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Brasil Império

DOM PEDRO II CANHÃO DE HONRA OU DE SALVA - RARO CANHÃO FUNDIDO EM BRONZE COM SUA CARRETA EM MADEIRA DOTADA DE GUARNIÇÕES TAMBÉM EM BRONZE. POSSUI NA PARTE SUPERIOR COROA IMPERIAL E MONOGRAMA PII RELATIVO A DOM PEDRO II. TRATA-SE DE UM CANHÃO MÓVEL, PORTÁVEL E EMPREGO EM CERIMÓNIAS PROTOCOLARES DE GOVERNO OU CELEBRAÇÃO DE DATAS IMPORTANTES LIGADAS AO IMPÉRIO E AO IMPERADOR. TEM PRESILHAS QUE PERMITEM DESMONTA-LO E TRANSPORTA-LO FACILMENTE.PEÇA EXTRAORDINÁRIA, DE ÉPOCA E EM ÓTIMO ESTADO DE CONSERVAÇÃO. BRASIL, PRIMEIRA METADE DO SEC. XIX. 50 CM DE COMPRIMENTO O CANHÃO COM O CARRO FICA COM 52 CM.NOTA: A presença militar em atos públicos relacionados com o calendário festivo Real, incluindo-se aí as honras fúnebres, marcava-se por acções coreografadas das tropas ao som das caixas, tambores, instrumentos de sopro e também pelo aparato sonoro bélico. Esse era constituído por salvas de fuzilaria e artilharia dadas pelos regimentos, pelos castelos e fortalezas e pelas embarcações que utilizavam, nas operações navais, esses sons como meio de comunicação e como forma de saudar hierarquicamente as autoridades. Nas festas, a sonoridade bélica compunha o cerimonial, ordenando-o, dando-lhe maior solenidade e atuando como demonstração do poderio militar da coroa impondo, através da coação sonora aos seus súditos, a autoridade dos monarcas. Segundo nos informa o militar Raimundo José da Cunha Mattos (1776-1839), deve-se aos venezianos, no século XIV, a invenção e a introdução militar das salvas, tendo esta prática, nos séculos seguintes, expandindo-se para outros reinos da Europa: Os Venezianos forão inventores, ou introdutores das salvas de Artilharia no século 14, e o seu costume teve aceitação nos outros Povos da Europa. As salvas são de Artilharia, ou de Fuzilaria. As primeiras constam de um numero de tiros correspondente á graduação, ou categoria da pessoa a quem se salva: as segundas sempre consistem em tres descargas de fogo rolante da direita para a esquerda da linha, quando a salva he de alegria, ou de tres descargas cerradas quando o fogo he em funeral3. Em Portugal, a regulamentação das salvas militares dá-se, faseadamente, entre os séculos XVII e XIX, com vários decretos emitidos durante esse período, acompanhando o desenvolvimento da prática naval. Entretanto, no que diz respeito ao cerimonial fúnebre real, o Regimento do Senado da Câmara de Lisboa, de 30 de Agosto de 1502, no capítulo sobre o funeral (dó) e aclamação (levantamento) do Rei, já menciona que durante essas cerimónias todos las naoos e navios que ouver amte O porto seram apemdoadas E despararan seus tiros a tenpo devido E asy todos loos spingardeiros que ouver na çidade quamdo se der a Voz do levantamento acabadaa de se dar despararam seus tiros como dito he. .Entre as cerimónias fúnebres da casa real portuguesa, é a partir do falecimento de D. João V, em 1750, que se tornou possível constatar a presença e a funcionalidade dos sons bélicos, e a reprodutibilidade desse modelo sonoro por todo o reino e seus domínios, através das várias relações sobre as cerimónias realizadas pela morte do Fidelíssimo Rei. (...) concorreraõ todas as Communidades Religiozas Monachaes, e Mendicantes, e de Clerigos Regulares de Lisboa, ainda as mais privilegiadas, e com devoçaõ, e harmonia cantaraõ os Responsos costumados. (...) O Cabido da Basilica de Santa Maria com a sua Communidade se portou nesta função taõ gravemente, que enterneceo, e edificou aos circunstantes, cantando solemne Responso pelo seu Augusto Benfeitor. Nesse mesmo tempo se repetiaõ de quarto a quarto os tiros de Canhaõ, que se disparavaõ no Castello, e Baluarte da Vedoria, cujo estrondo, unindo-se ao que faziaõ todos os sinos da Cidade, e ao toque das trombetas á surdina dos regimentos da Cavallaria, e caixas destemperadas cubertas de luto, da Infantaria, rompendo os ares, penetravaõ os coraçoens com taõ sensivel dor, que Lisboa nunca vio em muitos annos dia mais triste, e lamentavel. Sendo Lisboa e posteriormente o Rio de Janeiro espaços de residência da corte e os principais núcleos políticos do reino, estas cidades, devido à sua importância, localização geográfica e à conexão marítima, dependiam de edifícios fortificados, estrategicamente posicionados assim como em outros portos de domínio português para garantir o controlo da entrada e saída de todo os tipos de navios e, principalmente, a defesa militar. Para isso era essencial o conhecimento prévio dos protocolos sonoros (associados às bandeiras hasteadas) utilizados, através dos regulamentos das salvas, para a comunicação a longa distância entre as próprias embarcações e, entre estas e as fortalezas3. Nesse sentido, os diários de viagem de oficiais estrangeiros contribuíram para a circulação de informações, não somente acerca das cidades visitadas mas, também, dos procedimentos vigentes nos portos portugueses no que diz respeito à relevância dos sinais sonoros. Um erro na administração das salvas poderia ocasionar em pequenos conflitos diplomáticos ou, em caso extremo, em um ataque ao navio. Na chegada da fragata Bondeuse à baía do Rio de Janeiro, a 21 de Junho de 1767, por exemplo, o oficial francês Louis Antonie de Bougainville (1729-1811) ordenou que a bandeira portuguesa fosse hasteada e que fosse dado um tiro de canhão. Estando a embarcação em frente a Fortaleza de Santa Cruz, receberam um oficial português que, conforme determinado, exigiu saber o objetivo da viagem. O desenrolar da história é assim contado por Bougainville: Mandei o Chevalier de Bournand com ele para informar o Conde d´Acunha, vice-rei do Brasil, e discutir as saldas de costume. (...) O Chevalier de Bournand voltou logo depois, e me disse que a respeito da saudação, o Conde d´Acunha havia respondido que quando alguém, ao se encontrar com outro na rua, tirava o chapéu, antes não perguntava se esta cortesia seria devolvida ou não; que se saudássemos o lugar, ele veria o que tinha que fazer. Como essa resposta não era uma, não saudei. (...) No dia 22, fomos em conjunto fazer uma visita ao vice-rei; ele nos devolveu a bordo no dia 25, e quando ele saiu, eu o saudei com dezenove tiros de canhão, os quais a terra retornou. O falecimento de D. Maria I, em 1816, na cidade do Rio de Janeiro inaugurou naquela cidade o protocolo das salvas para o protocolo da morte de um soberano. Dona Maria foi a única monarca a falecer em território do Brasil. No dia 20 de Março, após às onze horas e um quarto, os sinos da cidade anunciaram a morte de D. Maria I. Pouco depois do meio-dia deu-se início aos procedimentos militares, com o posicionamento das bandeiras a meio-mastro, primeiramente pela Fortaleza da Ilha das Cobras que, pela hierarquia, precedia a todas as outras fortificações e navios. Desde a mesma Ilha foi dada uma salva de 21 tiros, seguida por tiros periódicos de dez minutos (e não mais de quinze), o que foi seguido pelas outras fortalezas até a uma hora da manhã, momento em que se arrearam todas as bandeiras. Também seguiram com os tiros as esquadras nacionais e estrangeiras que se encontravam ancoradas no porto, porém somente até o pôr-do-sol. Esse procedimento levou o Comandante da Esquadra Portuguesa a advertir os navios nacionais para regular o tempo do fogo e do hastear e arriar das bandeiras, com o que se praticava nas fortalezas, mantendo-se os navios estrangeiros os tiros somente até o final da tarde. No dia 21, a partir das seis horas da manhã as bandeiras foram içadas a meio-mastro e novamente as fortificações e navios deram início aos tiros periódicos, como no dia anterior, o que foi reproduzido no dia seguinte. Sobre o acompanhamento, houve formação das tropas que se posicionaram em alas, pelas ruas da cidade, desde o Palácio até o Convento da Ajuda, onde à porta, se encontrava uma Brigada de Infantaria e um Parque de Artilharia. Quanto a saída do corpo, não há menção às salvas, somente após a chegada do cortejo à porta da Igreja do Convento, às dez e um quarto da noite, momento em que todos os navios deram uma salva de 21 tiros de peça, e os destacamentos a bordo dos mesmos deram três descargas de fuzilaria. A Bateria de Artilharia e a Brigada de Infantaria, que se encontravam postadas à frente da Igreja, também deram as salvas e as descargas correspondentes, assim como as Fortalezas e os navios estrangeiros. O Brasil independente nasceu sob o estrondo de salvas de honra. O dia 12 de outubro de 1822, data da aclamação do imperador Pedro I, amanheceu nublado e chuvoso no Rio de Janeiro. Mas nem a chuva nem as rajadas de vento conseguiram atrapalhar a primeira grande festa cívica do Brasil independente. Logo ao alvorecer, a cidade foi acordada por uma ensurdecedora salva de canhões disparada das fortalezas situadas na entrada da baía de Guanabara e dos na- vios de guerra ancorados no porto. Às nove horas chegaram ao Campo de Santana hoje também denominado praça da República duas brigadas do exército. Uma delas era comandada pelo brigadeiro José Maria Pinto Peixoto, aquele mesmo que o príncipe mandara prender e soltar na famosa viagem a Minas Gerais no começo do ano. De rebelde, o brigadeiro havia-se tornado um dos mais fiéis aliados de D. Pedro e assim permaneceria pelo resto da vida. As ruas estavam ocupadas pela multidão e das varandas pendiam colchas, toalhas bordadas e outros adereços. Os moradores colocaram suas melhores roupas e saíram às janelas para ver o espetáculo. Senhoras que, pela elegância de seus vestidos, em que sobressaíam as cores verde e amarela e riqueza de enfeites, ofereciam uma cena capaz de despertar sentimentos de alvoroço na alma mais tíbia, descreveu o jornal O Espelho.1 No centro da praça foi erguido um palacete especialmente para a ocasião. Ostentava os novos símbolos nacionais criados por decreto de D. Pedro no dia 18 de setembro. Em verde e amarelo, o escudo das armas e o distintivo, também chamado de tope nacional, combinavam elementos da heráldica portuguesa, como a esfera armilar (representação da abóbada celeste e do império) e a cruz da Ordem de Cristo, com motivos tropicais: um ramo de café e outro de tabaco ao redor de um campo verde. Era uma simbologia de duplo sentido. O verde representava as florestas, mas também era a cor da tradição no escudo da real família de Bragança. O amarelo remetia simultanea-mente ao ouro do Brasil e à cor da casa de Lorena, usada na Áustria pelos Habsburgo da imperatriz Leopoldina.2 D. Pedro saiu do Palácio da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, às dez horas, acompanhado por D. Leopoldina e pela filha mais velha do casal, a princesa Maria da Glória, então com três anos. O novo imperador completava 24 anos naquele dia, 15 dos quais havia passado no Brasil. A guarda de honra, composta por soldados paulistas e fluminenses, abria o cortejo, precedida por oito batedores. A cor e o desenho dos uniformes inspiravam-se na vestimenta do exército austríaco. Seguiam-se três rapazes representando a diversidade racial brasileira: um índio, um mulato e um negro. Atrás vinha o coche imperial ladeado por quatro pajens e escoltado por mais um destacamento da guarda de honra. Dois carros com autoridades e camaristas do palácio fechavam o séquito. Ao chegar ao Campo de Santana, D. Pedro foi recebido com gritos e vivas da multidão. Depois de subir no palacete, onde já estavam os ministros e outras autoridades, ouviu um longo discurso proferido pelo presidente do senado da Câmara, José Clemente Pereira, e aceitou solenemente o título de imperador e defensor perpétuo do Brasil. O povo reagiu com entusiasmo ainda maior, sacudindo lenços brancos. Era uma consagração popular como nunca se vira no Brasil. Muitas pessoas se abraçavam e choravam. Segundo o pintor Jean-Baptiste Debret, que registrou a cena, o próprio imperador também chorou, dando pleno desafogo à sensibilidade de sua alma, oprimida pelo aluvião de paixões que a assaltavam. Novamente a cidade estremeceu sob o impacto de 101 tiros de canhão seguidos de duas cargas da infantaria. Cinco anos depois do nascimento do filho, a 7 de abril de 1831, o primeiro imperador abdicou o trono e regressou a Portugal. Dom Pedro foi aclamado imperador do Brasil. As aclamações da multidão e os tiros de canhão o aterrorizaram. A festa do país significou para ele o afastamento do pai, que nunca mais veria. Já perdera a mãe nove dias após completar um ano de idade. O protocolo de saudação ao imperador era de 21 tiros e assim era nas ocasiões em que era recebido em suas viagens. A última saudação ao Imperador Dom Pedro II registrada no episódio do golpe republicano e do banimento da família Imperial foi no dia 2 de dezembro de 1889, aniversário do Imperador na altura do arquipélago de Cabo Verde. Quando da partida do navio Alagoas, que conduzia a família imperial ao exilio, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canhão. Nesse momento, foi içada a bandeira do Império, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados até as lágrimas. Da embarcação lusitana e de alguns navios alemães que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram lenços brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64º aniversário do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de saudação do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. dom Pedro respondeu com palavras trêmulas:- Bebo a prosperidade do Brasil!

