadrilátero Ferrífero. Narra sobre a insistência de foco por parte da administração portuguesa na exploração do ouro, enquanto: O rico minério de ferro, muito abundante no distrito e do qual vi várias amostras, poderia proporcionar ocupação bem mais proveitosa do que a lavagem do ouro, ou a procura de especulações quiméricas que entretém a ociosidade Itinerário realizado por John Mawe em 1809. Em vermelho, as localidades Fazenda do Barro e Rio São José, locais nos quais o viajante observou o uso de mercúrio na separação do ouro.
  • MAXIMILIANO SCHAIZE -  DONA MARIA JOVITA DE MORAES BARROS  NETA DO PRESIDENTE PRUDENTE DE MORAES E FILHA DE ANTONIO DE MORAES BARROS. LINDA PINTURA SOBRE LÂMINA EM MARFIM E MOLDURA TAMBÉM EM MARFIM.  BRASIL, DEC. 1920. 15 CM DE ALTURA. 21 cm de altura.NOTA: MAXIMILIANO SCHAIZE pintor excepcional que viveu alguns anos no Brasil tendo sido o pintor do famoso retrato da Marquesa de Santos doado ao Museu Paulista pelo Presidente Washington Luis em 1926. -
  • CARL FRIEDRICH PHILIPP VON MARTIUS (1794-1868)  - FESTA DA RAINHA EM MINAS  LITOGRAVURA DE FRANZ XAVER NACHTMANN (1799-1846). PUBLICADA EM 1830. MANIFESTAÇÃO CULTURAL DAS CAMADAS MAIS POPULARES DA SOCIEDADE MINERADORA. PRIMEIRA METADE DO SEC. XIX. 23 X 17,5 CMNOTA: Durante as celebrações, os reis e as rainhas são os líderes máximos do cerimonial, numa estrutura de poder embasada em funções hierárquicas rígidas, na qual o Rei Congo e a Rainha Conga são as majestades mais importantes e portam as coroas mais veneradas. Com exceção dos reis festeiros, que oferecem os banquetes, e que são substituídos a cada ano, os demais coroados são vitalícios e, em geral, pertencem a linhagens tradicionais do próprio Reino. Os reis representam Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia ...; os reis congos, no entanto, simbolizam também as nações negras africanas e essa ascendência é traduzida pelo papel ímpar que desempenham nos rituais litúrgicos e pelo poder com o qual são investidos. Essa recriação dos vestígios e reminiscências de uma ancestral organização remete-nos ao papel e função do poder real nas sociedades africanas transplantadas para as Américas, nas quais os reis, em sua suprema autoridade, representavam os elos maiores de ligação e de mediação entre a comunidade, os ancestrais e as divindades. Em associação à figura dos reis e rainhas, as festas de reinado congregam em sua estrutura litúrgica ou sincrética a presença das guardas, cortes ou ternos. Essas classificações se determinam mediante a diversidade ritual, e distinguem-se pela indumentária, pela coreografia, pelos cantos e, principalmente, pelo ritmo exercidos aos instrumentos empregados. Estes, se apresentam como Moçambiques com vestimentas, cantos e toadas mais sérias e discretas (Figura 3), Congos que, conforme Figura 4, conta com composição predominantemente alegre e festiva, ou podem ter outras variações como Marujos, Catopés e Caboclinhos. Essas guardas se organizam, predominantemente, em torno da figura central de um capitão-mor, ocupado em ordenar as atividades e a regência das músicas e da cerimônia, acompanhado de demais capitães que o auxiliam na condução curso do ritual. No caso do capitão-mor, ele representa, ainda, a interlocução entre as organizações envolvidas, como as demais instituições e irmandades
  • SAINT-HILAIRE, AUGUSTE  VUE DE LA MAISON QUI HABITAITM. DUC DE ÇIXE,BIRG AMBASSADEUR  EXTRAORDINAIRE DE FRANCE AU BRESILEM 1816.  (VISTA DA CASA DO DUQUE DE LUXEMBURGO NO BRASIL EM 1816 )LITOGRAVURA DE GRIMBERT ET DOREZ EM 1830. FRANÇA, PRIMEIRA METADE DO SEC. XIX. 23 X 19 CMNOTA: Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (Orleães, 4 de outubro de 1779  Orleães, 3 de setembro de 1853) foi um botânico, naturalista e viajante francês. O estudioso pertenceu aos primeiros grupos de cientistas, vindos da Europa, para realizarem suas pesquisas e explorações no Brasil Colônia, durante os anos de 1816 e 1822, período no qual a corte portuguesa estava instalada no país, na cidade do Rio de Janeiro. Auguste, com 37 anos, viajou pelo Brasil, durante os anos de 1816 a 1822, financiado pela França, tendo escrito importantes livros sobre os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. O francês desembarcou no país na cidade do Rio de Janeiro em primeiro de junho daquele mesmo ano. Junto com ele e o conde de Luxemburgo, vinha um grande grupo de cientistas, entre