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Numismática - Moedas

BRASIL COLÔNIA - 320 RÉIS ANO 1755 LETRA R. REINADO DOM JOSÉ I. P241. MUITO BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO. ESSA MOEDA É DATADA DO ANO DA DESTRUIÇÃO DE LISBOA NO TERREMOTO DE 1755. NOTA: Na manhã de 1º de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos, Lisboa foi cenário de uma das maiores tragédias da história. Um terremoto seguido por tsunami e incêndios deixou milhares de mortos e igrejas destruídas no extremamente devoto Reino de Portugal, ironia que impactou o pensamento da época. A devastação da cidade, antes de traçado medieval, também possibilitou o nascimento do desenho atual das ruas da capital portuguesa. O grande terremoto de Lisboa, com magnitude de 9,0 na escala Richter, iniciou-se com um tremor surdo e destrutivo, pontualmente às 9h40 da manhã (hora local) do dia 1 de novembro de 1755. Logo depois veio o choque maior, que em questão de segundos transformou a capital portuguesa num monte de ruínas. O epicentro do terremoto foi em algum lugar no fundo do oceano, ao largo da costa portuguesa. Mais que terremoto, foi um maremoto. Assim, enquanto a cidade sentia os efeitos das ondas de acomodações geológicas em profundidade, sofria também com tsunamis que varriam toda a costa do país. Tudo começou, conforme o relato de Sir Charles Lyell, em sua clássica obra The Principles of Geology (1830), quando se ouviu um som como se fosse o de um "trovão subterrâneo". Imediatamente a seguir, um violento choque pôs abaixo a maior parte daquela cidade. Nos primeiros sessenta segundos após o terremoto aproximadamente mil pessoas já haviam perecido. O mar primeiro recuou, deixando seca a orla litorânea. Em seguida, avançou de repente, elevando-se "mais de cinqüenta pés acima de seu nível costumeiro" e tragando tudo o que encontrava pela frente.O terremoto aconteceu num dia santificado (o feriado de Todos os Santos), quando a maioria dos 250 mil habitantes de Lisboa lotava as igrejas e conventos, fato que tornou ainda mais terrível a extensão do desastre. O choque do terremoto foi seguido pela queda quase imediata de igrejas e conventos lotadas de fiéis, além de quase todos os edifícios públicos de Lisboa e mais de um quarto das construções residenciais. O que se manteve de pé não teria destino melhor: duas horas depois do primeiro abalo, focos de incêndio ardiam por toda parte, e com tal violência que se estenderam por mais três dias, destruindo quase tudo o que ainda restava. Uma enciclopédia americana de 1831 descreve o terremoto com palavras eloqüentes: "O terror de povo estava além de qualquer descrição. Ninguém chorou; o sofrimento estava além das lágrimas. O povo corria em todas as direções, delirante de horror e assombro, batendo nos próprios rostos e peitos, a chorar e a gritar: 'Misericórdia! É o fim do mundo!' As mães esqueceram-se de suas crianças, e corriam carregando crucifixos. Infelizmente, muita gente correu às igrejas para pedir proteção, mas era em vão que se expunha o sacramento: imagens, sacerdotes, e as pessoas foram enterrados em uma ruína comum." Como decorrência do terremoto, do maremoto e dos incêndios, morreram em Portugal aproximadamente 60 mil pessoas, um terço delas apenas em Lisboa, onde cenas terríveis se repetiam por toda parte. A cidade tinha um novo cais todo revestido de mármore, obra suntuosa e cara. Muitos lisboetas que sobreviveram ao primeiro choque, crendo que estariam mais seguros em campo