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DOM PEDRO II CANHÃO DE HONRA OU DE SALVA - RARO CANHÃO FUNDIDO EM BRONZE COM SUA CARRETA EM MADEIRA DOTADA DE GUARNIÇÕES TAMBÉM EM BRONZE. POSSUI NA PARTE SUPERIOR COROA IMPERIAL E MONOGRAMA PII RELATIVO A DOM PEDRO II. TRATA-SE DE UM CANHÃO MÓVEL, PORTÁVEL E EMPREGO EM CERIMÓNIAS PROTOCOLARES DE GOVERNO OU CELEBRAÇÃO DE DATAS IMPORTANTES LIGADAS AO IMPÉRIO E AO IMPERADOR. TEM PRESILHAS QUE PERMITEM DESMONTA-LO E TRANSPORTA-LO FACILMENTE.PEÇA EXTRAORDINÁRIA, DE ÉPOCA E EM ÓTIMO ESTADO DE CONSERVAÇÃO. BRASIL, PRIMEIRA METADE DO SEC. XIX. 50 CM DE COMPRIMENTO O CANHÃO COM O CARRO FICA COM 52 CM.NOTA: A presença militar em atos públicos relacionados com o calendário festivo Real, incluindo-se aí as honras fúnebres, marcava-se por acções coreografadas das tropas ao som das caixas, tambores, instrumentos de sopro e também pelo aparato sonoro bélico. Esse era constituído por salvas de fuzilaria e artilharia dadas pelos regimentos, pelos castelos e fortalezas e pelas embarcações que utilizavam, nas operações navais, esses sons como meio de comunicação e como forma de saudar hierarquicamente as autoridades. Nas festas, a sonoridade bélica compunha o cerimonial, ordenando-o, dando-lhe maior solenidade e atuando como demonstração do poderio militar da coroa impondo, através da coação sonora aos seus súditos, a autoridade dos monarcas. Segundo nos informa o militar Raimundo José da Cunha Mattos (1776-1839), deve-se aos venezianos, no século XIV, a invenção e a introdução militar das salvas, tendo esta prática, nos séculos seguintes, expandindo-se para outros reinos da Europa: Os Venezianos forão inventores, ou introdutores das salvas de Artilharia no século 14, e o seu costume teve aceitação nos outros Povos da Europa. As salvas são de Artilharia, ou de Fuzilaria. As primeiras constam de um numero de tiros correspondente á graduação, ou categoria da pessoa a quem se salva: as segundas sempre consistem em tres descargas de fogo rolante da direita para a esquerda da linha, quando a salva he de alegria, ou de tres descargas cerradas quando o fogo he em funeral3. Em Portugal, a regulamentação das salvas militares dá-se, faseadamente, entre os séculos XVII e XIX, com vários decretos emitidos durante esse período, acompanhando o desenvolvimento da prática naval. Entretanto, no que diz respeito ao cerimonial fúnebre real, o Regimento do Senado da Câmara de Lisboa, de 30 de Agosto de 1502, no capítulo sobre o funeral (dó) e aclamação (levantamento) do Rei, já menciona que durante essas cerimónias todos las naoos e navios que ouver amte O porto seram apemdoadas E despararan seus tiros a tenpo devido E asy todos loos spingardeiros que ouver na çidade quamdo se der a Voz do levantamento acabadaa de se dar despararam seus tiros como dito he. .Entre as cerimónias fúnebres da casa real portuguesa, é a partir do falecimento de D. João V, em 1750, que se tornou possível constatar a presença e a funcionalidade dos sons bélicos, e a reprodutibilidade desse modelo sonoro por todo o reino e seus domínios, através das várias relações sobre as cerimónias realizadas pela morte do Fidelíssimo Rei. (...) concorreraõ todas as Communidades Religiozas Monachaes, e Mendicantes, e de Clerigos Regulares de Lisboa, ainda as mais privilegiadas, e com devoçaõ, e harmonia cantaraõ os Responsos costumados. (...) O Cabido da Basilica de Santa Maria com a sua Communidade se portou nesta função taõ gravemente, que enterneceo, e edificou aos circunstantes, cantando solemne Responso pelo seu Augusto Benfeitor. Nesse mesmo tempo se repetiaõ de quarto a quarto os tiros de Canhaõ, que se disparavaõ no Castello, e Baluarte da Vedoria, cujo estrondo, unindo-se ao que faziaõ todos os sinos da Cidade, e ao toque das trombetas á surdina dos regimentos da Cavallaria, e caixas destemperadas cubertas de luto, da Infantaria, rompendo os ares, penetravaõ os coraçoens com taõ sensivel dor, que Lisboa nunca vio em muitos annos dia mais triste, e lamentavel. Sendo Lisboa e posteriormente o Rio de Janeiro espaços de residência da corte e os principais núcleos políticos do reino, estas cidades, devido à sua importância, localização geográfica e à conexão marítima, dependiam de edifícios fortificados, estrategicamente posicionados assim como em outros portos de domínio português para garantir o controlo da entrada e saída de todo os tipos de navios e, principalmente, a defesa militar. Para isso