eles, destaca-se o Conde de Clarac, Charles Othon Frederick John Baptist of Clarac, desenhista e arqueólogo também francês.11 Paralelamente a sua chegada, desembarcava no país um outro grupo de franceses, no caso a Missão Artística Francesa, encabeçada pelos irmãos Taunay, Auguste-Marie Taunay Nicolas-Antoine Taunay e Aimé-Adrien Taunay, o pintor Jean-Baptiste Debret e o encarregado da missão Joachim Lebreton.1Durante os seis anos que viveu em meio a expedições, Saint-Hilaire percorreu inúmeros estados brasileiros. Entre eles, estão Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isso inclui viagens às nascentes do rio São Francisco e do Jequitinhonha. O tempo de estadia e frequência eram variados, sendo que, por exemplo, estabeleceu-se por 15 meses em Goiás e viajou até Minas Gerais por três vezes. Sobre as condições do deslocamento, eram feitas majoritariamente por burros ou cavalos e os caminhos precisavam ser abertos por meio do facão, ação praticada pelos auxiliares, prioritariamente, escravos, em meio à mata virgem. Comenta a Brasiliana da Biblioteca Nacional,13 sobre as faculdades de Saint-Hilare que ele não era um amador, mas, sim, um homem conhecedor da vasta literatura científica até então produzida e dos relatos de viagens de época, além de noções primordiais para um naturalista e para a proteção de suas descobertas, como saberes sobre dissecação de plantas, confecções de herbários, agricultura, transporte de vegetais. Sobre seu envolvimento com o Brasil, destaca-se a união subjetiva, em suas pesquisas, do utilitarismo e da filantropia, muito presentes na literatura de viagens daquele século. Se por um lado, os objetivos daqueles que o teriam enviado eram a glória nacional, no caso da França, por outro lado, a busca individual também se dava pela melhora do bem-estar da humanidade por meio daquela infinidade de espécimes ainda desconhecidas e dos possíveis benefícios das plantas medicinais. A questão é que, à época, os caminhos da França eram considerados universais, ou seja, trabalhar para aquele país era trabalhar por toda humanidade. Assim que chegou ao Rio de Janeiro, ele estabeleceu contato com Maller, o cônsul francês, e o funcionário da França, por sua vez, ajudava-o a enviar as descobertas de produtos naturais para Martinica, que é um departamento ultramarino insular francês no Caribe. Para além disso, junto ao frei Leandro do Sacramento, eles enviam outros espécimes também a Martinica e, agora, a Caiena. Foram 21 caixas com plantas vivas da periferia do Rio de Janeiro que foram endereçadas às colônias francesas. Sobre estas atividades, afirma a Brasiliana:"Desse modo o sentimento de filantropia que permeava as atividades dos viajantes-naturalistas parte de uma distinção inicial básica: países civilizados com ciência, e países não totalmente civilizados com práticas empíricas tradicionais''. De maneira mais clara, as fronteiras nacionais deveriam ser abolidas e, assim, a ciência se tornaria universal e seu desenvolvimento seria útil a toda a humanidade. Por isso, onde passava, Saint-Hilaire recolhia informações sobre o uso de plantas na medicina e na alimentação. Bem diferente de seu compatriota François-Auguste Biard, descreveu com sensibilidade suas impressões sobre a variedade do mundo vegetal no Brasil em "Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais" (1830):"Para conhecer toda a beleza das florestas tropicais é necessário penetrar nesses retiros tão antigos como o mundo. Nada aqui lembra a cansativa monotonia de nossas florestas de carvalhos e pinheiros; cada árvore tem, por assim dizer, um porte que lhe é próprio; cada uma tem sua folhagem e oferece frequentemente uma tonalidade de verde diferente das árvores vizinhas. Vegetais imensos, que pertencem a famílias distantes, misturam seus galhos e confundem sua folhagem." Por seu trabalho, o naturalista recebia 3 000 francos anuais, valor que foi, posteriormente, elevado para 6 mil francos pagos pela França. Um possível facilitador de suas expedições era o fato dele ser um bom conhecedor do português ao nível de versar sobre origem de determinadas palavras e sobre as variantes regionais da língua, tratando-se da pronúncia. O que Saint-Hilaire coletou no país seria mais tarde usado em suas publicações e estudos sobre botânica, após junho de 1822, mês em que retorna à Europa, para toda a sua vida.

215 Itens encontrados

Página: