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Arte sacra

SÃO PIO MARTIR VENERADO NA IGREJA DE NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS NO MOSTEIRO DO CARAÇA EM MINAS GERAIS RARA IMAGEM EM MADEIRA POLICORMADA E DOURADA ACONDIONADA EM REDOMA COM FEITIO DE ALTAR. O SANTO É REPRESENTADO COM SUAS VESTES DE CENTURIÃO ROMANO, COM CAPACETE, ESCUDO E ESPADA. TRATA´-SE DE INTERESSANTE OBRA DE DEVOÇÃO. MINAS GERAIS, SEC. XIX. 46 CM DE COMPRIMENTO (SANTO). 56 CM DE COMPRIMENTO (REDOMA)NOTA: A relíquia de São Pio compreende todo o corpo do santo revestido de cera, um cálice com sangue misturado a areia, unhas e dentes. As relíquias foram trazidas de Roma em 1792 para reforçar a religiosidade popular, além de confirmar os favores pontifícios concedidos ao Santuário do Caraça, nesta época merecedor das benesses do Papa Pio VI. A doação da relíquia teve como escopo papal a consolidação do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens como um aprisco de Cristo, longe daqueles que se achavam governados pelos interesses mundanos. Por essa época, estes rincões das Minas Gerais eram mananciais de vícios, superstições e beatices, onde havia potentados, sanguinários e devassos, que, contudo, não se descuidavam de que tinham alma, e, portanto, pensavam em sua salvação. O estudioso Romain Roussel conta que, desde os tempos mais recuados da Idade Média, certos fiéis peregrinos se deixaram seduzir pelas indulgências. Aqueles que viam a Vernicle (a imagem do Salvador gravada na toalha da Verônica, que se conserva em Roma) escreve o autor francês conseguiam beneficiar-se de uma redução de 9000 anos de purgatório, se vinham de um país vizinho, e de 12000 anos se atravessassem o mar (os moradores de Roma, em igual caso, não lucravam senão 3000 anos). No Caraça, os que vinham venerar as relíquias de São Pio Mártir tinham uma remissão de um terço de seus pecados. Relíquia reconhecida pela Sagrada Congregação das Indulgências São Pio Mártir é o primeiro corpo de santo vindo para o Brasil e o Irmão Lourenço o recebeu como oferta da Santa Sé para a glória do seu Santuário. Foi um favor extraordinário a doação desta insigne relíquia. A Autêntica dessa relíquia consta de documento, datado e assinado em Roma, aos 9 de julho de 1792. Era um soldado romano morto por professar a fé cristã, cujo corpo foi encontrado na Catacumba de Santa Ciríaca. Recebeu, na doação ao Caraça, o nome de Pio em homenagem ao Papa Pio VI que governava a Igreja na época. As relíquias de São Pio chegaram ao Caraça em 16 de maio de 1797, vindas da arquidiocese de Mariana, para onde foi enviada pelo Vaticano, para posteriormente serem entregues ao Irmão Lourenço, o eremita do Santuário do Caraça. As relíquias, tão logo chegaram ao Santuário, no alto da Serra, foram colocadas num altar barroco, do lado esquerdo da igreja, especialmente construído para servir de morada última àquele soldado romano que sucumbiu ao terror de Roma em nome da fé cristã. Dois séculos depois, em 16 de maio de 1992, nas comemorações do bi-centenário da entronização da relíquia no Santuário, a preciosidade foi transferida, após ter ficado nas tribunas da igreja neogótica, para o altar das celebrações, com o objetivo de facilitar a visitação e instrução dos fiéis e para que assim se cumprisse o desejo do Irmão Lourenço e do Vaticano. Os restos mortais de São Pio emprestam ao Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens ares de religiosidade plena, até então só testemunhada nas sombrias catacumbas romanas. Reedita-se assim, no Caraça, uma prática comum nos primeiros séculos da Igreja, quando nas catacumbas se celebrava a Santa Missa sobre o túmulo dos Mártires. Hoje, no Caraça, sobre o corpo de São Pio Mártir, faz-se o mesmo, pedindo a Deus fidelidade à graça do batismo e heroísmo até a morte, se necessário for. O Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Thereza Cristina visitaram o Santuário por ocasião de sua visita a Minas Gerais. Assim foi a viagem do casal imperial:O casal imperial d. Pedro II e dona Tereza Cristina, partiram do Rio de Janeiro, no dia 21.03.1881, sábado, às 6 horas da manhã, para conhecer Minas Gerais. O imperador cuidou de escrever um diário de viagem e também a imprensa deu grande cobertura à visita. Parte desses acontecimentos são aqui revividos em continuação ao anterior. No dia 11 de abril, à noitinha, a caravana havia atingido um dos pontos mais aguardados da viagem, o colégio do Caraça. O dia seguinte foi dedicado a conhecer o famoso educandário. 