era essencial o conhecimento prévio dos protocolos sonoros (associados às bandeiras hasteadas) utilizados, através dos regulamentos das salvas, para a comunicação a longa distância entre as próprias embarcações e, entre estas e as fortalezas3. Nesse sentido, os diários de viagem de oficiais estrangeiros contribuíram para a circulação de informações, não somente acerca das cidades visitadas mas, também, dos procedimentos vigentes nos portos portugueses no que diz respeito à relevância dos sinais sonoros. Um erro na administração das salvas poderia ocasionar em pequenos conflitos diplomáticos ou, em caso extremo, em um ataque ao navio. Na chegada da fragata Bondeuse à baía do Rio de Janeiro, a 21 de Junho de 1767, por exemplo, o oficial francês Louis Antonie de Bougainville (1729-1811) ordenou que a bandeira portuguesa fosse hasteada e que fosse dado um tiro de canhão. Estando a embarcação em frente a Fortaleza de Santa Cruz, receberam um oficial português que, conforme determinado, exigiu saber o objetivo da viagem. O desenrolar da história é assim contado por Bougainville: Mandei o Chevalier de Bournand com ele para informar o Conde d´Acunha, vice-rei do Brasil, e discutir as saldas de costume. (...) O Chevalier de Bournand voltou logo depois, e me disse que a respeito da saudação, o Conde d´Acunha havia respondido que quando alguém, ao se encontrar com outro na rua, tirava o chapéu, antes não perguntava se esta cortesia seria devolvida ou não; que se saudássemos o lugar, ele veria o que tinha que fazer. Como essa resposta não era uma, não saudei. (...) No dia 22, fomos em conjunto fazer uma visita ao vice-rei; ele nos devolveu a bordo no dia 25, e quando ele saiu, eu o saudei com dezenove tiros de canhão, os quais a terra retornou. O falecimento de D. Maria I, em 1816, na cidade do Rio de Janeiro inaugurou naquela cidade o protocolo das salvas para o protocolo da morte de um soberano. Dona Maria foi a única monarca a falecer em território do Brasil. No dia 20 de Março, após às onze horas e um quarto, os sinos da cidade anunciaram a morte de D. Maria I. Pouco depois do meio-dia deu-se início aos procedimentos militares, com o posicionamento das bandeiras a meio-mastro, primeiramente pela Fortaleza da Ilha das Cobras que, pela hierarquia, precedia a todas as outras fortificações e navios. Desde a mesma Ilha foi dada uma salva de 21 tiros, seguida por tiros periódicos de dez minutos (e não mais de quinze), o que foi seguido pelas outras fortalezas até a uma hora da manhã, momento em que se arrearam todas as bandeiras. Também seguiram com os tiros as esquadras nacionais e estrangeiras que se encontravam ancoradas no porto, porém somente até o pôr-do-sol. Esse procedimento levou o Comandante da Esquadra Portuguesa a advertir os navios nacionais para regular o tempo do fogo e do hastear e arriar das bandeiras, com o que se praticava nas fortalezas, mantendo-se os navios estrangeiros os tiros somente até o final da tarde. No dia 21, a partir das seis horas da manhã as bandeiras foram içadas a meio-mastro e novamente as fortificações e navios deram início aos tiros periódicos, como no dia anterior, o que foi reproduzido no dia seguinte. Sobre o acompanhamento, houve formação das tropas que se posicionaram em alas, pelas ruas da cidade, desde o Palácio até o Convento da Ajuda, onde à porta, se encontrava uma Brigada de Infantaria e um Parque de Artilharia. Quanto a saída do corpo, não há menção às salvas, somente após a chegada do cortejo à porta da Igreja do Convento, às dez e um quarto da noite, momento em que todos os navios deram uma salva de 21 tiros de peça, e os destacamentos a bordo dos mesmos deram três descargas de fuzilaria. A Bateria de Artilharia e a Brigada de Infantaria, que se encontravam postadas à frente da Igreja, também deram as salvas e as descargas correspondentes, assim como as Fortalezas e os navios estrangeiros. O Brasil independente nasceu sob o estrondo de salvas de honra. O dia 12 de outubro de 1822, data da aclamação do imperador Pedro I, amanheceu nublado e chuvoso no Rio de Janeiro. Mas nem a chuva nem as rajadas de vento conseguiram atrapalhar a primeira grande festa cívica do Brasil independente. Logo ao alvorecer, a cidade foi acordada por uma ensurdecedora salva de canhões disparada das fortalezas situadas na entrada da baía de Guanabara e dos na- vios de guerra ancorados no porto. Às nove horas chegaram ao Campo de Santana hoje também denominado praça da República duas brigadas do exército. Uma delas era comandada pelo brigadeiro José Maria Pinto Peixoto, aquele mesmo que o príncipe mandara prender e soltar na famosa viagem a Minas Gerais no começo do ano. De rebelde, o brigadeiro havia-se tornado um dos mais fiéis aliados de D. Pedro e assim permaneceria pelo resto da vida. As ruas estavam ocupadas pela multidão e das varandas pendiam colchas, toalhas bordadas e outros adereços. Os moradores colocaram suas melhores roupas e saíram às janelas para ver o espetáculo. Senhoras que, pela elegância de seus vestidos, em que sobressaíam as cores verde e amarela e riqueza de enfeites, ofereciam uma cena capaz de despertar sentimentos de alvoroço na alma mais tíbia, descreveu o jornal O Espelho.1 No centro da praça foi erguido um palacete especialmente para a ocasião. Ostentava os novos símbolos nacionais criados por decreto de D. Pedro no dia 18 de setembro. Em verde e amarelo, o escudo das armas e o distintivo, também chamado de tope nacional, combinavam elementos da heráldica portuguesa, como a esfera armilar (representação da abóbada celeste e do império) e a cruz da Ordem de Cristo, com motivos tropicais: um ramo de café e outro de tabaco ao redor de um campo verde. Era uma simbologia de duplo sentido. O verde representava as florestas, mas também era a cor da tradição no escudo da real família de Bragança. O amarelo remetia simultanea-mente ao ouro do Brasil e à cor da casa de Lorena, usada na Áustria pelos Habsburgo da imperatriz Leopoldina.2 D. Pedro saiu do Palácio da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, às dez horas, acompanhado por D. Leopoldina e pela filha mais velha do casal, a princesa Maria da Glória, então com três anos. O novo imperador completava 24 anos naquele dia, 15 dos quais havia passado no Brasil. A guarda de honra, composta por soldados paulistas e fluminenses, abria o cortejo, precedida por oito batedores. A cor e o desenho dos uniformes inspiravam-se na vestimenta do exército austríaco. Seguiam-se três rapazes representando a diversidade racial brasileira: um índio, um mulato e um negro. Atrás vinha o coche imperial ladeado por quatro pajens e escoltado por mais um destacamento da guarda de honra. Dois carros com autoridades e camaristas do palácio fechavam o séquito. Ao chegar ao Campo de Santana, D. Pedro foi recebido com gritos e vivas da multidão. Depois de subir no palacete, onde já estavam os ministros e outras autoridades, ouviu um longo discurso proferido pelo presidente do senado da Câmara, José Clemente Pereira, e aceitou solenemente o título de imperador e defensor perpétuo do Brasil. O povo reagiu com entusiasmo ainda maior, sacudindo lenços brancos. Era uma consagração popular como nunca se vira no Brasil. Muitas pessoas se abraçavam e choravam. Segundo o pintor Jean-Baptiste Debret, que registrou a cena, o próprio imperador também chorou, dando pleno desafogo à sensibilidade de sua alma, oprimida pelo aluvião de paixões que a assaltavam. Novamente a cidade estremeceu sob o impacto de 101 tiros de canhão seguidos de duas cargas da infantaria. Cinco anos depois do nascimento do filho, a 7 de abril de 1831, o primeiro imperador abdicou o trono e regressou a Portugal. Dom Pedro foi aclamado imperador do Brasil. As aclamações da multidão e os tiros de canhão o aterrorizaram. A festa do país significou para ele o afastamento do pai, que nunca mais veria. Já perdera a mãe nove dias após completar um ano de idade. O protocolo de saudação ao imperador era de 21 tiros e assim era nas ocasiões em que era recebido em suas viagens. A última saudação ao Imperador Dom Pedro II registrada no episódio do golpe republicano e do banimento da família Imperial foi no dia 2 de dezembro de 1889, aniversário do Imperador na altura do arquipélago de Cabo Verde. Quando da partida do navio Alagoas, que conduzia a família imperial ao exilio, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canhão. Nesse momento, foi içada a bandeira do Império, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados até as lágrimas. Da embarcação lusitana e de alguns navios alemães que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram lenços brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64º aniversário do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de saudação do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. dom Pedro respondeu com palavras trêmulas:- Bebo a prosperidade do Brasil!

Informações

Lance

Termos e Condições
Condições de Pagamento
Frete e Envio
  • TERMOS E CONDIÇÕES

    1ª. As peças que compõem o presente LEILÃO, foram cuidadosamente examinadas pelos organizadores que, solidários com os proprietários das mesmas, se responsabilizam por suas descrições.

    2ª. Em caso eventual de engano na autenticidade de peças, comprovado por peritos idôneos, e mediante laudo assinado, ficará desfeita a venda, desde que a reclamação seja feita em até 5 dias após o término do leilão. Findo o prazo, não será mais admitidas quaisquer reclamação, considerando-se definitiva a venda.

    3ª. As peças estrangeiras serão sempre vendidas como Atribuídas.

    4ª. O Leiloeiro não é proprietário dos lotes, mas o faz em nome de terceiros, que são responsáveis pela licitude e desembaraço dos mesmos.

    5ª. Elaborou-se com esmero o catálogo, cujos lotes se acham descritos de modo objetivo. As peças serão vendidas NO ESTADO em que foram recebidas e expostas. Descrição de estado ou vícios decorrentes do uso será descrito dentro do possível, mas sem obrigação. Pelo que se solicita aos interessados ou seus peritos, prévio e detalhado exame até o dia do pregão. Depois da venda realizada não serão aceitas reclamações quanto ao estado das mesmas nem servirá de alegação para descumprir compromisso firmado.

    6ª. Os leilões obedecem rigorosamente à ordem do catalogo.

    7ª. Ofertas por escrito podem ser feitas antes dos leilões, ou autorizar a lançar em seu nome; o que será feito por funcionário autorizado.

    8ª. Os Organizadores colocarão a título de CORTESIA, de forma gratuita e confidencial, serviço de arrematação pelo telefone e Internet, sem que isto o obrigue legalmente perante falhas de terceiros.

    8.1. LANCES PELA INTERNET: O arrematante poderá efetuar lances automáticos, de tal maneira que, se outro arrematante cobrir sua oferta, o sistema automaticamente gerará um novo lance para aquele arrematante, acrescido do incremento mínimo, até o limite máximo estabelecido pelo arrematante. Os lances automáticos ficarão registrados no sistema com a data em que forem feitos. Os lances ofertados são IRREVOGÁVEIS e IRRETRATÁVEIS. O arrematante é responsável por todos os lances feitos em seu nome, pelo que os lances não podem ser anulados e/ou cancelados em nenhuma hipótese.

    8.2. Em caso de empate entre arrematantes que efetivaram lances no mesmo lote e de mesmo valor, prevalecerá vencedor aquele que lançou primeiro (data e hora do registro do lance no site), devendo ser considerado inclusive que o lance automático fica registrado na data em que foi feito. Para desempate, o lance automático prevalecerá sobre o lance manual.

    9ª. O Organizador se reserva o direito de não aceitar lances de licitante com obrigações pendentes.

    10ª. Adquiridas as peças e assinado pelo arrematante o compromisso de compra, NÃO MAIS SERÃO ADMITIDAS DESISTÊNCIAS sob qualquer alegação.

    11ª. O arremate será sempre em moeda nacional. A progressão dos lances, nunca inferior a 5% do anterior, e sempre em múltiplo de dez. Outro procedimento será sempre por licença do Leiloeiro; o que não cria novação.

    12ª. Em caso de litígio prevalece a palavra do Leiloeiro.

    13ª. As peças adquiridas deverão ser pagas e retiradas IMPRETERIVELMENTE em até 48 horas após o término do leilão, e serão acrescidas da comissão do Leiloeiro, (5%). Não sendo obedecido o prazo previsto, o Leiloeiro poderá dar por desfeita a venda e, por via de EXECUÇÃO JUDICIAL, cobrar sua comissão e a dos organizadores.

    14ª. As despesas com as remessas dos lotes adquiridos, caso estes não possam ser retirados, serão de inteira responsabilidade dos arrematantes. O cálculo de frete, serviços de embalagem e despacho das mercadorias deverão ser considerados como Cortesia e serão efetuados pelas Galerias e/ou Organizadores mediante prévia indicação da empresa responsável pelo transporte e respectivo pagamento dos custos de envio.

    15ª. Qualquer litígio referente ao presente leilão está subordinado à legislação brasileira e a jurisdição dos tribunais da cidade de Campinas - SP. Os casos omissos regem-se pela legislação pertinente, e em especial pelo Decreto 21.981, de 19 de outubro de 1932, Capítulo III, Arts. 19 a 43, com as alterações introduzidas pelo Decreto 22.427., de 1º. de fevereiro de 1933.

  • CONDIÇÕES DE PAGAMENTO

    A vista com acréscimo da taxa do leiloeiro de 5%.
    Através de depósito ou transferência bancária em conta a ser enviada por e-mail após o último dia do leilão.
    Não aceitamos cartões de crédito ou débito.
    O pagamento deverá ser efetuado até 72 horas após o término do leilão sob risco da venda ser desfeita.

  • FRETE E ENVIO

    As despesas com retirada e remessa dos lotes, são de responsabilidade dos arrematantes. Veja nas Condições de Venda do Leilão.
    Despachamos para todos os estados. A titulo de cortesia a casa poderá embrulhar as peças arrematadas e providenciar transportadora adequada