aberto, correram para o novo cais, onde pensavam escapar dos desabamentos e das chamas. Todavia, repentinamente o cais afundou no mar e as fendas abertas no chão tragaram toda a multidão ali refugiada. Nenhum corpo jamais voltou à superfície. Tsunamis varreram toda a região em torno, atingindo as áreas costeiras da França e matando 10 mil pessoas no litoral do Marrocos. Ondas de terremotos e tsunamis se espraiaram por regiões longínquas, a ponto de se fazerem sentir na Groenlândia e nas ilhas do Caribe. Ondas gigantescas provocaram destruição em praias espanholas e no porto de Cádis. O terremoto destruiu também uma parte considerável de Argel, no norte da África, e foi sentido na Noruega e na Suécia, sem falar na Ilha da Madeira e nos Açores, em pleno Atlântico. Poucas catástrofes geológicas geraram tantas indagações e lançaram tantas dúvidas no homem moderno como ocorreu com o trágico terremoto de Lisboa de 1755. O mundo católico estarreceu-se porque a capital do Reino de Portugal era uma das cidades mais beatas que se conhecia. Não havia lisboeta que não deixasse encomendado junto à sua paróquia, para depois da sua morte, uma infinidade de missas e solicitações de velas acesas para a sua alma, para que descansasse em paz. Todas, missas e velas, quase sempre pagas antecipadamente. Porém nada disso adiantou e Lisboa foi punida como Sodoma o fora nos tempos bíblicos. No restante da Europa, o desaparecimento súbito de uma cidade inteira causou profundo abalo nas crenças otimistas geradas pela filosofia de Leibniz, segundo a qual vivíamos "no melhor dos mundos possíveis" (amplamente satirizada por Voltaire na sua narrativa Cândido, ou o otimismo, onde também dedicou trechos aos devastadores efeitos do terremoto de Lisboa). Pode-se considerar que as obras de reconstrução da cidade coordenadas durante o consulado pombalino foram facilitadas graças à existência do ouro vindo do Brasil que permitiu a construção de uma nova cidade, moderna, no lugar da Lisboa medieval que ainda subsistia nos finais do século XVIII. "Na manhã do 1º de novembro de 1755 a cidade estremeceu, abalada profundamente, e começou a desabar. Eram nove horas, dia de Todos-os-Santos. Nas suas casas ardiam as velas dos oratórios, e as igrejas regurgitavam povo a ouvir missas. Toda a gente, numa onda, correu às praias; mas, rolando em massas, estancou perante a onda que vinha do rio, galgando a inundar as ruas, invadindo as casas. Por sobre este encontro ruidoso, uma nuvem de pó que toldava os ares e escurecia o sol, pairava, formada já pelos detritos das construções e das mobílias, que o abalo interno da terra vasculhava, e os desabamentos enviavam, em estilhas, para o ar. A onda do povo aflito, retrocedendo, a fugir do mar, tropeçava nas ruínas; e as quedas, e a metralha dos muros que tombavam, abriam na floresta viva, aditada pelo vento da desgraça, clareiras de morte, montões de cadáveres e poças de sangue, dos membros decepados, com manchas brancas de cérebros derramados contra as esquinas. E as casas erguiam-se com as paredes desabadas, os tetos abertos sobre os esqueletos dos tabiques, mostrando a nu todos os interiores funestos, neste dia em que, para muitos, Deus julgara e condenara Lisboa, como outrora fizera com Sodoma. Por isso rouco trovão dos desabamentos se ouvia cortado pelos ais dos moribundos, e pelos gritos dos homens e das mulheres, abraçados às cruzes, aos santos, às relíquias, soluçando ladainhas, ungindo moribundos, parando esgazeados a cada novo abalo da terra que não cessava de tremer, arrastando-se pelo chão, de joelhos, com as mãos postas, a face em lágrimas, a clamar: Misericórdia! Misericórdia! Casas, palácios, conventos, mosteiros, hospitais, igrejas, campanários, teatros, fortalezas, pórticos, tudo, tudo caía. 'Se visses somente o palácio real, diz uma testemunha, que singular espetáculo meu irmão!' Os varões de ferro, retorcidos como vimes, as cantarias estaladas como vidros. A onda do rio sorvia num momento o cais do Terreiro do Paço, com os barcos atracados coalhados de gente. Dos andares altos precipitavam-se sobre as lajes das ruas. O medo crescia, vinha loucura: viam-se mortos arrastados pelos vivos, viam-se mutilados coxeando, gente correndo desgrenhada, seminua, homens e mulheres, velhos e crianças, dilacerados, sangrentos, arrastando uma perna fraturada, esvaindo-se em sangue por algum membro decepado. Gritos, choros, clamores, imprecações, ais, preces, um burburinho de vozes desvairadas acompanhava os gemidos comprimidos dos soterrados nos escombros No turbilhão das ruas, havia quedas e mortes, abraços e agonias. A mesma loucura dos homens era o desvairamento dos brutos: os machos, desbocados, arrastavam os cavaleiros e as caleças, precipitando-se nos despenhadeiros da cidade montuosa; e a massa de gente viva, moribunda e morta, de envolta com os entulhos, rolavam nas ruas ladeadas pelos esqueletos das casas dando uma imagem desolada do que seria o caos. Quando a terra se subvertia, quando o mar vinha subindo, a afogar a terra, quando no ar faiscavam as línguas flamíferas rutilantes, que lembrança poderia haver das invenções humanas? Abraçados, confundidos, na comunidade do pranto, fidalgas e freiras, meretrizes e mães, mendigos e senhores, vilões e cavalheiros, abraçavam-se na comunidade da fome, do frio, da nudez, do terror. De rastros a cidade inteira, sacudida pelo abalo formidável, reunia toda a sua eloqüência numa palavra única - Misericórdia! Misericórdia! Mas vinha o clarão das chamas com a sua luz sinistra; vinha a labareda fustigar com lume a pobre gente seminua, tiritando sob o açoite de um nordeste frígido. Gelava-se a ardia-se a um tempo; sufocava-se em fumo e pó. E as labaredas cresciam, e o incêndio lavrava, e aos gritos desvairados dos infelizes juntava-se o crepitar das madeiras, o estalar das cantarias, a cascalha dos espelhos, dos cristais e dos charões, que o fogo devorava. A densa nuvem de pó que escurecia tudo, iluminava-se com os clarões vermelhos que rebentavam por toda a parte, porque Lisboa inteira derrocada era um braseiro. As línguas orgulhosas das chamas subiam emproadas para o céu, juntando às preces lacrimosas de habitantes como um protesto satânico dos elementos. Outros protestos, mais positivos e igualmente horríveis, atroavam agora os ares: os escravos vingavam-se da sua escravidão, os mendigos da sua pobreza, os maus da sua maldade. O assassinato, o estupro, o roubo, como numa terra posta ao saque, rolavam de envolta com as ruínas e o fogo; e por entre os destroços ainda apagados viam-se os perfis negros dos escravos, rindo infernalmente, com os olhos injetados, os dentes brancos, a atirar tições ardentes para cima das ruínas, aumentando o incêndio, aclamando a chama vingadora... Misericórdia! Misericórdia! Calcula-se terem morrido neste dia, em Lisboa, de 10 a 15 mil pessoas. Dessa hecatombe nasceu o poder do marquês do Pombal... O terramoto fez-se pois homem, e encarnou em Pombal, seu filho." Começava a era Pombalina.

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BRASIL COLÔNIA - 320 RÉIS ANO 1755 LETRA R. REINADO DOM JOSÉ I. P241. MUITO BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO. ESSA MOEDA É DATADA DO ANO DA DESTRUIÇÃO DE LISBOA NO TERREMOTO DE 1755. NOTA: Na manhã de 1º de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos, Lisboa foi cenário de uma das maiores tragédias da história. Um terremoto seguido por tsunami e incêndios deixou milhares de mortos e igrejas destruídas no extremamente devoto Reino de Portugal, ironia que impactou o pensamento da época. A devastação da cidade, antes de traçado medieval, também possibilitou o nascimento do desenho atual das ruas da capital portuguesa. O grande terremoto de Lisboa, com magnitude de 9,0 na escala Richter, iniciou-se com um tremor surdo e destrutivo, pontualmente às 9h40 da manhã (hora local) do dia 1 de novembro de 1755. Logo depois veio o choque maior, que em questão de segundos transformou a capital portuguesa num monte de ruínas. O epicentro do terremoto foi em algum lugar no fundo do oceano, ao largo da costa portuguesa. Mais que terremoto, foi um maremoto. Assim, enquanto a cidade sentia os efeitos das ondas de acomodações geológicas em profundidade, sofria também com tsunamis que varriam toda a costa do país. Tudo começou, conforme o relato de Sir Charles Lyell, em sua clássica obra The Principles of Geology (1830), quando se ouviu um som como se fosse o de um "trovão subterrâneo". Imediatamente a seguir, um violento choque pôs abaixo a maior parte daquela cidade. Nos primeiros sessenta segundos após o terremoto aproximadamente mil pessoas já haviam perecido. O mar primeiro recuou, deixando seca a orla litorânea. Em seguida, avançou de repente, elevando-se "mais de cinqüenta pés acima de seu nível costumeiro" e tragando tudo o que encontrava pela frente.O terremoto aconteceu num dia santificado (o feriado de Todos os Santos), quando a maioria dos 250 mil habitantes de Lisboa lotava as igrejas e conventos, fato que tornou ainda mais terrível a extensão do desastre. O choque do terremoto foi seguido pela queda quase imediata de igrejas e conventos lotadas de fiéis, além de quase todos os edifícios públicos de Lisboa e mais de um quarto das construções residenciais. O que se manteve de pé não teria destino melhor: duas horas depois do primeiro abalo, focos de incêndio ardiam por toda parte, e com tal violência que se estenderam por mais três dias, destruindo quase tudo o que ainda restava. Uma enciclopédia americana de 1831 descreve o terremoto com palavras eloqüentes: "O terror de povo estava além de qualquer descrição. Ninguém chorou; o sofrimento estava além das lágrimas. O povo corria em todas as direções, delirante de horror e assombro, batendo nos próprios rostos e peitos, a chorar e a gritar: 'Misericórdia! É o fim do mundo!' As mães esqueceram-se de suas crianças, e corriam carregando crucifixos. Infelizmente, muita gente correu às igrejas para pedir proteção, mas era em vão que se expunha o sacramento: imagens, sacerdotes, e as pessoas foram enterrados em uma ruína comum." Como decorrência do terremoto, do maremoto e dos incêndios, morreram em Portugal aproximadamente 60 mil pessoas, um terço delas apenas em Lisboa, onde cenas terríveis se repetiam por toda parte. A cidade tinha um novo cais todo revestido de mármore, obra suntuosa e cara. Muitos lisboetas que sobreviveram ao primeiro choque, crendo que estariam mais seguros em campo aberto, correram para o novo cais, onde pensavam escapar dos desabamentos e das chamas. Todavia, repentinamente o cais afundou no mar e as fendas abertas no chão tragaram toda a multidão ali refugiada. Nenhum corpo jamais voltou à superfície. Tsunamis varreram toda a região em torno, atingindo as áreas costeiras da França e matando 10 mil pessoas no litoral do Marrocos. Ondas de terremotos e tsunamis se espraiaram por regiões longínquas, a ponto de se fazerem sentir na Groenlândia e nas ilhas do Caribe. Ondas gigantescas provocaram destruição em praias espanholas e no porto de Cádis. O terremoto destruiu também uma parte considerável de Argel, no norte da África, e foi sentido na Noruega e na Suécia, sem falar na Ilha da Madeira e nos Açores, em pleno Atlântico. Poucas catástrofes geológicas geraram tantas indagações e lançaram tantas dúvidas no homem moderno como ocorreu com o trágico terremoto de Lisboa de 1755. O mundo católico estarreceu-se porque a capital do Reino de Portugal era uma das cidades mais beatas que se conhecia. Não havia lisboeta que não deixasse encomendado junto à sua paróquia, para depois da sua morte, uma infinidade de missas e solicitações de velas acesas para a sua alma, para que descansasse em paz. Todas, missas e velas, quase sempre pagas antecipadamente. Porém nada disso adiantou e Lisboa foi punida como Sodoma o fora nos tempos bíblicos. No restante da Europa, o desaparecimento súbito de uma cidade inteira causou profundo abalo nas crenças otimistas geradas pela filosofia de Leibniz, segundo a qual vivíamos "no melhor dos mundos possíveis" (amplamente satirizada por Voltaire na sua narrativa Cândido, ou o otimismo, onde também dedicou trechos aos devastadores efeitos do terremoto de Lisboa). Pode-se considerar que as obras de reconstrução da cidade coordenadas durante o consulado pombalino foram facilitadas graças à existência do ouro vindo do Brasil que permitiu a construção de uma nova cidade, moderna, no lugar da Lisboa medieval que ainda subsistia nos finais do século XVIII. "Na manhã do 1º de novembro de 1755 a cidade estremeceu, abalada profundamente, e começou a desabar. Eram nove horas, dia de Todos-os-Santos. Nas suas casas ardiam as velas dos oratórios, e as igrejas regurgitavam povo a ouvir missas. Toda a gente, numa onda, correu às praias; mas, rolando em massas, estancou perante a onda que vinha do rio, galgando a inundar as ruas, invadindo as casas. Por sobre este encontro ruidoso, uma nuvem de pó que toldava os ares e escurecia o sol, pairava, formada já pelos detritos das construções e das mobílias, que o abalo interno da terra vasculhava, e os desabamentos enviavam, em estilhas, para o ar. A onda do povo aflito, retrocedendo, a fugir do mar, tropeçava nas ruínas; e as quedas, e a metralha dos muros que tombavam, abriam na floresta viva, aditada pelo vento da desgraça, clareiras de morte, montões de cadáveres e poças de sangue, dos membros decepados, com manchas brancas de cérebros derramados contra as esquinas. E as casas erguiam-se com as paredes desabadas, os tetos abertos sobre os esqueletos dos tabiques, mostrando a nu todos os interiores funestos, neste dia em que, para muitos, Deus julgara e condenara Lisboa, como outrora fizera com Sodoma. Por isso rouco trovão dos desabamentos se ouvia cortado pelos ais dos moribundos, e pelos gritos dos homens e das mulheres, abraçados às cruzes, aos santos, às relíquias, soluçando ladainhas, ungindo moribundos, parando esgazeados a cada novo abalo da terra que não cessava de tremer, arrastando-se pelo chão, de joelhos, com as mãos postas, a face em lágrimas, a clamar: Misericórdia! Misericórdia! Casas, palácios, conventos, mosteiros, hospitais, igrejas, campanários, teatros, fortalezas, pórticos, tudo, tudo caía. 'Se visses somente o palácio real, diz uma testemunha, que singular espetáculo meu irmão!' Os varões de ferro, retorcidos como vimes, as cantarias estaladas como vidros. A onda do rio sorvia num momento o cais do Terreiro do Paço, com os barcos atracados coalhados de gente. Dos andares altos precipitavam-se sobre as lajes das ruas. O medo crescia, vinha loucura: viam-se mortos arrastados pelos vivos, viam-se mutilados coxeando, gente correndo desgrenhada, seminua, homens e mulheres, velhos e crianças, dilacerados, sangrentos, arrastando uma perna fraturada, esvaindo-se em sangue por algum membro decepado. Gritos, choros, clamores, imprecações, ais, preces, um burburinho de vozes desvairadas acompanhava os gemidos comprimidos dos soterrados nos escombros No turbilhão das ruas, havia quedas e mortes, abraços e agonias. A mesma loucura dos homens era o desvairamento dos brutos: os machos, desbocados, arrastavam os cavaleiros e as caleças, precipitando-se nos despenhadeiros da cidade montuosa; e a massa de gente viva, moribunda e morta, de envolta com os entulhos, rolavam nas ruas ladeadas pelos esqueletos das casas dando uma imagem desolada do que seria o caos. Quando a terra se subvertia, quando o mar vinha subindo, a afogar a terra, quando no ar faiscavam as línguas flamíferas rutilantes, que lembrança poderia haver das invenções humanas? Abraçados, confundidos, na comunidade do pranto, fidalgas e freiras, meretrizes e mães, mendigos e senhores, vilões e cavalheiros, abraçavam-se na comunidade da fome, do frio, da nudez, do terror. De rastros a cidade inteira, sacudida pelo abalo formidável, reunia toda a sua eloqüência numa palavra única - Misericórdia! Misericórdia! Mas vinha o clarão das chamas com a sua luz sinistra; vinha a labareda fustigar com lume a pobre gente seminua, tiritando sob o açoite de um nordeste frígido. Gelava-se a ardia-se a um tempo; sufocava-se em fumo e pó. E as labaredas cresciam, e o incêndio lavrava, e aos gritos desvairados dos infelizes juntava-se o crepitar das madeiras, o estalar das cantarias, a cascalha dos espelhos, dos cristais e dos charões, que o fogo devorava. A densa nuvem de pó que escurecia tudo, iluminava-se com os clarões vermelhos que rebentavam por toda a parte, porque Lisboa inteira derrocada era um braseiro. As línguas orgulhosas das chamas subiam emproadas para o céu, juntando às preces lacrimosas de habitantes como um protesto satânico dos elementos. Outros protestos, mais positivos e igualmente horríveis, atroavam agora os ares: os escravos vingavam-se da sua escravidão, os mendigos da sua pobreza, os maus da sua maldade. O assassinato, o estupro, o roubo, como numa terra posta ao saque, rolavam de envolta com as ruínas e o fogo; e por entre os destroços ainda apagados viam-se os perfis negros dos escravos, rindo infernalmente, com os olhos injetados, os dentes brancos, a atirar tições ardentes para cima das ruínas, aumentando o incêndio, aclamando a chama vingadora... Misericórdia! Misericórdia! Calcula-se terem morrido neste dia, em Lisboa, de 10 a 15 mil pessoas. Dessa hecatombe nasceu o poder do marquês do Pombal... O terramoto fez-se pois homem, e encarnou em Pombal, seu filho." Começava a era Pombalina.

Informações

Lance

    • Lote Vendido
Termos e Condições
Condições de Pagamento
Frete e Envio
  • TERMOS E CONDIÇÕES

    1ª. As peças que compõem o presente LEILÃO, foram cuidadosamente examinadas pelos organizadores que, solidários com os proprietários das mesmas, se responsabilizam por suas descrições.

    2ª. Em caso eventual de engano na autenticidade de peças, comprovado por peritos idôneos, e mediante laudo assinado, ficará desfeita a venda, desde que a reclamação seja feita em até 5 dias após o término do leilão. Findo o prazo, não será mais admitidas quaisquer reclamação, considerando-se definitiva a venda.

    3ª. As peças estrangeiras serão sempre vendidas como Atribuídas.

    4ª. O Leiloeiro não é proprietário dos lotes, mas o faz em nome de terceiros, que são responsáveis pela licitude e desembaraço dos mesmos.

    5ª. Elaborou-se com esmero o catálogo, cujos lotes se acham descritos de modo objetivo. As peças serão vendidas NO ESTADO em que foram recebidas e expostas. Descrição de estado ou vícios decorrentes do uso será descrito dentro do possível, mas sem obrigação. Pelo que se solicita aos interessados ou seus peritos, prévio e detalhado exame até o dia do pregão. Depois da venda realizada não serão aceitas reclamações quanto ao estado das mesmas nem servirá de alegação para descumprir compromisso firmado.

    6ª. Os leilões obedecem rigorosamente à ordem do catalogo.

    7ª. Ofertas por escrito podem ser feitas antes dos leilões, ou autorizar a lançar em seu nome; o que será feito por funcionário autorizado.

    8ª. Os Organizadores colocarão a título de CORTESIA, de forma gratuita e confidencial, serviço de arrematação pelo telefone e Internet, sem que isto o obrigue legalmente perante falhas de terceiros.

    8.1. LANCES PELA INTERNET: O arrematante poderá efetuar lances automáticos, de tal maneira que, se outro arrematante cobrir sua oferta, o sistema automaticamente gerará um novo lance para aquele arrematante, acrescido do incremento mínimo, até o limite máximo estabelecido pelo arrematante. Os lances automáticos ficarão registrados no sistema com a data em que forem feitos. Os lances ofertados são IRREVOGÁVEIS e IRRETRATÁVEIS. O arrematante é responsável por todos os lances feitos em seu nome, pelo que os lances não podem ser anulados e/ou cancelados em nenhuma hipótese.

    8.2. Em caso de empate entre arrematantes que efetivaram lances no mesmo lote e de mesmo valor, prevalecerá vencedor aquele que lançou primeiro (data e hora do registro do lance no site), devendo ser considerado inclusive que o lance automático fica registrado na data em que foi feito. Para desempate, o lance automático prevalecerá sobre o lance manual.

    9ª. O Organizador se reserva o direito de não aceitar lances de licitante com obrigações pendentes.

    10ª. Adquiridas as peças e assinado pelo arrematante o compromisso de compra, NÃO MAIS SERÃO ADMITIDAS DESISTÊNCIAS sob qualquer alegação.

    11ª. O arremate será sempre em moeda nacional. A progressão dos lances, nunca inferior a 5% do anterior, e sempre em múltiplo de dez. Outro procedimento será sempre por licença do Leiloeiro; o que não cria novação.

    12ª. Em caso de litígio prevalece a palavra do Leiloeiro.

    13ª. As peças adquiridas deverão ser pagas e retiradas IMPRETERIVELMENTE em até 48 horas após o término do leilão, e serão acrescidas da comissão do Leiloeiro, (5%). Não sendo obedecido o prazo previsto, o Leiloeiro poderá dar por desfeita a venda e, por via de EXECUÇÃO JUDICIAL, cobrar sua comissão e a dos organizadores.

    14ª. As despesas com as remessas dos lotes adquiridos, caso estes não possam ser retirados, serão de inteira responsabilidade dos arrematantes. O cálculo de frete, serviços de embalagem e despacho das mercadorias deverão ser considerados como Cortesia e serão efetuados pelas Galerias e/ou Organizadores mediante prévia indicação da empresa responsável pelo transporte e respectivo pagamento dos custos de envio.

    15ª. Qualquer litígio referente ao presente leilão está subordinado à legislação brasileira e a jurisdição dos tribunais da cidade de Campinas - SP. Os casos omissos regem-se pela legislação pertinente, e em especial pelo Decreto 21.981, de 19 de outubro de 1932, Capítulo III, Arts. 19 a 43, com as alterações introduzidas pelo Decreto 22.427., de 1º. de fevereiro de 1933.

  • CONDIÇÕES DE PAGAMENTO

    A vista com acréscimo da taxa do leiloeiro de 5%.
    Através de depósito ou transferência bancária em conta a ser enviada por e-mail após o último dia do leilão.
    Não aceitamos cartões de crédito ou débito.
    O pagamento deverá ser efetuado até 72 horas após o término do leilão sob risco da venda ser desfeita.

  • FRETE E ENVIO

    As despesas com retirada e remessa dos lotes, são de responsabilidade dos arrematantes. Veja nas Condições de Venda do Leilão.
    Despachamos para todos os estados. A titulo de cortesia a casa poderá embrulhar as peças arrematadas e providenciar transportadora adequada