12 (terça-feira) Acordei às 6h. Fui tomar banho no rio. De volta, admirei as montanhas por detrás da casa, entre as quais a chamada Carapuça. Esqueci-me de falar ontem da bonita aldeola do Sumidouro, antes de subir a serra. As casas pequenas, com seus quintais floridos, estavam caiadas de novo e tudo respirava alegria. O nome de Caraça provém ou da forma de caraça de uma das montanhas ou de um português que morou perto da serra, a que davam a alcunha de Caraça. Assim ouvi do padre Clavelin. Referiu-me ele que se supunha que frei Lourenço, terceiro de São Francisco e fundador do Caraça pertencia à família Távora e, por isso, fugira para o Brasil. O capitão-general de Minas, Bernardo José Lorena, tratava-o com muita estima e deixou-lhe uma baixela. Acharam o testamento de frei Lourenço, que parece desmentir a lenda dos Távoras. Frei Lourenço comprou a primeira terra a faiscadores, doou-a a d. João VI, que mandou vir frei Leandro e Viçoso, a quem deu a terra, com o princípio de edificação da capela que se constrói no lugar da antiga, construída por frei Lourenço. Seis janelas de cada lado que fizera frei Lourenço. Depois houve uma licença de meu pai para adquirirem mais terra e, enfim, há pelo menos uma que possui a congregação, sob o nome de outrem. Respondi a Clavelin que era preciso regularizar a situação. Todo o terreno forma quase um círculo de um e meio de diâmetro. Na saleta onde escrevo há bons livros pertencente ao padre Clavelin, ou padre Sipolis, alguns de história natural. São quase 8h e vou para a missa que disse* (*celebrará) Clavelin no refeitório anterior ao atual. A casa tem um pequeno pátio com algumas flores, feto (samambaia) arborecente. Estive na biblioteca, onde achei bons livros e edições antigas, chamando minha atenção a Crônica de Eusébio, de 1483; Veneza, impressor Arnoldt Augustensis. Há aí uma pequena coleção de minerais, quase todos de Minas. Altura do Caraça sobre o nível do mar 1.300m, pelo ipsômetro de Gorceix. Aqui dizem que são 1.600. O maior frio foi já de mais 4ºC e o calor de 23 a 25. Depois fui para as aulas. Comecei pela de direito canônico. Tive que protestar contra o modo por que o professor Chavana)combatia o direito do placet. Depois ele estranhou que um monarca católico protestasse contra a doutrina e eu tive de dizer que, talvez, fosse mais católico do que ele e era tolerante, quando ele se mostrava intolerante. Expliquei sempre ao padre Clavelin, que parece-me excelente pessoa, como eu ressalvava o direito unicamente contra abusos de autoridade eclesiástica, que não deviam ficar dependentes da única apreciação daquela. Assisti a todas as classes, onde gostei, em geral, do modo por que os estudantes respondiam; desagradando-me as de álgebra e aritmética. Os professores, a meu pedido, chamavam os mais adiantados. O filho do Peixoto de Souza, de Caeté, não traduziu e regeu mal Justinus. Enquanto jantavam, fui ver a oficina do padre Boavida, que está fora missionando. Admirei aí o seu trabalho de órgão. A madeira preta das teclas é belíssima. Visitei outra partes do estabelecimento. As interrogações nas classes terminam às 4. Jantar. Subida ao pequeno morro de pedra do Calvário, de onde a vista é belíssima, sobretudo do lado da montanha da Carapuça, com matizes róseos e violáceos do por do sol. Olhei bem para todas as montanhas que cercam o edifício. Ontem, mostraram-me o pau de jacarandá a que se arrimava o irmão Lourenço e não Fr., quando Saint-Hilaire o viu aqui. Fui depois por um caramanchão onde está o chamado quiosque, até a represa de água em que espelhava a lua. A noite está belíssima. O edifício, para maior largueza dos alunos, carece ainda de bastantes obras. Tem gasto já bastante com a igreja, que ficará muito elegante. Vi muitos bem feitos capitéis e socos de pedra daqui, por três canteiros, sob a direção de um mestre, sendo um daqueles Joaquim Martins, português, e os outros fulanos Vidal, espanhóis. Avistei do calvário a horta, muito viçosa, tem bois para carreto e trezentos para corte. Compram o milho, agora, por 1 a 2$000 o alqueire, mas já chegou a 4, e o feijão a 7 ou 8, o saco. O carreto é necessariamente caro. Voltei de meu passeio por dentro da cozinha, que não é má, menos o fogão, que não é econômico. Visitei a farmácia, dirigida por um padre. Tem pequena enfermaria perto de cada dormitório e quartos para doentes graves. O médico, dr. Figueiredo, vem de quinze em quinze dias, quando não seja chamado para qualquer caso extraordinário e grave. O lugar passa por muito (?). As chuvas vêm do lado do N.O. Logo há sarau literário. Chegou hoje correio do Rio, com diários até 8 (dia). Reuniram-se os professores e os estudantes na capela que se constrói, iluminada com velas em lustres de papel. O espetáculo era muito belo. Dirigiram-me discursos em francês, Clavelin; latim e grego o grego de Constantinopla professor de história e geografia; hebraico, o padre Lacoste; espanhol, um empregado da casa, ex-oficial de cavalaria espanhol; inglês, o professor de inglês; português, o desta língua(13) e italiano; um estudante, Tertuliano Ribeiro de Almeida, que pronunciou tão mal como o de inglês. Cantaram uns versos franceses, antes de oferecerem um ramo com os versos acompanhados de flores pintadas, pelo professor de desenho, à imperatriz. Tocou a banda dos alunos, que é sofrível. São mais de 9h e vou deitar-me, que saio amanhã, logo que clarear. Ia me esquecendo de dizer que, na volta da represa, vi araucárias e disse-me Clavelin que, no tempo da visita do meu pai, ainda existia uma alameda delas plantadas pelo irmão Lourenço. Um repórter da Gazeta do Norte, que acompanhou a comitiva, e relatou(15) a homenagem a dona Cristina: Em seguida, o padre Antônio José Teixeira, um seminarista e três estudantes do colégio cantaram os seguintes versos, dedicados a S. M. a imperatriz: SIMPLES BUQUÊ À nossa Soberana / Oferecemos hoje / A vós, dos corações, a rainha / De nossos jardins o fruto. É um buquê / Simples e elegante / De flores da natureza / E do ardor de nosso coração / A mais pura imagem. Eis a violeta / Humilde pequena flor / Nela se reflete / Vossa amável doçura. Receba este ramo / Do jasmim cheiroso / Vossa mão delicada e branca / A quem sofre estender. O lírio do vale / Nos é outra dádiva, / Sua flor imaculada / Simboliza Bourbon. Aceitai esta rosa, / Rainha de todas as flores, / Tal como ela acaba de se abrir, / Vós reinais sobre os corações. E a flor que assim chamamos, / Lembrai-vos de mim, / Vos repetirá que em tudo / Vós tendes nossa fé. Ainda os arquivos do santuário do Caraça mais detalhes da visita:À noite, houve uma sessão solene, dentro da igreja ainda em construção. Ao imperador foram dirigidos discursos em nove línguas, aos quais Sua Majestade respondeu na língua em que foi saudado. Depois, houve apresentação de poesias, homenagem à imperatriz e execução de músicas pela banda do colégio.No dia 13, logo pela manhã, d. Pedro II e sua imperial comitiva desceram a serra, em direção a Catas Altas. Antes de sua partida, Sua Majestade deixou para o Caraça a importância de 500$000 de esmola para as obras da igreja, com a qual foi comprado o vitral central. Deixou também 400$000 para serem distribuídos aos pobres de São João do Morro Grande (hoje, Barão de Cocais).Além dessas doações, prometeu enviar um pintor para registrar em uma tela a beleza do Caraça, como ficou anotado no livro de crônicas da casa: Sua Majestade o Imperador, achando-se no adro da igreja, desenhou, por seu próprio punho, a lápis, as montanhas que ficam de frente à casa, tomando-lhe cuidadosamente todos os nomes. Prometera S. M. mandar da corte um pintor para tirar-lhe a vista da formosa cascata, que, em seus encantos, o maravilhara no caminho, como também a da casa e das serranias que a rodeiam, como lembrança de sua visita. Como forma de gratidão, o Caraça ofereceu ao imperador seu mais antigo livro: Crônica de Eusébio, de 1483, que encontra-se arquivado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

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Tipo: Arte sacra

SÃO PIO MARTIR VENERADO NA IGREJA DE NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS NO MOSTEIRO DO CARAÇA EM MINAS GERAIS RARA IMAGEM EM MADEIRA POLICORMADA E DOURADA ACONDIONADA EM REDOMA COM FEITIO DE ALTAR. O SANTO É REPRESENTADO COM SUAS VESTES DE CENTURIÃO ROMANO, COM CAPACETE, ESCUDO E ESPADA. TRATA´-SE DE INTERESSANTE OBRA DE DEVOÇÃO. MINAS GERAIS, SEC. XIX. 46 CM DE COMPRIMENTO (SANTO). 56 CM DE COMPRIMENTO (REDOMA)NOTA: A relíquia de São Pio compreende todo o corpo do santo revestido de cera, um cálice com sangue misturado a areia, unhas e dentes. As relíquias foram trazidas de Roma em 1792 para reforçar a religiosidade popular, além de confirmar os favores pontifícios concedidos ao Santuário do Caraça, nesta época merecedor das benesses do Papa Pio VI. A doação da relíquia teve como escopo papal a consolidação do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens como um aprisco de Cristo, longe daqueles que se achavam governados pelos interesses mundanos. Por essa época, estes rincões das Minas Gerais eram mananciais de vícios, superstições e beatices, onde havia potentados, sanguinários e devassos, que, contudo, não se descuidavam de que tinham alma, e, portanto, pensavam em sua salvação. O estudioso Romain Roussel conta que, desde os tempos mais recuados da Idade Média, certos fiéis peregrinos se deixaram seduzir pelas indulgências. Aqueles que viam a Vernicle (a imagem do Salvador gravada na toalha da Verônica, que se conserva em Roma) escreve o autor francês conseguiam beneficiar-se de uma redução de 9000 anos de purgatório, se vinham de um país vizinho, e de 12000 anos se atravessassem o mar (os moradores de Roma, em igual caso, não lucravam senão 3000 anos). No Caraça, os que vinham venerar as relíquias de São Pio Mártir tinham uma remissão de um terço de seus pecados. Relíquia reconhecida pela Sagrada Congregação das Indulgências São Pio Mártir é o primeiro corpo de santo vindo para o Brasil e o Irmão Lourenço o recebeu como oferta da Santa Sé para a glória do seu Santuário. Foi um favor extraordinário a doação desta insigne relíquia. A Autêntica dessa relíquia consta de documento, datado e assinado em Roma, aos 9 de julho de 1792. Era um soldado romano morto por professar a fé cristã, cujo corpo foi encontrado na Catacumba de Santa Ciríaca. Recebeu, na doação ao Caraça, o nome de Pio em homenagem ao Papa Pio VI que governava a Igreja na época. As relíquias de São Pio chegaram ao Caraça em 16 de maio de 1797, vindas da arquidiocese de Mariana, para onde foi enviada pelo Vaticano, para posteriormente serem entregues ao Irmão Lourenço, o eremita do Santuário do Caraça. As relíquias, tão logo chegaram ao Santuário, no alto da Serra, foram colocadas num altar barroco, do lado esquerdo da igreja, especialmente construído para servir de morada última àquele soldado romano que sucumbiu ao terror de Roma em nome da fé cristã. Dois séculos depois, em 16 de maio de 1992, nas comemorações do bi-centenário da entronização da relíquia no Santuário, a preciosidade foi transferida, após ter ficado nas tribunas da igreja neogótica, para o altar das celebrações, com o objetivo de facilitar a visitação e instrução dos fiéis e para que assim se cumprisse o desejo do Irmão Lourenço e do Vaticano. Os restos mortais de São Pio emprestam ao Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens ares de religiosidade plena, até então só testemunhada nas sombrias catacumbas romanas. Reedita-se assim, no Caraça, uma prática comum nos primeiros séculos da Igreja, quando nas catacumbas se celebrava a Santa Missa sobre o túmulo dos Mártires. Hoje, no Caraça, sobre o corpo de São Pio Mártir, faz-se o mesmo, pedindo a Deus fidelidade à graça do batismo e heroísmo até a morte, se necessário for. O Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Thereza Cristina visitaram o Santuário por ocasião de sua visita a Minas Gerais. Assim foi a viagem do casal imperial:O casal imperial d. Pedro II e dona Tereza Cristina, partiram do Rio de Janeiro, no dia 21.03.1881, sábado, às 6 horas da manhã, para conhecer Minas Gerais. O imperador cuidou de escrever um diário de viagem e também a imprensa deu grande cobertura à visita. Parte desses acontecimentos são aqui revividos em continuação ao anterior. No dia 11 de abril, à noitinha, a caravana havia atingido um dos pontos mais aguardados da viagem, o colégio do Caraça. O dia seguinte foi dedicado a conhecer o famoso educandário. 12 (terça-feira) Acordei às 6h. Fui tomar banho no rio. De volta, admirei as montanhas por detrás da casa, entre as quais a chamada Carapuça. Esqueci-me de falar ontem da bonita aldeola do Sumidouro, antes de subir a serra. As casas pequenas, com seus quintais floridos, estavam caiadas de novo e tudo respirava alegria. O nome de Caraça provém ou da forma de caraça de uma das montanhas ou de um português que morou perto da serra, a que davam a alcunha de Caraça. Assim ouvi do padre Clavelin. Referiu-me ele que se supunha que frei Lourenço, terceiro de São Francisco e fundador do Caraça pertencia à família Távora e, por isso, fugira para o Brasil. O capitão-general de Minas, Bernardo José Lorena, tratava-o com muita estima e deixou-lhe uma baixela. Acharam o testamento de frei Lourenço, que parece desmentir a lenda dos Távoras. Frei Lourenço comprou a primeira terra a faiscadores, doou-a a d. João VI, que mandou vir frei Leandro e Viçoso, a quem deu a terra, com o princípio de edificação da capela que se constrói no lugar da antiga, construída por frei Lourenço. Seis janelas de cada lado que fizera frei Lourenço. Depois houve uma licença de meu pai para adquirirem mais terra e, enfim, há pelo menos uma que possui a congregação, sob o nome de outrem. Respondi a Clavelin que era preciso regularizar a situação. Todo o terreno forma quase um círculo de um e meio de diâmetro. Na saleta onde escrevo há bons livros pertencente ao padre Clavelin, ou padre Sipolis, alguns de história natural. São quase 8h e vou para a missa que disse* (*celebrará) Clavelin no refeitório anterior ao atual. A casa tem um pequeno pátio com algumas flores, feto (samambaia) arborecente. Estive na biblioteca, onde achei bons livros e edições antigas, chamando minha atenção a Crônica de Eusébio, de 1483; Veneza, impressor Arnoldt Augustensis. Há aí uma pequena coleção de minerais, quase todos de Minas. Altura do Caraça sobre o nível do mar 1.300m, pelo ipsômetro de Gorceix. Aqui dizem que são 1.600. O maior frio foi já de mais 4ºC e o calor de 23 a 25. Depois fui para as aulas. Comecei pela de direito canônico. Tive que protestar contra o modo por que o professor Chavana)combatia o direito do placet. Depois ele estranhou que um monarca católico protestasse contra a doutrina e eu tive de dizer que, talvez, fosse mais católico do que ele e era tolerante, quando ele se mostrava intolerante. Expliquei sempre ao padre Clavelin, que parece-me excelente pessoa, como eu ressalvava o direito unicamente contra abusos de autoridade eclesiástica, que não deviam ficar dependentes da única apreciação daquela. Assisti a todas as classes, onde gostei, em geral, do modo por que os estudantes respondiam; desagradando-me as de álgebra e aritmética. Os professores, a meu pedido, chamavam os mais adiantados. O filho do Peixoto de Souza, de Caeté, não traduziu e regeu mal Justinus. Enquanto jantavam, fui ver a oficina do padre Boavida, que está fora missionando. Admirei aí o seu trabalho de órgão. A madeira preta das teclas é belíssima. Visitei outra partes do estabelecimento. As interrogações nas classes terminam às 4. Jantar. Subida ao pequeno morro de pedra do Calvário, de onde a vista é belíssima, sobretudo do lado da montanha da Carapuça, com matizes róseos e violáceos do por do sol. Olhei bem para todas as montanhas que cercam o edifício. Ontem, mostraram-me o pau de jacarandá a que se arrimava o irmão Lourenço e não Fr., quando Saint-Hilaire o viu aqui. Fui depois por um caramanchão onde está o chamado quiosque, até a represa de água em que espelhava a lua. A noite está belíssima. O edifício, para maior largueza dos alunos, carece ainda de bastantes obras. Tem gasto já bastante com a igreja, que ficará muito elegante. Vi muitos bem feitos capitéis e socos de pedra daqui, por três canteiros, sob a direção de um mestre, sendo um daqueles Joaquim Martins, português, e os outros fulanos Vidal, espanhóis. Avistei do calvário a horta, muito viçosa, tem bois para carreto e trezentos para corte. Compram o milho, agora, por 1 a 2$000 o alqueire, mas já chegou a 4, e o feijão a 7 ou 8, o saco. O carreto é necessariamente caro. Voltei de meu passeio por dentro da cozinha, que não é má, menos o fogão, que não é econômico. Visitei a farmácia, dirigida por um padre. Tem pequena enfermaria perto de cada dormitório e quartos para doentes graves. O médico, dr. Figueiredo, vem de quinze em quinze dias, quando não seja chamado para qualquer caso extraordinário e grave. O lugar passa por muito (?). As chuvas vêm do lado do N.O. Logo há sarau literário. Chegou hoje correio do Rio, com diários até 8 (dia). Reuniram-se os professores e os estudantes na capela que se constrói, iluminada com velas em lustres de papel. O espetáculo era muito belo. Dirigiram-me discursos em francês, Clavelin; latim e grego o grego de Constantinopla professor de história e geografia; hebraico, o padre Lacoste; espanhol, um empregado da casa, ex-oficial de cavalaria espanhol; inglês, o professor de inglês; português, o desta língua(13) e italiano; um estudante, Tertuliano Ribeiro de Almeida, que pronunciou tão mal como o de inglês. Cantaram uns versos franceses, antes de oferecerem um ramo com os versos acompanhados de flores pintadas, pelo professor de desenho, à imperatriz. Tocou a banda dos alunos, que é sofrível. São mais de 9h e vou deitar-me, que saio amanhã, logo que clarear. Ia me esquecendo de dizer que, na volta da represa, vi araucárias e disse-me Clavelin que, no tempo da visita do meu pai, ainda existia uma alameda delas plantadas pelo irmão Lourenço. Um repórter da Gazeta do Norte, que acompanhou a comitiva, e relatou(15) a homenagem a dona Cristina: Em seguida, o padre Antônio José Teixeira, um seminarista e três estudantes do colégio cantaram os seguintes versos, dedicados a S. M. a imperatriz: SIMPLES BUQUÊ À nossa Soberana / Oferecemos hoje / A vós, dos corações, a rainha / De nossos jardins o fruto. É um buquê / Simples e elegante / De flores da natureza / E do ardor de nosso coração / A mais pura imagem. Eis a violeta / Humilde pequena flor / Nela se reflete / Vossa amável doçura. Receba este ramo / Do jasmim cheiroso / Vossa mão delicada e branca / A quem sofre estender. O lírio do vale / Nos é outra dádiva, / Sua flor imaculada / Simboliza Bourbon. Aceitai esta rosa, / Rainha de todas as flores, / Tal como ela acaba de se abrir, / Vós reinais sobre os corações. E a flor que assim chamamos, / Lembrai-vos de mim, / Vos repetirá que em tudo / Vós tendes nossa fé. Ainda os arquivos do santuário do Caraça mais detalhes da visita:À noite, houve uma sessão solene, dentro da igreja ainda em construção. Ao imperador foram dirigidos discursos em nove línguas, aos quais Sua Majestade respondeu na língua em que foi saudado. Depois, houve apresentação de poesias, homenagem à imperatriz e execução de músicas pela banda do colégio.No dia 13, logo pela manhã, d. Pedro II e sua imperial comitiva desceram a serra, em direção a Catas Altas. Antes de sua partida, Sua Majestade deixou para o Caraça a importância de 500$000 de esmola para as obras da igreja, com a qual foi comprado o vitral central. Deixou também 400$000 para serem distribuídos aos pobres de São João do Morro Grande (hoje, Barão de Cocais).Além dessas doações, prometeu enviar um pintor para registrar em uma tela a beleza do Caraça, como ficou anotado no livro de crônicas da casa: Sua Majestade o Imperador, achando-se no adro da igreja, desenhou, por seu próprio punho, a lápis, as montanhas que ficam de frente à casa, tomando-lhe cuidadosamente todos os nomes. Prometera S. M. mandar da corte um pintor para tirar-lhe a vista da formosa cascata, que, em seus encantos, o maravilhara no caminho, como também a da casa e das serranias que a rodeiam, como lembrança de sua visita. Como forma de gratidão, o Caraça ofereceu ao imperador seu mais antigo livro: Crônica de Eusébio, de 1483, que encontra-se arquivado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Informações

Lance

Termos e Condições
Condições de Pagamento
Frete e Envio
  • TERMOS E CONDIÇÕES

    1ª. As peças que compõem o presente LEILÃO, foram cuidadosamente examinadas pelos organizadores que, solidários com os proprietários das mesmas, se responsabilizam por suas descrições.

    2ª. Em caso eventual de engano na autenticidade de peças, comprovado por peritos idôneos, e mediante laudo assinado, ficará desfeita a venda, desde que a reclamação seja feita em até 5 dias após o término do leilão. Findo o prazo, não será mais admitidas quaisquer reclamação, considerando-se definitiva a venda.

    3ª. As peças estrangeiras serão sempre vendidas como Atribuídas.

    4ª. O Leiloeiro não é proprietário dos lotes, mas o faz em nome de terceiros, que são responsáveis pela licitude e desembaraço dos mesmos.

    5ª. Elaborou-se com esmero o catálogo, cujos lotes se acham descritos de modo objetivo. As peças serão vendidas NO ESTADO em que foram recebidas e expostas. Descrição de estado ou vícios decorrentes do uso será descrito dentro do possível, mas sem obrigação. Pelo que se solicita aos interessados ou seus peritos, prévio e detalhado exame até o dia do pregão. Depois da venda realizada não serão aceitas reclamações quanto ao estado das mesmas nem servirá de alegação para descumprir compromisso firmado.

    6ª. Os leilões obedecem rigorosamente à ordem do catalogo.

    7ª. Ofertas por escrito podem ser feitas antes dos leilões, ou autorizar a lançar em seu nome; o que será feito por funcionário autorizado.

    8ª. Os Organizadores colocarão a título de CORTESIA, de forma gratuita e confidencial, serviço de arrematação pelo telefone e Internet, sem que isto o obrigue legalmente perante falhas de terceiros.

    8.1. LANCES PELA INTERNET: O arrematante poderá efetuar lances automáticos, de tal maneira que, se outro arrematante cobrir sua oferta, o sistema automaticamente gerará um novo lance para aquele arrematante, acrescido do incremento mínimo, até o limite máximo estabelecido pelo arrematante. Os lances automáticos ficarão registrados no sistema com a data em que forem feitos. Os lances ofertados são IRREVOGÁVEIS e IRRETRATÁVEIS. O arrematante é responsável por todos os lances feitos em seu nome, pelo que os lances não podem ser anulados e/ou cancelados em nenhuma hipótese.

    8.2. Em caso de empate entre arrematantes que efetivaram lances no mesmo lote e de mesmo valor, prevalecerá vencedor aquele que lançou primeiro (data e hora do registro do lance no site), devendo ser considerado inclusive que o lance automático fica registrado na data em que foi feito. Para desempate, o lance automático prevalecerá sobre o lance manual.

    9ª. O Organizador se reserva o direito de não aceitar lances de licitante com obrigações pendentes.

    10ª. Adquiridas as peças e assinado pelo arrematante o compromisso de compra, NÃO MAIS SERÃO ADMITIDAS DESISTÊNCIAS sob qualquer alegação.

    11ª. O arremate será sempre em moeda nacional. A progressão dos lances, nunca inferior a 5% do anterior, e sempre em múltiplo de dez. Outro procedimento será sempre por licença do Leiloeiro; o que não cria novação.

    12ª. Em caso de litígio prevalece a palavra do Leiloeiro.

    13ª. As peças adquiridas deverão ser pagas e retiradas IMPRETERIVELMENTE em até 48 horas após o término do leilão, e serão acrescidas da comissão do Leiloeiro, (5%). Não sendo obedecido o prazo previsto, o Leiloeiro poderá dar por desfeita a venda e, por via de EXECUÇÃO JUDICIAL, cobrar sua comissão e a dos organizadores.

    14ª. As despesas com as remessas dos lotes adquiridos, caso estes não possam ser retirados, serão de inteira responsabilidade dos arrematantes. O cálculo de frete, serviços de embalagem e despacho das mercadorias deverão ser considerados como Cortesia e serão efetuados pelas Galerias e/ou Organizadores mediante prévia indicação da empresa responsável pelo transporte e respectivo pagamento dos custos de envio.

    15ª. Qualquer litígio referente ao presente leilão está subordinado à legislação brasileira e a jurisdição dos tribunais da cidade de Campinas - SP. Os casos omissos regem-se pela legislação pertinente, e em especial pelo Decreto 21.981, de 19 de outubro de 1932, Capítulo III, Arts. 19 a 43, com as alterações introduzidas pelo Decreto 22.427., de 1º. de fevereiro de 1933.

  • CONDIÇÕES DE PAGAMENTO

    A vista com acréscimo da taxa do leiloeiro de 5%.
    Através de depósito ou transferência bancária em conta a ser enviada por e-mail após o último dia do leilão.
    Não aceitamos cartões de crédito ou débito.
    O pagamento deverá ser efetuado até 72 horas após o término do leilão sob risco da venda ser desfeita.

  • FRETE E ENVIO

    As despesas com retirada e remessa dos lotes, são de responsabilidade dos arrematantes. Veja nas Condições de Venda do Leilão.
    Despachamos para todos os estados. A titulo de cortesia a casa poderá embrulhar as peças arrematadas e providenciar transportadora adequada